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Chile: Protesto estudantil contra redução de horas de Ciências Sociais

Categorias: América Latina, Chile, Educação, Mídia Cidadã, Política, Protesto
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Imagem do autor, Juan Arellano

Não faz muito tempo que os estudantes chilenos foram notícia por causa de uma caminhada de mais de mil quilômetros [2] realizada para protestar por qualidade e contra os custos da educação em seu país. Entretanto, recentemente [3], uma decisão das autoridades educacionais inflamou o debate ao reduzir as horas de sala de aula dedicadas a temas de Ciências Sociais para aumentar as dedicadas às matemáticas e à linguagem. Isso é parte de uma reforma educacional [4] [es] proposta pelo presidente Sebastián Piñera [5]. Um post [6] [es] no blog Sebastián Piñera E. en la Presidencia de Chile ressalta que com o projeto serão geradas importantes mudanças curriculares:

“Con este proyecto, se incrementará la subvención escolar preferencial para los alumnos más vulnerables hasta casi duplicar la subvención regular y generará cambios curriculares para fortalecer el aprendizaje, incluyendo más horas de lenguaje y matemáticas.”

“Esta reforma se hace cargo del momento, y apuesta por el uso de las nuevas tecnologías en las salas de clases y en los hogares, ya que habrá material pedagógico disponible en forma gratuita por internet”

“Com este projeto, será incrementada uma concessão escolar preferencial aos alunos mais vulneráveis até praticamente duplicar a concessão regular, e serão geradas mudanças curriculares para fortalecer a aprendizagem ao incluir mais horas de linguagem e matemáticas.”

“Esta reforma leva em consideração o momento e aposta no uso de novas tecnologias em salas de aula e em casa, já que material pedagógico será disponibilizado gratuitamente na internet.”

A despeito desses pontos interessantes, Cristián Cox, diretor do Centro de Estudos de Políticas e Práticas em Educação [7] [es], expressou sua opinião [8] [es] especificamente contrária à mudança curricular em sacrifício das ciências sociais no jornal La Tercera:

Historia y Ciencias Sociales es el área que organiza los contenidos y experiencias de aprendizaje para la convivencia con los otros, cercanos y distantes, que ofrece los relatos fundamentales de lo que somos como nación, y que genera los fundamentos tanto de la lealtad con el orden político como de su crítica. Es, en suma, el área de la experiencia escolar que forma para el civismo y la ciudadanía. Aquí no basta “dictar materia”: lo que el currículum plantea es el trabajo de documentación histórica, discusión de evidencias y marcos interpretativos, producción de ensayos y debates. Todas actividades que requieren más tiempo, no menos, que la pedagogía tradicional. Junto con el recorte objetivo de 200 horas, el mensaje es claro: la formación ciudadana no es importante.

História e Ciências Sociais compõem uma área que organiza conteúdos e experiências de aprendizagem para a convivência com os outros, próximos e distantes, que oferece relatos fundamentais de o que somos como nação, e que gera fundamentos tanto de lealdade como de crítica à ordem política. É, em suma, a área da experiência escolar que forma para o civismo e a cidadania. E não basta “ditar a matéria”: o que o currículo propõe é o trabalho de documentação histórica, discussão de evidências e marcos interpretativos, produção de ensaios e debates. Todas as atividades demandam mais tempo, e não menos, que a pedagogia tradicional. Junto ao corte objetivo de 200 horas, a mensagem é clara: a formação cidadã não é importante.

Gonzalo Tapia, em seu blog no jornal El Día, manifestou sua opinião sobre todo o pacote de medidas educacionais do presidente Piñera, do qual a redução de horas faz parte, expressando que [9] [es]:

- Aumento en las horas de clases en Lenguaje y Matemáticas. Concuerdo plenamente con ello, es necesario, pero debe buscarse otros mecanismos para ajustar el Plan de Estudios, nunca en desmedro de la asignatura de Historia. Jamás.

- Aumento das horas de aulas em Linguagem e Matemáticas. Concordo plenamente com isso, é necessário, mas deve-se buscar outros mecanismos para ajustar o Plano de Estudos, nunca em sacrifício das aulas de História. Jamais.

Devido a tudo isso, um grupo de professores, acadêmicos, estudantes e autoridades entrou em acordo para realizar uma marcha de protesto [10] [es] em Santiago para manifestar seu rechaço à diminuição da carga horária de História nas escolas. Dias antes, estudantes das universidades de La Serena e Pedro de Valdivia  já haviam marchado em protesto [11] [es] pelo mesmo tema. Seguramente, no entanto, não imaginaram que seriam severamente reprimidos por “carabineros” (policiais locais). A seguir, os vídeos da marcha:

A manifestação terminou com 15 pessoas detidas [12] [es], embora outros falem de apenas 5 [13] [es]. Em manifestação poucos dias antes, um fotógrafo fora detido [14] [es]. No blog Correo SR, publicou-se um comunicado [15] da Faculdade de Filosofia e Humanidades UCH sobre a marcha, na qual, entre outras coisas, dizem que:

Cabe señalar que los manifestantes en todo momento marcharon por la vereda del sector sur de la Alameda, tal como había sido acordado … con el Capitán Rodríguez de la Prefectura Central de Carabineros. […]

Mientras se sucedían los últimos discursos en un clima entusiasta pero sereno, una delegación de diez académicos … se dirigió a las dependencias del MINEDUC a hacer entrega de la Declaración … pero cuando se encontraban haciendo ese trámite, estallaron incidentes debido a la actitud de los efectivos de Fuerzas Especiales de Carabineros presentes en el lugar que, desconociendo el acuerdo previo … pretendieron -sin que mediara la más mínima provocación por parte de los manifestantes- que los centenares de personas reunidas en el bandejón central de la Alameda despejaran el lugar.

Testigos presenciales, entre ellos varios académicos de la Universidad de Chile y de otras universidades, aseveran que apenas la delegación de profesores se encaminó al Ministerio, los carabineros empezaron a hacer uso del carro lanzaaguas y de gases lagrimógenos para disolver a quienes pretendían seguir manifestándose pacíficamente sin molestar ni interrumpir el tránsito de vehículos ni de peatones.

É bom ressaltar que os manifestantes marcharam todo o tempo pelo caminho do setor sul da Alameda, tal como havia sido acordado … com o Capitão Rodríguez da Prefeitura Central de Carabineros.

Enquanto eram proferidos os últimos discursos com entusiasmo, mas serenos, uma delegação de dez acadêmicos … se dirigiu às dependências do MINEDUC (Ministério da Educação) para entregar a Declaração … mas quando faziam esse trâmite, ocorreram incidentes devido à atitude dos efetivos das Forças Especiais dos Carabineros no local, que, a desconhecer o acordo prévio …, agiram para que – sem que houvesse uma mínima provocação da parte dos manifestantes – as centenas de pessoas reunidas no canteiro central da Alameda evacuassem a área.

Testemunhas, entre elas vários acadêmicos da Universidade do Chile e de outras universidades, asseguraram que foi só a delegação de professores se encaminhar ao Ministério, que os carabineros começaram a usar jatos d'água e gás lacrimogênio para dispersar aqueles que pretendiam continuar se manifestando pacificamente, sem atrapalhar nem interromper o tráfego de veículos ou pedestres.

A oposição política chilena (“La Concertación” [16] [es]), está sendo bastante crítica [17] [es] à reforma educacional proposta pelo governo de Piñera. Mas não se trata simplesmente de uma oposição em si; no El Quinto Poder podemos ver por meio da tag “educación [18]” os artigos mais recentes dedicados ao tema desta reforma educacional, e há argumentos de peso para, pelo menos, meditar un pouco mais a respeito de sua aplicacão em certos pontos. Vale mencionar que a página no Facebook “No a la reduccion de horas en Historia y Ciencias Sociales [19]” [es] já conta com 11,625 seguidores até este momento.

O autor Juan Arellano esteve em Santiago durante o protesto e filmou os dois vídeos deste post. Este post foi adaptado para o Global Voices; o post original se encontra no Globalizado [20] [es].