Brasil: internautas reagem à nova onda de violência no Rio de Janeiro

Uma onda de violência tem assustado os moradores da cidade do Rio de Janeiro. Além de arrastões, carros incendiados, bombas, tiroteios os bandidos têm também atacado cabines da polícia. Os violentos ataques trazem a tona a velha discussão da segurança na cidade. Uma grande onda de pânico, em parte estimulada pela grande mídia, traz também a tona um novo problema, a alta proliferação de boatos falsos pela internet.  A blogosfera e a twitosfera começam a se perguntar a razão dos ataques, a veracidade dos fatos e exigem providências.

Veja um mapa dos ataques ocorridos que vem sendo atualizado constantemente:


Visualizar Ataques no Rio a e reação da polícia em um mapa maior

O mapa mostra que os ataques estão acontecendo pela cidade toda e que vão se deslocando ou diminuindo de acordo com as intensas operações policiais. Um grande ataque foi anunciado para o sábado, o que gerou numa aceleração das operações, principalmente na Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão.

Às 21 horas horário local do dia 25/11, sete dos dez trending topics do twitter no Brasil eram sobre temas relativos a situação no Rio de Janeiro, sendo eles em ordem crescente:

#BOPE [Batalhão de Operações Policiais Especiais]

#rio

#paznorio

#Vila Cruzeiro [Local invadido pelos traficantes em fuga pelos ataques]

#Pimentel [Capitão Rodrigo Pimentel, delegado e co-autor do filme Tropa de Elite]

#Cabral [Governador do Estado do Rio de Janeiro]

#Marinha [Sendo citada por estar auxiliando inclusive com empréstimo de equipamentos, como tanques recém comprados iguais aos utilizados no Iraque]

No trending topics mundial, #BOPE está em terceiro lugar, seguido por #Vila Cruzeiro e #Pimentel.

As opiniões sobre o que está ocorrendo no Rio de Janeiro divergem:

mitsudiz Enquanto isso a Tijuca caga pro pânico midiático. A galera aqui é treinada desde 2001 a diferenciar psicopatia coletiva de guerra civil.

jasomcox Agora surgem boatos que tem arrastão e tiroteiro em cada canto do RJ, ó ta rolando um aqui no play do meu predio

@danielefranco: É mto bom ver os amigos tuitando dizendo que chegaram bem em casa! #Alivio

@LiraBellaquaa violência tá mais do que presente. Passei o dia todo ouvindo sirenes. Isso é a realidade

@celsoathayde amanha nova guerra anunciada no complexo. a Policia vai lá fazer o seu trabalho, o crime vai contra atacar e moradores vão morrer #ilógico

"Tanque de Guerra aqui perto de casa #MEDO"- do usuário do Twitpic BrunoFq

A demanda em saber o que é verdade ou não, que área está sendo atacada ou não, fez com o Twitter do @casodepolicia, que lançou duas hashtags #everdade e #eboato, em que verificam em tempo real as informações denunciadas pela web, atingisse 10.000 seguidores no quinto dia de terror na cidade do Rio de Janeiro.

A cobertura das grandes emisssoras vem sendo criticada através do twitter. A própria conta do BOPE, segundo o blog do Knight Center, criticou a cobertura de algumas emissoras, por estarem atrapalhando as operações [os tweets da conta do BOPE foram apagados]:

Usuários usaram o hashtag #globocop para comentar a cobertura das emissoras no site de microblogs. “A #Globo fica dedurando o esquema tático do Bope!”, reclamou uma internauta. “Se o #globocop não estivesse ali o helicóptero do Bope ia chegar fazendo tiro ao alvo”, comentou outro.

Dentre as possíveis razões para o recente aumento dos ataques é a ideia de uma represália à instalação de UPPs (Unidades Pacificadoras de Polícia). As UPPs começaram a ser instaladas há quase dois anos na tentativa de retirar os traficantes do morro e “trazer a paz” aos moradores através da instalação de uma unidade de polícia em um ponto estratégico da favela. Parte da população realmente acredita que as UPPs estão ajudando a controlar o problema, já outros se perguntam se seria assim tão simples “expulsar os bandidos”. A pergunta principal seria, para onde foram estes bandidos quando expulsos pela instalação das UPPs? Siron Nascimento, citado pelo blog Vi O Mundo, responde:

O governo do Estado ocupou algumas poucas favelas, com resultados positivos em algumas, anunciou sua política pacificadora e dormiu em seus louros. Ora, os bandidos abandonaram as favelas das UPPs e foram para onde? Alguns para a Baixada Fluminense e Baixada Gonçalina. Outros deslocaram suas atividades do tráfico para crimes de outro tipo. Assaltos, invasões de edifícios, arrastões como os que vemos agora.

No mesmo blog o comentário de um leitor sobre o mesmo tema das UPPs:

É preciso perguntar: UPP dá certo? só isso basta? sem inteligência se combate o crime, prende bandido e retira suas armas?

É necessário fazer um raio-x da política de segurança pública do Cabral [Governador do Estado do Rio de Janeiro]. A UPP não é ocupação social. É ocupação militar. Não tem nenhum civil desempenhando qualquer função nas upps. Ia ter um concurso para assistente social, psicólogo, advogado etc para as UPPs e foi cancelado. E os bandidos, para onde foram? E suas armas?

Há quem discorde da “tese” de que os ataques tenham sido uma resposta àss UPPs, como Gustavo Barreto, do Consciência:

Os principais chefes da Polícia Militar do Rio de Janeiro e a Secretaria de Segurança Pública vendem a tese deplorável de que os atentados são uma ‘reação às políticas das UPPs’, e a velha mídia simplesmente engole. O curioso é que as UPPs estão presentes em 13 favelas, de um universo de 1.000 existentes no Rio e região metropolitana. Imagina quando chegarem a 20, 30! Melhor mudar para Miami de uma vez.

O mais interessante disso tudo é que, boa parte das violências denunciadas após esta série ataques já eram corriqueiras anteriormente. Ouvir tiroteio não é exatamente uma novidade no Rio de Janeiro. O que acontece de diferente neste momento é tudo está acontecendo na mesma hora e que tudo está sendo dito, denunciado, averiguado como parte de um único grande problema. A população está tentando falar e ser ouvida (seja pelo Disque Denúncia ou pelo Twitter), levada a sério e a polícia também. Quando uma pessoa denuncia através de um tweet, vê sua denúncia sendo averiguada, sabe de uma ação da polícia, isto não só estimula a participação da população, como dá credibilidade à polícia. Todo mundo sai ganhando.

@MatheusXLima Muito legal a policia estar agindo contra o trafico no #RiodeJaneiro

@cibele2011 Eu amo o Rio de Janeiro.É surreal o q aparece na mídia, mas finalmente tá acontecendo o q deveria,a polícia agindo como polícia.

O que a população espera na verdade é que as forças policiais consigam de fato deter essa série de ataques e que isto sirva de ajuda para solucionar de vez problemas de violência na cidade, e que essa onda de violência ajude pelo menos a uma reavaliação das ações do governo resultando em uma real estratégia de pacificação da cidade. Os problemas devem ser solucionados para que a população do Rio de Janeiro pare de viver com medo e não para que possamos sediar grandes eventos com segurança, como a Copa do Mundo em 2014 ou as Olimpíadas em 2016, sempre citadas pela mídia internacional ao falar da situação atual do Rio de Janeiro. A hora agora é de pensar no local e não no global.

@andersonaragao1 Engraçado… o RJ se acabando na violencia e a preocupação mais aparente do governo e da imprensa é com a imagem da sede da copa…

@ALB_Whiite como que o brasil quer sediar copa do mundo se não dá conta nem da violencia q ocorre no rio?alguêm me explica isso???

@NOGALMEIDA N sei como o Brasil quer sediar a copa com tanta violência!Os jornais apenas revelam o que nossos queridos governantes tetam esconder!:)

Estátua do Cristo Redentor, importante ponto turístico da cidade, com aparência preocupada – Imagem de @tcherol disponibilizada pelo Twitpic

10 comentários

  • […] This post was mentioned on Twitter by Diego Casaes and Raphael Tsavkko, GV Lusofonia. GV Lusofonia said: Brasil: internautas reagem à nova onda de violência no Rio de Janeiro: Uma onda de violência tem assustad… http://bit.ly/fuiul1 #gvopt […]

  • Paola

    Bandidos fogem dos morros e se dividem em cidades do rio de janeiro
    Enquanto os policiais ainda realizam operações procurando nos morros

  • Anderson de salvador/ bahia

    Eu particularmente,acho que terror tem que se combater com terror,e uma guerra urbana em que o crime organizado desafia o estado. a lei tem que mudar, a biblia diz quem com ferro fere com fero sera ferido.proteger a populaçao de bem,e morte aos criminosos.

  • salvatore carrozzo

    Uma grande onda de pânico, em parte estimulada pela grande mídia, traz também a tona um novo problema” ..fico irritado com comentarios como esse!!! O trabalho da midia è cobrir, contextualizar e informar! O que querem? Que nao cubram? Que nao filmem? Que nao escrevam? Eh a midia que cria a violencia? Ah, discurso pequeno, viu? AGora tudo eh culpa da midia..meu deus…

  • Romualdo

    Autoridades Policiais e Coronéis de Polícia necessitam para trabalharem , seriamente , com tranquilidade. das garantias constitucionais do Ministério Público,todos fiscalizados pelo último;todavia sem o treinamento adequado,a limitação de material bélico ,bem como treinamento sério com ele;treinamento de auto defesa,como o krav magá,etc,continuarão a solicitar,infindavelmente a ajuda das forças armadas;a polícia precisa ficar independente,visto serem os especialistas em neutralizar o crime;as forças armadas na guerra propriamente dita;policiais tem que registrar armas,todavia cada tipo de ação policial pode exigir um tipo de arma ou munição diferente,bem como armas não letais;é preciso se repensar,caros parlamentares,antes que a deliocracia se instale nos tornando neuróticos de guerrilha e nossos filhos zumbis do nacotrásfico ou vítimas tanatoscópicas-ACÓRDA BRASIL.

  • oi Salvatore :)

    você como jornalista, acho que é, não é? Deve estar bem consciente de que existem “mídias” e “mídias”. A gente ta aqui o tempo todo falando de “mídia”, seja da grande, da cidadã ou de qualquer que seja. “Informar” é a função, mas convenhamos que não são todas as mídias que informam, tem muita que desinforma. É só não generalizar, nem de cá, nem lá, nem de parte alguma. Não tem santo em lugar nenhum, muito menos na mídia.
    abraços!

  • salvatore carrozzo

    ola, debora..sim, sou jornalista. e tb acho que nao devemos generalizar. Justamente por isso que me revolto qnd falam da “grande midia”. Trabalho em um grande veiculo e deixo meu couro la pq acredito no jornalismo, em cuidado com os detalhes etc. eh necessario dar nomes aos boi quando vai acusar alguem de algo!

  • oi Salvatore,

    a “grande mídia” aqui nesse caso são vários bois, alguns maiores, outros menores, mas principalmente aquela que ameaça a segurança pública com sua cobertura que atrapalha o trabalho da polícia. A coisa no Rio está bastante séria e não é hora de discutir liberdade de imprensa e se preocupar com a mídia ter direito a isso ou aquilo, entende? Bom, é o meu ponto de vista. Que fique claro que não tenho nada contra imprensa ou jornalista, só acho mesmo que em questões de segurança pública (o que sempre esteve em questão aqui), a imprensa deve colaborar e isso muitas vezes significa não divulgar com seu helicóptero onde a polícia operando… A quem isso vai ajudar? Acho que nessa você deve concordar. Encerro por aqui.
    abraços
    Debora

  • O que é temível e também triste é ver que muitos irão pagar o ônus para que a situação seja “normalizada”. “se muitos direitos não são garantidos às pessoas que moram nesses lugares, muitos serão violados para que a Paz e a segurança retorne”.

    é trágico e triste

  • […] post was originally published at Global Voices Online Portuguese. The English version was translated by Janet Gunter. Follow this […]

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