Em 31 de agosto de 2010, o Jornal do Brasil (JB) anunciou o fim de suas ediçõesi mpressas e a migração para uma versão 100% online. O dono do Jornal, Nelson Tanure, assim como seus últimos editoriais, elogiavam a iniciativa e a consideravam como um passo a frente no caminho do futuro, enquanto por outro lado, os trabalhadores do JB protestavam contra o que poderia ser o primeiro passo no caminho do encerramento definitivo de um dos mais antigos jornais brasileiros.
Fundado em 1991, o JB foi um dos jornais mais importantes do Brasil no final do século 19 e durante a maior parte do século 20. Foi também o primeiro jornal a ter um site no país e publicar seu conteúdo online, em 1995. Vários dos mais notáveis jornalistas brasileiros fizeram parte de seu time e, de acordo com o deputado federal Brizola Neto, houve um tempo em que o JB era sinônimo de credibilidade:
“Deu no JB”, por muitos anos, foi uma frase que lembrava o tom de credibilidade de um “deu no NY Times”

Capa de 14 de dezembro de 1968, logo após o Ato que institucionalizou a censura no Brasil, do Último Segundo
No Twitter, internautas como @zamuna47 comentaram sobre o papel importante que teve o JB durante o golpe militar (1964) e na Ditadura que se seguiu (até 1985). Alberto Dines – editor do JB na época – declarou no Observatório de Imprensa que no fim dos anos 60 e início dos 70, “mesmo com a ditadura e a censura como pano de fundo”, o JB era um jornal bastante competitivo, se referindo a um “confronto jornalístico final” entre o JB e O Globo – um dos maiores jornais do país -, no que ele chama de “encontro de gigantes, disputa de qualidade”. Então ele lamenta a forma pela qual o JB anunciou seu fim:
o fim do JB impresso foi confirmado na edição de quarta-feira (14/7) sob a forma de anúncio, publicidade. Aquela Casa não acredita em texto. E o seu jornal morreu sem epitáfio.
Brizola Neto, em um vídeo postado no Vi o Mundo, relembra um episódio em 1982, quando jornalistas do JB “ajudaram a desfazer uma tentativa de fraude nas eleições estaduais do Rio de Janeiro, vencidas pelo avô dele, Leonel Brizola”. Em seu blog, Neto explica o que ele acredita que está pro trás do fim do JB em versão impressa:
Dizem que neste embate ao império global esteve parte do motivo da decadência do JB. Contam que o departamento comercial de O Globo era extremamente agressivo e avançava sobre os anunciantes do concorrente, propondo publicidade casada com outras publicações das Organizações Globo, numa concorrência desleal.
De fato, o JB teve muitos problemas financeiros, como Sílvio Guedes Crespo, do blog Panorama Econômico, comenta:
O passivo acumulado do JB chega a R$ 800 milhões, a maior parte em dívidas trabalhistas e fiscais.
Segundo o Estadão, o “colapso financeiro” ocorreu no final da década de 1990; em 2001, os acionistas do JB arrendaram a marca por 60 anos à Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), que é controlada pela Docasnet, empresa de Tanure. A CBM também havia arrendado a marca Gazeta Mercantil, que deixou de circular em 2009.

A primeira propaganda alertando os leitores da proximidade da versão totalmente digital do jornal. Do blog Radar Econômico.
Para Júlio Pegna, do blog As Sandálias do Pirata, o episódio é, na verdade, uma lição a ser ensinada à própria mídia:
Mais do que apenas a quebra de uma empresa, o fim do JB representa um sinal para a grande imprensa. Mostra como é possivel, mesmo para um ícone, perder consistência financeira quando falta capacidade de visão. Os veiculos de comunicação impressos estarão condenados ao desaparecimento à medida que o público leitor tiver acesso à informação instantânea; a banda larga é o caminho inexorável que irá fulminar o bom e velho jornal. Fica a dúvida de como será embrulhado o peixe na feira livre dali em diante.
Apesar de declarar que a maior parte de seus leitores concordaram com a mudança do papel para uma versão exclusivamente online, muitos não viram a mudança com bons olhos, como Guilherme Valadares, do blog Papo de Homem:
Um marco radical. Resta saber se a guinada vai vingar. Pessoalmente, não considero um caminho acertado. Não vejo o brasileiro, em especial os leitores cativos de jornais impressos, prontos para fazer o pulo 100% para o Digital. Eu deixaria a operação da versão impressa mais enxuta, mas não iria abrir mão da mesma nunca.
No último dia de sua existência como jornal impresso, muitos jornalistas se reuniram para protestar contra o corte que viria de quase metade de seus empregos, comparando a decisão [de fechar o jornal] com o ato de jogar a memória do país no lixo.
O jornalista Ricardo Kotscho, que trabalhou no JB dos anos 70 aos 90, diz que o jornal estava morrendo lentamente:
Restavam lá trabalhando apenas 60 jornalistas, a circulação vinha minguando abaixo dos 20 mil exemplares, o jornal já tinha encolhido de tamanho e o passivo chegava a 100 milhões de reais. Alguns dos seus antigos craques hoje ainda podem ser encontrados nas páginas de O Globo. A imprensa brasileira deveria decretar três dias de luto.
Leandro Mazzini, do blog Informe JB postou suas reações e, aparentemente, se mostra mais otimista quanto ao futuro:
É difícil mudar uma tradição de leitura de jornais, mas não impossível diante das tendências do presente e do futuro: com a convergência de mídias a cada dia mais essenciais, haverá em alguns anos uma inevitável migração dos impressos para o conteúdo digital (inclusive pelo fator ambiental, tão em voga).
O blog Diário do Rio reproduziu as razões dadas pelo jornal para sua mudança radical, e postou uma linha do tempo da rica história do jornal.
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