- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Palestina: Sobrevivendo com Geradores Portáteis em Gaza

Categorias: Oriente Médio e Norte da África, Palestina, Economia e Negócios, Esforços Humanitários, Guerra & Conflito, Meio Ambiente, Mídia Cidadã, Política
[1]

Escuridão em Gaza, Free Gaza Movement, Flickr

A única central elétrica em Gaza fechou temporariamente a 25 de junho, quando o combustível acabou [2] [en] devido a uma disputa de pagamento [3] [en] entre o Hamas e a Autoridade Palestina em Ramallah. Os residentes de Gaza passam agora por cortes de energia durante 12 ou mais horas por dia, sendo forçados a depender ainda mais de geradores a diesel.

Em 2006 a Força Aerea Israelense bombardeou a Central Elétrica de Gaza [4] [en], e desde então vem operando em capacidade reduzida, uma situação exarcebada pela imposição do bloqueio a Gaza em 2007. A União Europeia subsidiou combustível para a Central Elétrica de Gaza até o final do ano passado, mas a responsabilidade passou para a Autoridade Palestina em Ramallah. Desde essa altura a importação de combustível entrou em declínio, e oficiais em Gaza afirmam que a Autoridade Palestina tem vindo a reduzir o fornecimento [5] [en] deliberadamente. Do outro lado, a Autoridade Palestina culpa o Hamas [3] [en] por não fazer o povo de Gaza pagar as suas contas de eletricidade. (Para um relatório completo sobre a história da crise elétrica e seu impacto na situação humanitária, ver este relatório das Nações Unidas [6]. [pdf, en]) Depois de uma semana fechada [4] [en], a distribuição de combustível significa que a central funciona agora numa capacidade de 50 a 60% [7].

Geradores tornaram-se numa parte essencial da vida em Gaza. No entanto, sabe-se que mais de 100 pessoas morreram por envenenamento causado pelos fumos e monóxido de carbono [8] [en] que os geradores provocam, e no início deste ano a instituição beneficente internacional Oxfam lançou uma campanha informando [9] [en] sobre como usar os geradores com segurança.

O blogueiro de Gaza Abu el Sharif escreve no Shajar El ba6a6a [10]:

غزة صارت إشي ماشي على مولدات الكهربا…وين ما تروح بأي ساعة من اليوم بتلاقي الموتورات شغالة…و عمالها المدة كل مرة بتطول…زمان كانت تقطع 5-6 ساعات باليوم و الواحد كان بالعها…بس هلأ صارت تقطع بال12 ساعة و يمكن اكتر…
و كل واحد بدور على رزقتوا و فش فيها مشاكل…بس لما يكون مصفوف اكتر من 16 موتور جمب بعض بالسوق…كلهم بطلعوا صوت زي الحمار اللي عندوا عسر هضم و بطلعوا دخان اكتر من المحروس (Eyjafjallajökull) بعز شبابو !
Gaza transformou-se em algo que funciona a gerador… Onde quer que voçê vá, a qualquer hora do dia, você encontrará geradores trabalhando… E trabalham cada vez mais… Antigamente era durante 5-6 horas por dia, e as pessoas aceitavam… Mas agora há cortes de energia por 12 horas e ás vezes mais tempo…
Cada pessoa tenta ganhar a vida, e isso nada tem de mal… Mas quando mais de 16 geradores são alinhados lado a lado no mercado…todos fazendo barulho como se fossem um burro com uma indigestão, e deitando mais fumo que o precioso Eyjafjallajökull [11] em sua tenra juventude!

Abu el Sharif continua:

الواحد بلف و بدور عن الاسباب و الصدمة هي لما يحكولك الخراف هادا…
الاتحاد الاوروبي بطل يدفع مصاري عشان يشتري بنزين للمحطة…هادي قديمة!
و السلطة الفلسطينية هي اللي كانت تدفع المصاري عشان المحطة و زي ما انحكالي 100 مليون شيكل بالشهر !
بس المشكلة انو السلطة الفلسطينية بطلت بدها تدفع بحجة انو السلطة الفلسطينية التانية اللي في غزة بدهاش تشارك بدفع حق البنزين للمحطة…طيييييييب ؟!
بديش ابالغ احكي و كل غزة بتدفع حق فواتير الكهربا عشان كتير من اهلها مش لاقيين…بس يا جماعة تقريبا نص الشعب بدفع فواتير الكهربا…و يا عمي اسمها فواتير الكهربا….يعني للكهربا…يبقى ليش و بأي حجة و تندفع لغايتها و هي الكهربا !!
بضل صراع سياسي بين احزاب و الاهل غزة مطحونين بالنص !
Você procura razões, e fica realmente chocado quando ouve tais disparates…
A União Europeia parou de pagar fundos para que se comprasse combustível para a central elétrica – isso já nós sabemos!
E a Autoridade Palestina foi quem teve de pagar a central elétrica, pelo que me disseram 100 milhões de shekels por mês!
Mas o problema é que a Autoridade Palestina parou de pagar com o pretexto que a outra Autoridade Palestina que é em Gaza não quis contrinuir com combustível para a central…OK?!
Não quero exagerar e dizer que toda Gaza está pagando suas contas de eletricidade, porque muitas pessoas não podem… Mas, quase metade das pessoas pagam suas contas… Chama-se conta de eletricidade, quer dizer para a eletricidade… Então porque razão são as contas pagas com esse propósito, eletricidade??
A luta politica continua entre as facções, e o povo de Gaza está dividido ao meio.

Um dos resultados do uso generalizado de geradores é o aumento de vários tipos de poluição. Lina Al Sharif, que bloga a 360 km2 of Chaos, escreve [12]:

Gazans as always find their humble and often risky ways to cope up with the endless obstacles they face. Power generators are problematic solution, while they solve some of the problems, they cause many others.
Most of the buildings have purchased a generator, Gaza has become like one giant factory. These power generators are risky; their choking gas emanations can cause many respiratory diseases. To add insult to the injury, their chugging-like noises are deafening. Walking in the street has become torture: noise, pollution and the hot weather, you go home like you’ve been working as some chimney sweeper!
Many incidents occurred where people were killed or hurt because of these generators.
But it is hard now to imagine life in Gaza without these generators, though they are not human or environment friendly, they still make things a little bit easier for Gazans. Not to mention, it has become a thriving trade to many.

Como sempre o povo de Gaza encontra formas humildes e muitas vezes arriscadas para lidar com os intermináveis obstáculos que encontram. Geradores são uma solução problemática, resolvem alguns problemas mas causam muitos outros. A maior parte dos edificios compraram um gerador e Gaza transformou-se numa fábrica gigante. Estes geradores são arriscados; emitem gases asfixiantes que provocam muitas doenças respiratórias. Para piorar as coisas, os barulhos tipo explosão são ensurdecedores. Passear nas ruas é uma tortura: barulho, poluição and água quente, você vai para casa como se fosse um trabalhador que limpa chaminés!
Mais incidentes ocorrem onde as pessoas morreram ou ficaram feridas por causa destes geradores.
Mas é dificil imaginar a vida em Gaza sem estes geradores, apesar de eles não serem nem humanos nem amigos do ambiente, tornam as coisas mais fáceis. Para não falar, no negócio lucrativo que se tornou para muitos.

Lina conclui:

The only solution is considering those who are suffering from occupation, siege, and dehumanization, humans who deserve to live in dignity.
And so far politicians are failing to see the humanity of the Palestinians in Gaza.

A única solução é ter em consideração aqueles que sofreram ocupação, cerco e desumanização, humanos que merecem viver com dignidade.
E por enquanto politicos falham em ver a humanidade dos Palestinos em Gaza.

No blog de grupo Beyond our borders, Derar Mohamed escreve [13]:

“What! What have you just said?”… That was me; I was compelled to raise my voice, in an attempt to understand what my friend was trying to tell me few seconds rightly before crossing the street to another. By coincidence, the opposite street was out of electricity because Israel has prevented fuel, used for the electric-power station, from entering the Gaza strip. Therefore, all shopping markets had to turn on their electrical generators to high spot the dusty goods they sell during daylight and night. That scene is one of the most frequent things that occur in the blockaded city. Moreover, a harsh series of offensives and assaults affected, deeply, all aspects of Gazans’ life, from the war-torn infrastructure caused by lack of funds and needed equipments, to the damaged superstructure caused by the destructive Israeli military operations and thorough lack of building materials. But, the closed borders, the damaged facilities and the political tensions are all imposed realities on the people that have nothing to do with it.

“O quê? O que você disse?… Fui eu que falei. Fiquei compelido a levantar a voz numa tentativa de entender o que meu amigo tentava dizer poucos segundos antes de atravessar a rua. Por coincidência a rua oposta estava sem eletricidade porque Israel bloqueou o combustível, usado para a central eletrica, de entrar na faixa de Gaza. Assim, todos as lojas tiveram de ligar seus geradores eletricos para que fiquem visiveis os produtos empoeirados que vendem dia e noite. A cena é comum na cidade sitiada. Além disso, uma dura série de ofensivas e assaltos afetaram profundamente todos os aspetos da vida em Gaza, desde a infraestrutura destruída pela guerra, falta de financiamento e equipamentos obsoletos, até a uma superestrututra danificada por causa das operações militares destrutivas de Israel e a completa falta de materiais de construção. Mas, as fronteiras fechadas, os serviços danificados e as tensões politicas são tudo realidade impostas no povo que nada tem com isso.

Ele continua:

Since the end of the last Israeli offensive, a full wrong stereotype started to rise inside the global mainstream imagination about Gaza; death, explosions, landmines and destroyed buildings everywhere. With more clear words they used to say: the entrance of Gaza is poles apart from the exit. I tell them yes indeed, it is. You will enter Gaza with your thoughts about lack of security and the death moments. However, you will leave Gaza with much better views, friends and lovely memories. When you visit the historical town of Gaza, when you taste that hot Falafel [14] from Gaza’s restaurants and when you take a picture side by side with a group of Gazan kids. You will definitely come back again, and if you were worried about electricity; don’t worry, generators will just be turned on. So, WELCOME TO GAZA.

Desde o final da última ofensiva de Israel, um estéreotipo totalmente errado começou a se erguer na imaginação global sobre Gaza; morte, explosões, minas e edificios destruídos por todo o lado. Com palavras mais claras costumavam dize: a entrada de Gaza está a polos de distância da saída. Digo-lhes que assim é mesmo. Você entra em Gaza pensando na falta de segurança e em momentos de morte. No entanto você sairá de Gaza com uma visão muito melhor, amigos e memórias maravilhosas. Quando visitar a cidade histórica de Gaza, quando provar que delicioso e quente Falafel [15] se serve nos restaurantes de Gaza e quando tirar uma fotografia ao lado das crianças de Gaza. Certamente você voltará, e se estava preocupado com a eletricidade; não se preocupe, os geradores estrão ligados. Então, BEM-VINDOS A GAZA.