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R. D. do Congo: O Assassinato do Ativista de Direitos Humanos Floribert Chebeya

Categorias: África Subsaariana, Europa Ocidental, Bélgica, República Democrática do Congo, Direitos Humanos, Governança, Guerra & Conflito, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Migração e Imigração, Política, Protesto

2010 tem sido um ano muito acidentado para África, e não é apenas por ser a primeira vez que o continente recebe o Mundial de Futebol. Durante este ano, esperam-se eleições presidenciais [1] em seis países francófonos e 17 países celebram 50 anos de independência: 14 são antigas colônias francesas, dois foram dominados pelos ingleses e um era colônia belga, a República Democrática do Congo, RDC. Mas as celebrações de 30 de junho tomam um rumo incerto à medida que o assassinato do ativista de direitos humanos Floribert Chebeya [2] levanta sérias preocupações.

Líder da organização de direitos humanos La Voie des Sans Voix (A Voz dos Sem Voz), Chebeya foi encontrado morto no dia 2 de junho em circunstâncias misteriosas. De acordo com a Anistia Internacional [3], no dia 1 de junho pediram a Chebeya que visitasse o Inspetor Geral da Polícia do Congo, General John Numbi. Chebeya mandou uma mensagem para sua esposa dizendo estar na esquadra da polícia esperando o chefe. Horas depois, mandou outra mensagem, que seria sua última, dizendo que teria de passar rapidamente na universidade antes de ir para casa. No dia seguinte, pedestres viram o seu corpo no banco de trás no seu carro num subúrbio de Kinshasa. Algumas de suas roupas foram levadas e havia vestígios de cabelo de mulher e preservativos usados encontrados no carro. O seu motorista desaparecera e não havia sinais de ferimentos visiveis ou buracos de bala, apesar de haver sangue na parte interna dos seus orifícios.

Nas passadas 3 semanas, a morte de Chebeya catalisou a denúncia da situação interna no Congo. A investigação do assassinato intensificou as constantes denúncias de mortes, estupros [4] e outras violações de direitos humanos, a maior parte motivada pelo conflito sobre a riqueza mineral do país [5], que também ocorre em outros países africanos de língua oficial francesa [6].

A família de Chebeya quer realizar o funeral no dia 30 de junho de 2010 em sinal de protesto, mas por motivos de pressão governamental e diplomática, a família concordou em alterar a data [7] [fr] para 26 de junho.

Ativista pelos direitos humanos desde o início dos anos 90, Chebeya foi homenageado por organizações internacionais e exibido em protestos pelo mundo fora. Em 8 de junho, uma carta aberta [8] assinada por mais de 50 organizações internacionais foi dirigida ao Presidente Joseph Kabila [9], apressando-0 e à sua administração a lançar uma investigação independente do assassinato de Chebeya. A diáspora congolesa em Bruxelas organizou uma manifestação em frente da Embaixada da RDC [fr]:


Video da Manifestação por Chebeya em Bruxelas [10]

Os autores do blog Friends of Congo publicaram um linha do tempo [11] a 24 de junho com os últimos eventos relacionados com o caso e declararam [en]:

We are outraged by the loss of Floribert Chebeya, a champion for human rights and justice in the Congo. Indications are that the repressive Kabila regime is increasingly extinguishing the voices of the people as the regime looks to maintain power by any means.

Estamos indignados com a perda de Floribert Chebeya, um campeão pelos diretos humanos e pela justiça no Congo. Tudo indica que o regime repressivo de Kabila extingue progressivamente as vozes do povo enquanto procura manter o poder por quaisquer meios.

No ano passado, a organização Human Rights Watch publicou um vídeo no Youtube, criticando a situação no terreno na RDC:

Democracia no Congo, pela Human Rights Watch [12]

Em fevereiro de 2010, a Anistia Internacional publicou um artigo [13] sobre perseguição, ameaças e detenções  ilegais de ativistas pelos direitos humanos no Congo, que mencionava Floribert Chebeya como alguém que no passado havia sido vítima de ameaças, prisão e detenção ilegais.

Para a diáspora congolesa em Bruxelas, 30 de Junho de 2010 é dia de protesto. Desde março de 2010, grupos organizam uma manifestação pelas ruas da cidade até à embaixada da Republica Democrática do Congo com um protesto massivo. Chamam-lhe “Dia sem Kabila [14]” [fr], numa messagem claramente contra o Presidente Kabila e sua administração. A mobilização conta agora com a diáspora congolesa em Lausanne (Suiça) em Londres (Reino Unido) [15] [fr] para eventos semelhantes no mesmo dia.

Um dos líderes da mobilização em Bruxelas escreve [15] [fr] em seu blog sobre o objetivo destes protestos:

We want to protest against the Joseph Kabila's regime of dictatorship, genocide and terrorism and we will organize every June 30, on the day of Congo's independence, a NO KABILA DAY until he leaves office, to remind the world public opinion of the danger this dictator poses to the Congolese population, the peoples of Central Africa and of the world. We expect to gather more than a million people throughout the world.

Queremos protestar novamente contra o regime ditatorial, genocídio e terrorismo de Joseph Kabila e organizaremos todos os dias 30 de junho, dia da independência do Congo, o DIA SEM KABILA até ele abandonar o cargo, para lembrar a opinião pública do perigo que este ditador representa para a população do Congo, para os povos da África Central e para o mundo. Esperamos juntar mais de um milhão de pessoas pelo mundo fora.

Jason Stearns, blogueiro do Congo Siasa postou [16] a 9 de junho [en]:

So has this changed with Chebeya's murder? It's too early to tell, but it does come at a very sensitive time, just weeks before the anniversary celebrations and just before the IMF decision on Congolese debt. Also, it may open up a rift within Kabila's inner circle if John Numbi, the head of the police, is prosecuted for the murder.

As coisas mudaram com a morte de Chebeya? É muito cedo para dizer, mas os acontecimentos desenrolam-se numa altura sensível, semanas antes das celebrações do aniversário e antes da decisão do FMI com relação à dívida do Congo. Além disso, pode abrir uma divisão no círculo interno de Kabila se John Numbi, o chefe da polícia, for processado.

No meio desta rede de acontecimentos interligados, e agora a apenas alguns dias antes de 30 de Junho, o usuário do Twitter @Kambale espera que Chebeya não seja rapidamente esquecido pelos Congoleses [17] e manda a seguinte mensagem:

Amazing that Congolese have forgotten Floribert Chebeya so quickly and are back watching the World Cup. Freedom is not given, it is taken!

Extraordinário que no Congo tenham esquecido Floribert Chebeya tão rápido e estejam vendo o mundial de futebol. A liberdade não se dá, toma-se!