Líbano: Blogosfera movimentada após ataque israelense à flotilha de Gaza

"Realidade"

"Raio-x"

"E a Mídia"

“Quão ignorante a mídia pensa que somos?” Cortesia de CC-BY-NC Maya Zankoul

O ataque de Israel a um comboio de ajuda para Gaza que matou pelo menos nove ativistas pela paz provocou protestos internacionais, e não menos [protestos] no Líbano.

A blogosfera libanesa reagiu fortemente à notícia de que seu vizinho do sul tinha violentamente invadido o navio turco de ajuda, o Mavi Marmara.

Como observado na caricatura do popular blogueiro Maya Zankoul [en], acima, os libaneses em grande parte estão não apenas indignados pelas ações de Israel, mas também pelas tentativas da mídia internacional em justificá-la.

Manifestantes tomaram as ruas de Beirute para expressar sua raiva contra o ataque israelense, e simpatias com os povos palestino e turco.

Cortesia de Mokhtar Joundi – Clique na imagem para um álbum completo do protesto em Beirute

O blogueiro Lebanese Voices [Vozes Libanesas, en] se lançou contra o desrespeito israelense pela lei internacional e contra a campanha de relações públicas de Tel Aviv para demonizar a missão de ajuda humanitária:

…israeli authorities have the liberty to ban, allow and confiscate any aid that is sent to Gaza at will, and announce that they are providing Gaza citizens with all the aid and supplies they need and therefore the freedom flotilla flight was an unnecessary stunt?!

40 Different nationalities aboard the ships, from Turkey, Greece and Ireland headed to Gaza, to the Gaza port (which israel says is under palestinian authority control) to provide these citizens with toys for their children, wheel chairs for the thousands cripples by israel’s continuous raids, medicine for those few survivors, flour, and other Survival needs!

Out of these 40 nationalities are a parade of countries: Irish, Australian, French, South African, Greek, American, German, Turkish, besides arab nationals, and many more. Are all these brave souls mistaken in their aid call?! if they had solid facts that the aid needed was reaching Gaza they wouldn’t have worked night and day for months to collect the necessary aid, put their lives at risk to do what seems like a true moral call?

… Autoridades israelenses têm a liberdade de proibir, permitir e confiscar qualquer auxílio que é enviado para Gaza à vontade, e anunciar que eles estão fornecendo aos cidadãos de Gaza toda a ajuda e material de que precisam e, portanto, que o vôo da flotilha da liberdade era um truque desnecessário ?!

40 nacionalidades a bordo dos navios, da Turquia, Grécia e Irlanda foram para Gaza, para o porto de Gaza (que Israel diz estar sob controle da Autoridade Palestina) para fornecer a estes cidadãos brinquedos para as crianças, cadeiras de rodas para os milhares de aleijados devido às contínuas invasões de Israel, remédios para os poucos sobreviventes, farinha e outras necessidades de sobrevivência!

Das 40 nacionalidades sai um desfile de países: Irlandeses, Australianos, Franceses, Sulafricanos, Gregos, Americanos, Alemães, Turcos, além de cidadãos árabes, e muitos mais. Estão todas estas almas corajosas erradas em seu apelo de ajuda?! E se tivessem fatos concretos de que o auxílio necessário chegaria à Gaza, não teriam trabalhado noite e dia durante meses para recolher o auxílio necessário, colocando  suas vidas em risco para fazer o que parece ser um verdadeiro chamado moral?

Lebanese Voices [Vozes Libanesas, en] recordou que as águas de Gaza não são de fato israelenses, pois Israel unilateralmente se retirou de Gaza em 2005 e ilegalmente mantém o controle sobre as águas de Gaza. Israel, logo, não tinha o direito de interceptar a flotilha de ajuda:

Yet Israeli Authorities gave itself the right to violate International Law and Protocol and attack the Flotilla flight while amidst International Waters (clear violation of international law) and Israeli MP declares that it has that right (because its above such laws) because the ships were heading to their waters. But the Flotilla wasn’t! it was heading into a harbor in Gaza, allegedly free from Israeli control.

The Fleet was welcomed with Israeli’s Defense Forces gunfire aiming right at their passengers and helicopters that rained squads to ship boards, and yet found it excusable to call the defense of these passengers as “terrorism” with sticks!
The Fleets were Searched thoroughly at their departure points, no weapons existed on them, and no weapons were found when they were dragged to Gaza’s shore other than those the IDF held to their heads! (Iraq war much?!) Members of the ship were detained and investigated immediately on arrival!

No entanto, as autoridades israelenses se deram ao direito de violar o Direito e Protocolos Internacionais e atacaram a Flotilha enquanto em meio de Águas Internacionais (clara violação do direito internacional) e o Primeiro Ministro de Israel declarou que tem esse direito (porque está acima de tais leis), porque os navios se dirigiam às suas águas. Mas a frota não foi! ela estava se dirigindo para um porto em Gaza, supostamente livre de controle israelense.

A frota foi recebida à tiros pelas Forças de Defesa Israelenses (IDF) mirando diretamente seus passageiros, e por helicópteros que fizeram chover esquadrões para embarcar no navio, e ainda acharam desculpável chamar a defesa desses passageiros com paus de “terrorismo”!
Os navios foram revistados minuciosamente nos seus pontos de partida, não existiam armas neles, e não foram encontradas armas quando foram arrastadas para a costa de Gaza, a não ser as que as IDF apontaram contra suas cabeças! (Como na Guerra do Iraque?) Membros do navio foram detidos e investigados imediatamente após a chegada!

Rami Zurayk do blog Land and People [Terra e Povo, en] foi à raiz do assunto ao destacar a dinâmica fundamental do conflito Israelo-Palestino. Para Zuryak, os palestinos tem o direito de entrar em seu território que lhes foi tomado através de [um processo de] “colonização e apartheid”:

The problem is Zionism and the usurpation of land and the replacement of a people by another people: colonialization and apartheid. Whether in international water or out, Palestinians have the rights to enter their country. The problem is not that the attack happened in international waters, the problem is Israel and the fact that it is allowed to attack. What if it was in Palestinian waters? Would it be OK?

O problema é o Sionismo e a usurpação da terra e o substituição de um povo por outro povo: Colonização e apartheid. Seja em águas internacionais ou fora, os palestinos tem o direito de entrar em seu próprio país. O problema não é que o ataque ocorreu em águas internacionais, o problema é Israel e o fato de que [eles] tem permissão para atacar. E se fosse em águas palestinas? Então seria OK?

Zurayk também duvida se um clamor internacional teria surgido se os mortos não fossem estrangeiros, mas palestinos lutando para libertar suas terras:

I have also received emails from everywhere calling for demonstrations of solidarity. Of course this is excellent and it is a show of support for the cause and an indication of the waning of Israeli influence. But I believe this would not have happened if this was not a humanitarian convoy, and if there were no foreigners among the dead and wounded. If this were Palestinians fighting to liberate Gaza, people would have probably blamed them for their own death.

I am starting to worry that the struggle will get locked into a Ghandian logic, and this has always been a demand of the West and of the local “lovers of life-on our knees” who repeatedly ask for armed resistance to be dismantled. This is how we become a charity case rather than a liberation movement. But for now, lets keep the pressure on the Zionists up to lift the siege on Gaza.

Eu também tenho recebido e-mails de todos os lugares pedindo manifestações de solidariedade. Claro que isso é excelente e é uma demonstração de apoio para a causa e uma indicação do declínio da influência israelense. Mas eu acredito que isso não teria acontecido se este não fosse um comboio de ajuda humanitária, e se não houvessem estrangeiros entre os mortos e feridos. Se fossem palestinos lutando para libertar Gaza, as pessoas teriam, provavelmente, os responsabilizado por suas próprias mortes.

Estou começando a me preocupar que a luta vai ficar trancada dentro de uma lógica gandhiana, e esta sempre foi uma demanda do Ocidente e dos “amantes da vida ajoelhados” locais, que reiteradamente pedem que a resistência armada seja desmontada. Isto é como nós nos tornamos um exemplo de caridade em vez de um movimento de libertação. Mas, por agora, vamos manter a pressão sobre os sionistas até levantar o cerco a Gaza.

O famoso blogueiro BeirutSpring [Primavera em Beirut, en] condenou, no Twitter,  a liberdade que tem Israel de violar o direito internacional à sua vontade:

A sense of impunity makes Israel think that it can kill peace activists in international waters and get away with it. This must change.10:05 PM May 31st via web

Um sentimento de impunidade faz Israel pensar que eles podem matar ativistas pela paz em águas internacionais e escapar. Isto precisa mudar.

Enquanto isto, o blogueiro político Qifa Nabki advertiu contra as ameaças de guerra dos governos sírio e libanês em resposta ao ataque. A resistência não-violenta parece estar funcionando, de acordo com Qifa Nabki:

Syria has called for an emergency meeting of the Arab League, and both Bashar al-Assad and [Lebanese Prime Minister] Saad al-Hariri have warned that the flotilla killings could lead to a regional war. Maybe this is a naive reading, but it strikes me that beating the war drums is the wrong move. Instead of threatening to launch another intifada, why not actually launch an aid flotilla that is ten times the size of the one that was assaulted? The humanitarian non-violent strategy has clearly proved to be the winning one, so why not press it?

A Síria tem chamado para uma reunião de emergência da Liga Árabe, e ambos Bashar al-Assad e [o primeiro-ministro libanês] Saad al-Hariri alertaram que as mortes na flotilha poderia levar a uma guerra regional. Talvez esta seja uma leitura ingênua, mas parece-me que bater os tambores da guerra é o movimento errado. Em vez de ameaçar lançar outra intifada, porque não realmente lançar uma flotilha de auxílio com dez vezes o tamanho da que foi assaltada? A estratégia de ajuda humanitária não-violenta mostrou claramente ser a vencedora, então porque não organizá-la?

Em uma análise mais aprofundada da situação, Qifa Nabki discute as implicações políticas para a Turquia, e bate na fraqueza dos países árabes:

Soft power among leaderless Arabs? Make mine a double. Egypt’s decision to open theborder, at least temporarily, only highlights embarrassing complicity in the blockade to begin with. And the position of the other Arab powers – silence, or cheerleading while Turkey pounds podiums in the Security Council – is little better. By one account, the ship in question was Istanbul municipal scrap, sold to an Islamist NGO and flagged to the Comoros. That it could be the vessel of Arab diplomatic ambition is the saddest, and most apt, measure of the those states’ ability to make any case other than the one for their disarray.

Descrença entre árabes sem líderes? A minha em dobro. A decisão do Egito de abrir a fronteira pelo menos temporariamente, apenas destaca, para começar, a cumplicidade embaraçosa no bloqueio. E a posição das outras potências árabes – o silêncio, ou a comemoração enquanto a Turquia batalha no Conselho de Segurança – não é melhor. Por uma lado, o navio em questão era sucata da prefeitura de Istambul, foi vendido para uma ONG islâmica e registrada em Comores. Que isto poderia ser o navio da ambição diplomática árabe é mais triste, e a forma mais apropriada de estes Estados Árabes demonstrarem sua falta de organização.

O blogueiro Franco-Libanês Frenchy [fr], ao condenar os atos de pirataria israelense, teme que qualquer resposta vinda do Líbano possa levar a uma ofensiva de Israel contra o país:

On peut également craindre que ces actes de piraterie poussent une nouvelle fois à une flambée de violence comme durant les dernières offensives israéliennes contre la Bande de Gaza. A chaque fois, malheureusement que cette bande s’enflammait, certains pensaient faire diversion au Liban même, preuve en ait les derniers tirs de Katioucha contre le Nord d’Israël en décembre 2008 et janvier 2009 par le FPLP-CG. Gageons que les autorités israéliennes actuelles seraient tentés d’utiliser de tels tirs – si cela se produit – comme une diversion face à leurs crimes en provoquant une guerre contre le Liban. Même en désaccord avec la lutte palestinienne contre Israël depuis le Liban, on ne peut qu’être solidaire face à ce que les libanais ont également subis lors du conflit de 2006. Après tout, Gaza subit depuis 2006, le blocus que le Liban n’a subit que durant 34 jours seulement

É possível igualmente temer que estes atos de pirataria produzam mais uma vez a uma escalada da violência, como a recente ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza. Cada vez que, infelizmente, a violência irrompe na Faixa de Gaza, algumas pessoas pensam em criar uma distração a partir do Líbano, tal como comprovado pelos disparos esporádicos de foguetes Katyusha no norte de Israel em Dezembro de 2008 e janeiro de 2009 pela FPLP-CG [Frente Popular pela Libertação da Palestina – Comando Geral]. Nós apostamos que as atuais autoridades israelenses seriam tentadas a usar tal força – se isso acontecesse – como um desvio dos seus crimes, provocando uma guerra contra o Líbano. Mesmo em desacordo com a luta palestina contra Israel a partir do território libanês, só se pode manifestar solidariedade com o que os libaneses também sofreram durante o conflito de 2006. Afinal, Gaza tem sido alvo desde 2006 do bloqueio que o Líbano sofreu por apenas 34 dias.

Cada ação violenta de Israel cria o medo de uma renovada violência pela região. Tais medos não são tão fortemente sentidos quanto no Líbano, alvo costumeiro das ações militares israelenses.

1 comentário

Junte-se à conversa

Colaboradores, favor realizar Entrar »

Por uma boa conversa...

  • Por favor, trate as outras pessoas com respeito. Trate como deseja ser tratado. Comentários que contenham mensagens de ódio, linguagem inadequada ou ataques pessoais não serão aprovados. Seja razoável.