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Egito: Quem Está e Quem não Está Produzindo Mídia Cidadã

Categorias: Egito, Ativismo Digital, Direitos Humanos, Educação, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Rising Voices

Este artigo é uma tradução de Egypt: Who is and is not Producing Citizen Media? [1] escrito originalmente por Nora Atef [2].

Nota: Este é o primeiro de uma série de posts ressaltando o atual estado da mídia cidadã no Egito, enquanto 3 novos beneficiados do Rising Voices começam a se preparar para o trabalho.

“The Egyptian blogosphere is broad and vibrant, and there is a lot of citizen media use in Egypt – varying between social, political, religious, or cultural issues.”

“A Blogosfera do Egito é vasta e vibrante, e existe bastante uso de mídia cidadã no Egito – variando entre questões sociais, políticas ou culturais”.

Estas palavras foram escritas [3] [en] por Eman AbdElRahman para o Summit do Global Voices em Santiago, Chile, em maio de 2010 e demonstram que a blogosfera egípcia é reconhecida, assim como a mídia cidadã produzida levou a algumas mudanças sociais positivas. Umas das conquistas mais importantes tem sido aumentar a consciência sobre questões de tortura [4] [en], que não foi coberta pela grande mídia. Não foi, até o ponto em que alguns vídeos de vítimas sendo torturadas e maltratadas foram filmados por celular [5] [en]. Blogueiros egípcios subiram os vídeos para a internet para atrair maior atenção a estes crimes.

Foto de Hossam El-Hamalawy, utilizada sob licença CC

Além disso, questões como assédio sexual nas ruas não foram discutidas até alguns vídeos feitos por um número de blogueiros egípcios mostraram assédio em massa em uma rua do Cairo [6] [en]. O vídeo foi publicado em outubro de 2006, mesmo antes da grande mídia. Graças à discussão ativa causada por estes vídeos, o debate sobre assédio sexual ganhou mais interesse por jornalistas, sociólogos e pesquisadores que descobriram que 83% das mulheres no Egito sofreram assédio sexual.

Com a propagação do Facebook, egípcios usaram suas ferramentas para mobilizações e ativismo político chamando para uma grande greve em 6 de abril de 2008, através de um grupo da Rede Social [7]. Apesar do sucesso dessa greve ser ainda controverso, as constantes atualizações que inundaram Twitter, YouTube e Facebook demonstram o grande desenvolvimento da prática de mídia cidadã. Quando a greve se repetiu em 2009 e 2010, a mídia online e artefatos digitais foram usados efetivamente para advocacia, já que os ativistas conseguiram espalhar a informação pelos celulares sobre os 92 presos e determinar suas localizações e divulgar estas informações online [8] [en].

Quem está produzindo Mídia Cidadã no Egito?

Os primeiros produtores de mídia cidadã foram jovens ativistas que compareceram ao protesto de 2005 e relataram sobre a manifestação e as violentas reações da polícia. Eles documentaram os eventos com câmeras digitais, celulares, ou relataram em textos geralmente escritos com gíria do Egito. Enquanto isso, estas notícias e imagens não foram difundidas pela mídia dirigida do estado, e os canais privados de televisão foram impedidos de cobrir os protestos.

Desde que a mídia cidadã surgiu como um forma livre de publicar o que a grande mídia ignora ou não cobre, muitos grupos sem vozes abraçaram a mídia cidadã, como por exemplo: Bahaa'is [9], Egyptian Christians (Copts) [Egípcios Cristãos], a comunidade LGBT [10] [ar] e Irmãos Muçulmanos. Posteriormente, o sucesso da mídia cidadã atraiu mais grupos no ciberespaço, já que blogar, subir um vídeo no YouTube e escrever uma nota no Facebook [11] [en] eram tarefas fáceis de realizar e não exigiam grande conhecimento tecnológico. Desde o final de 2007, a blogosfera egípcia tem blogs escritos por indivíduos de esquerda, estudantes universitários, Beduínos de Sinai, e um pequeno grupo de Núbios. Hoje, os blogs do Egito representam aproximadamente 30% da blogosfera árabe.

Quem não está produzindo mídia cidadã no Egito?

De acordo com um recente estudo, mais de 50% dos blogueiros egípcios têm entre 20 e 30 anos. Procurando por blogs “infantis”, você encontrará blogs com nomes de crianças atualizados por seus pais que gostam de publicar fotos de seus filhos. Entretanto se você procurar por uma criança autora em um blog, talvez não encontre uma.

É a mesma porcentagem de 50%  daqueles no Cairo que podem contar com conexão à internet, o que para muitas pessoas é uma situação normal, já que a capital consiste em cinco governadores com uma população com mais de 20 milhões de pessoas. Entretanto, um território como o norte do Egito, é quase nunca mencionado nem na mídia tradicional, nem na nova por causa dos altos índices de pobreza, analfabetismo e uma fraca infraestrutura, tudo que faz esta parte do Egito ficar sem representação online.

Apesar de 27% dos blogs do Egito serem escritos por mulheres, podemos dizer que a maioria delas é mal representada online, já que uma olhada mais profunda nos números revela que entre a sua maioria, 27% são do Cairo e jovens (entre 20 e 30 anos). Isto é obviamente refletido em suas opiniões e assuntos abordados online. Enquanto isso em contraste, um Beduíno, analfabeto, ou uma mulher mais velha estão ausentes online. A conhecida iniciativa Kolena Laila [12] [en] tenta trazer essas vozes para o ciberespaço, compartilhando em podcasts e vídeos informações sobre eles, mas existe muito mais a fazer para assegurar que estas vozes sejam representadas.

No geral, algumas ONGs locais no Egito estão preocupadas em treinar blogueiros em documentar proteção legal ou Direitos Humanos, para que possam produzir uma melhor qualidade de mídia cidadã. Mas a maioria de seus alvos são aqueles já engajados com mídia cidadã. Por exemplo, há 3 anos, a Rede Árabe para Direitos Humanos [13] (ANHRI, en) começou um projeto para levar ativistas offiline para a blogosfera, ‘Katib’ talvez seja o primeiro deste tipo no país a ensinar advogados e organizadores de comunidade como blogar e oferecer a eles um blog gratuito com constante suporte técnico.