
Avatar de Ilya Kormiltsev's no LiveJournal.
No dia 4 de fevereiro de 2010, blogueiros russos celebraram uma data triste. A morte de Ilya Kormiltsev [en], um dos mais talentosos e polêmicos poetas e compositores russos, vítima de câncer na espinha há 3 anos. Em 2007, a morte de Kormiltsev se tornou a primeira e mais publicada morte na RuNet (Internet Russa).
Blogueiros o relembraram anos após escreverem e reescreverem seus poemas e canções, admirando seu talento, assim como seu inconformismo, respeitando sua sede por liberdade de expressão e seu ativismo civil.
O sucesso da história de Kormiltsev começou nos anos 1980 na cidade de Sverdlovsk (agora Ecaterimburgo). Kormiltsev se tornou famoso por trabalhar como compositor na banda “Nautilus Pompilius” [en], uma das lendárias bandas de rock durante a Perestroika e depois no período pós-soviético.
As canções de Kormiltsev falavam contra o regime comunista, mesmo que seu criticismo fosse maquiado por formas poéticas sofisticadas e passasse despercebido durante a época da censura soviética. Em 1999, a rádio “Nashe” publicou o “Top 10 das melhores canções de rock russas do século” [ru], entre as quais 7 das 100 canções eram de Kormiltsev.
Em 2000, Kormiltsev abandonou sua carreira de compositor e criou uma editora, a “Ultra.Kultura” [ru]. Como intérprete profissional, ele traduziu e publicou trabalhos dos mais polêmicos autores contemporâneos (russos e estrangeiros): William Burroughs, Ernesto Guevara, William Gibson, Huey P. Newton e outros. Os livros da Ultra.Kultura cobriam tópicos radicais como drogas, pornografia, relações raciais, crime, etc.
Em novembro de 2006, durante sua viagem à Londres, Kormiltsev começou a se sentir doente. Em seu último post no blog, escreveu [ru]:
“ЛИЧНАЯ ПРОСЬБА. Никто не едет в Лондон на днях? Надо отвести лекарства. Мне.”
Alguns meses depois, em janeiro de 2007, ele foi diagnosticado com câncer na espinha. Era muito tarde para ajudar Kormiltsev. Seu amigo e crítico de música Boris Barabonov escreveu [ru] que Kormiltsev sofreu não só pela sua doença, mas também pela ausência da internet e da perda da habilidade para escrever algo importante aos leitores. O último post de Kormiltsev teve 1720 comentários. Desesperados por encontrar qualquer informação sobre seu ídolo, fãs deixaram mensagens de luto e pesar na seção de comentários. Algumas pessoas perguntavam sobre suas letras e poemas, em busca de terem sua última chance de contato com a interpretação do autor.
A morte de Kormiltsev se transformou num dos eventos mais discutidos na blogosfera segundo reportagem do jornal “Kommersant”.
Neste momento, a conta de Kormiltsev no LiveJournal está com o status de “Diário em Memória”. Novos comentários não são permitidos, mas o conteúdo do diário está aberto para todos. O último post foi escrito por seus amigos, que repetiram suas últimas palavras:
“Был потрясен тем, что я вам так дорог, и что вы прониклись таким участием к моей судьбе. Огромное спасибо за поддержку. Постараюсь ответить всем лично.”
Mas ele nunca respondeu. Três anos após a morte de Kormiltsev, blogueiros postaram retratos, trechos de poemas favoritos e sua última entrevista.
O blogueiro A. Monach escreveu:
“для меня всегда было загадкой, как так человек может зацепить сотни мозгов и заставить петь миллионы свои песни, при этом почти вообще не используя рифмоплетения. Одинаково жестко с его уст слетала “социалка”, “политинформационное творчество”, любовь – смерть, которые всегда ходили в его произведениях рядом, разврат и боль, божественное и дьявольское и тд…”
Regul_leia escreveu:
“Говорят, художник чувствует нить времени тоньше, чем все остальные и предугадывает ее. А поэт – как родитель над колыбелью малыша – нашептывает песню, по которой новый человек учится говорить и понимать мир.”
E All_decoded comentou no post de Regul_leia:
“Но если Вам нравится Кормильцев (а это нормально !) Вы начинаете диссидентствовать по отношению к сегодняшней власти”