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Brasil: O Debate sobre a Violência contra a Mulher

Categorias: América Latina, Brasil, Direitos Humanos, Mulheres e Gênero

contraviolencia3Ontem foi o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres [1] [en]. Seguindo uma série de posts especiais [2] do Global Voices Online para sensibilizar e levantar vozes em torno da causa, vamos ver neste post as opiniões de alguns blogueiros brasileiros sobre os direitos das mulheres.

A renomada blogueira brasileira Lúcia Freitas [3] dá sua contribuição, postando uma chamada para blogueiros para apoiar a campanha [4] contra a violência no LuluzinhaCamp [5], um coletivo de mulheres blogueiras inspirado em histórias em quadrinhos da Luluzinha [6]:

Chamada geral! Entre 25 de novembro e 10 de dezembro estamos convocando para a luta pelo fim da violência contra as mulheres. Vamos fazer posts, twittar, fotografar e lembrar que mulheres são seres humanos e merecem respeito – aliás, todo mundo merece…

"Lulus againts violence". Photo by Gabi Butcher©, used under a Creative Commons license [7]

Foto por Gabi Butcher©, usada sob uma licença Creative Commons.

Srta. Bia [8] ouve o chamado e adiciona sua voz para a campanha LuluzinhaCamp, dizendo [9]:

No Brasil uma mulher é agredida a cada 15 segundos [10]. Na maioria das vezes o agressor é o parceiro, um familiar ou uma pessoa próxima. Desde pequenas, meninas sofrem com violência e discriminação. Organizações em defesa dos direitos da mulher lutam para eliminar as brechas e anacronismos nas leis, porém as mudanças precisam reverberar na sociedade, na maneira como a mulher é vista.

E continua:

É por liberdade que as Irmãs Mirabal lutaram, é por liberdade que lutamos a cada dia. Liberdade de ser a mulher que eu quiser, a mulher politizada ou não, a mulher que tem filhos ou não, a mulher que faz um aborto ou não, a mulher depilada ou não, a mulher que faz sexo com quem quiser ou não, mas acima de tudo a mulher que deve ser respeitada e que de maneira alguma pode sofrer nenhum tipo de violência, seja ela física ou psicológica, apenas por ser mulher. Nada justifica a violência contra ninguém.

Foto por Gabi Butcher©, usada sob uma licença Creative Commons. [11]

Foto por Gabi Butcher©, usada sob uma licença Creative Commons.

O debate da violência contra a mulher é um tema quente no Brasil. Recentemente, uma série de eventos envolvendo uma estudante da Universidade Bandeirantes, no estado de São Paulo, provocou muitos posts [12] sobre o preconceito da sociedade contra o corpo feminino. Na ocasião, a estudante de turismo Geisy Arruda usou um vestido rosa curto na sala de aula. Sua história, porém, tange muito mais do que a escolha de uma mulher de 20 anos sobre sua roupa: ela acabou chamando a atenção de muitos estudantes que consideraram o vestido ofensivo. Centenas deles começaram a ridicularizar e xingar a moça, bem como ameaçaram atacá-la naquele dia.

Geisy Arruda acabou por ser expulsa da Universidade sob o argumento de que o seu “comportamento provocativo” não era compatível com as regras da escola, mas depois que a mídia internacional achou o caso rentável e Geisy se tornou uma celebridade na TV e na internet, a universidade reconheceu sua volta como estudante. Até agora, os estudantes que causaram a manifestação não foram punidos. Denise Arcoverde no Síndrome de Estocolmo [13] mencionou o caso em seu blog. Em uma ocasião especial, ela escreveu [14]:

Nesse outro vídeo [15], a imagem da moça saindo escoltada pela polícia.  Fiquei tão passada com a história que me deu uma taquicardia, de raiva. Eu já vi muito machismo, muita cretinice, mas nada com essa violência. Foi um estupro emocional, que não deve ficar por isso mesmo.

Como discutimos no Twitter, a faculdade paulista UNIBAN não é culpada pela atitude canalha dos estudantes, mas é responsável por não ter controlado a situação e ainda deixar a menina ser humilhada ao sair, escoltada pela polícia. Se fosse minha filha, processaria e exigiria milhões de indenização por danos morais.

Foto por Gabi Butcher©, usada sob uma licença Creative Commons. [16]

Foto por Gabi Butcher©, usada sob uma licença Creative Commons.

O blog Corpos em Revolta [17] descreve os diferentes tipos de violência sofridos pelas mulheres e pede aos leitores para tomar parte nesta luta [18]:

Acreditando que a idéia de feminilidade e o ideal de beleza são conceitos socialmente construídos e ferramentas de controle, o Coletivo Antissexista Corpos em Revolta mostra seu repúdio, nesse dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher, a todas as formas de misoginia, machismo, sexismo, homofobia, e racismo, que vitimizam e inferiorizam as mulheres.

E eles acrescentam informações sobre uma manifestação programada para 29 de novembro para celebrar essa luta:

Não acreditamos em padrões de feminilidade nem aceitamos padrões estéticos! Somos a favor da diversidade de corpos e de personalidades, da subversão dos valores sexistas que controlam nossas relações! Propomos uma sociedade onde não haja distinções de gênero, cor, etnia, sexualidade ou qualquer outra forma de inequidade sustentada pela sociedade de mercado!

Para marcar essa data, o Corpos em Revolta fará um ato simbólico no Parque Redenção no domingo, dia 29 de novembro, às 15 horas. Traga sua revolta e participe!

Por fim, lemos a seguinte mensagem [19] no blog do Instituto Humanitas Unisinos [20]:

Mulheres vem sofrendo a violência dos homens presentes em suas vidas (companheiros, pais, irmãos, filhos) há alguns séculos, e cotidianamente, muitas vezes em silêncio e culpadas por acontecer, ou muitas vezes sem saber reconhecer como uma violência e especialmente contra elas, por serem mulheres. Só recentemente e nos últimos anos, a agressividade social e individual contra nós está sendo nomeada e combatida, com o avanço dos movimentos sociais, feministas e de mulheres, muita coisa avançou no sentido de reconhecer como uma forma específica de privação dos direitos ao exercício da cidadania.

Foto por Gabi Butcher©, no Luluzinha Camp usada sob uma licença Creative Commons. [21]

Foto por Gabi Butcher©, no Luluzinha Camp usada sob uma licença Creative Commons.

As fotos que ilustram este texto são de uma reunião LuluzinhaCamp em São Paulo no dia 22 de novembro. Veja a galeria completa de retratos de pensamento positivo [22] por Gabi Butcher, do blog Diapositivo Fotografia [23]. E feliz 2010 [24]!