A decisão do governo marroquino de tirar de circulação as edições de agosto de duas importantes revistas, Telquel e Nichane, parece ter enfurecido a blogosfera daquele país. As duas publicações estavam prestes a revelar o resultado de uma pesquisa realizada em colaboração com o jornal francês Le Monde, na qual marroquinos comuns foram convidados a avaliar a monarquia local nos 10 últimos anos. A consulta, que pretende ser a primeira pesquisa de aprovação pública de um rei marroquino feita com seus próprios súditos, revelou, de acordo com Ahmed Reda Benchemsi [Fr], diretor de ambas publicações, “que 91% dos marroquinos entrevistados consideram a atuação do Rei Mohammed VI positiva ou muito positiva” (Fonte: AFP). Mesmo assim, as autoridades marroquinas intervieram com energia para impedir qualquer forma de divulgação dos resultados, como foi afirmado claramente pelo porta-voz do governo, Khalid Naciri, que declarou que “a monarquia no Marrocos não pode ser objeto de debate nem mesmo via consulta pública.”
Os blogueiros marroquinos foram rápidos na reação a essa postura, a maioria deles contrários à ação do governo.
Agora, um crescente movimento de protestos on line está emergindo com força, simbolicamente representado pela logomarca “I'm 9%” (que poderia ser traduzido como “Eu estou entre os 9%”), criada por Anas Alaoui em referência à “minoria” de marroquinos que, de acordo com a pesquisa proibida, desaprovam ou julgam negativamente a primeira década de Mohammed VI no poder. Uma hashtag no Twitter sob o nome de #9pcMaroc foi rapidamente criada por blogueiros que adotaram a expressão “I'm 9%” em um claro sinal de protesto contra a retirada das revistas das bancas. Os blogueiros também estão trabalhando na implementação de um grupo no Facebook, de modo a expandir ainda mais o movimento.

Eu estou entre os 9%
Mehdi, no blog Satwiker, disponibiliza um link para o vídeo de uma entrevista com o diretor das revistas, Benchemsi, transmitida no noticiário da TV francesa, no canal France 24, na qual o jornalista expressa [Ar] sua desaprovação quanto à proibição, explicando que as publicações não infringiram a lei nem ultrapassaram os limites do bom senso.
Fatima (La Marocaine), no blog Agora, também manifestou sua desaprovação [Fr] à censura. Ela escreve:
A l’air des nouvelles technologies, il faudra que nos dignitaires se rendent à l’évidence que ce genre d’action revient à chercher à cacher le soleil par la paume de la main. Sans oublier que l’info a déjà fait le tour du monde. Comme on dit chez nous » kaye fye9o l’7m9 bederribe l’7jerre» !!! Ce qui aurait pu passer pour une info banale devient une affaire.
equivalem a tentar tapar o sol com a peneira. Sem mencionar que a notícia já se espalhou por todo o mundo […] O que poderia presumivelmente ser considerado um assunto trivial tornou-se um tema de interesse público.
Ibn Kafka [Fr] conclui:
Pour résumer: il existe au Maroc une autorité constitutionnelle ayant une suprématie tant sur l’exécutif qu’indirectement sur le législatif et le judiciaire, dont les actes juridiques ne peuvent en aucun [cas] être attaqués devant les tribunaux marocains, et qui assure la commanderie des croyants (musulmans), et dont le bilan ne peut faire l’objet d’une appréciation publique.
Acredita-se que o Le Monde publicará a consulta na terça-feira, dia 4 de agosto. Mas as autoridades marroquinas já deixaram claro: “Se o Le Monde publicar a consulta, ele não será mais vendido no Marrocos. É uma questão de coerência,” disse o porta-voz do governo.
As revistas Nichane e Telquel foram recolhidas e proibidas de circular anteriormente em 2007, quando seus editoriais em árabe e francês foram considerados “um libelo contra a sagrada pessoa do rei.” O diretor Benchemsi foi o autor dos editoriais e sofre as consequências disso até hoje.