Angola: Papa é recebido pela maior multidão da viagem à África

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Papa Bento XVI é recebido em Luanda pelo presidente angolano José Eduardo dos Santos. Foto: Diário da África, usada com permissão do autor.

O ponto alto da visita de Papa Bento XVI a Angola foi uma missa a céu aberto nesse domingo, quando quase um milhão de pessoas provenientes de todas as províncias angolanas e de outros países africanos vieram assistir a cerimônia, realizada em Cimangola, na periferia de Luanda. Bento XVI foi recebido em Angola pela maior multidão dessa viagem à África, com muitos cruzando o país para receber sua benção na tradicional missa de domingo. Depois da missa, o Papa era aguardado para a visita a um Centro de Defesa das Mulheres, em Luanda.

Helder de Souza ficou impressionado com a demonstração de fé do povo angolano:

Deve ser da presença do Papa em Luanda. A força e o entusiasmo do povo angolano manifestados durante a visita do Santo Padre impressionam-me. São aos milhares e milhares, pelas ruas dos percursos de Bento XVI, a manifestarem a sua alegria e o seu agradecimento pela visita. Mas impressiona-me também a capacidade de organização dos angolanos. As pessoas estão vestidas de branco, usam bonés com a efígie do Papa, escuteiros aos milhares vindos de todo o país, mulheres de todas as províncias, como que a quererem dizer que Angola agradece, na pessoa do apóstolo, a paz que está a viver.

Infelizmente, ocorreu uma tragédia. Duas pessoas morreram pisoteadas e várias ficaram feridas  no sábado, em uma correria na entrada de um estádio onde milhares de jovens mais tarde ouviram o Papa. Há relatos de que houve mais pessoas feridas quando o Papa chegou na sexta. Antes da missa de domingo, o Papa Bento ofereceu suas condolências às famílias das vítimas.

Nas mensagens que dirigiu à nação nos três dias de visita, o pontifício criticou a corrupção, pediu que Angola lute contra a pobreza, solicitou aos líderes africanos que permitam uma maior liberdade de imprensa, condenou o aborto e a violência contra mulheres na África e pediu aos católicos para afastarem-se da feitiçaria, um culto que surgiu no país nos últimos anos. Hilcelia Falcão acompanhou as notícias:

Até agora, nada de novas polêmicas. E o clima tem sido de festa entre os angolanos neste segundo dia de visita de Bento XVI.

Depois da chegada, ontem, no aeroporto, com o povo espremido para disputar espaço na concorrida passagem de Ratzinger por Luanda, recebeu as boas vindas do presidente José Eduardo dos Santos e discursou pedindo justiça social e o fim da corrupção. Exortou angolanos, praticantes do animismo, a abandonarem a feitiçaria. E foi só.

Na agenda de cerimônias religiosas, houve missa na Igreja de São Paulo, onde foi ovacionado pelos fiéis. À tarde, foi a vez do encontro com os jovens no Estádio dos Coqueiros, com direito a empurra-empurra e muita gente passando mal.

Preparativos – Luanda é maquiada

Mais do que a mensagem do Papa em si, os blogueiros angolanos se ocuparam com a maquiagem em tempo recorde aplicada a Luanda, apenas alguns dias antes da chegada do Papa. Afonso Loureiro tira fotos da cidade por trás das cenas e comenta:

A torre que fica em frente ao antigo Hotel Katekero foi pintada de amarelo casca d’ovo e vermelho tijolo. Para receber o Papa, dizem. O contraste entre os dois edifícios é abissal, porque o hotel continua com o aspecto de que não vê obras de conservação há décadas. Parece que o Papa só precisa de ver o que está em frente e o Hotel fica fora de vista. É pena que sejam só obras de fachada.

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Foto de Afonso Loureiro, usada com permissão do autor

Helena Araújo comenta a notícia de que o Papa decidiu rezar uma missa em uma parte da cidade que não estava inicialmente nos planos, e por isso não tinha sido reparada:

Arranjaram-se as ruas de Luanda por onde o Papa ia passar.

Pintaram-se as fachadas das casas – ou as traseiras, nos casos em que era essa a parte da casa que se via da rua.

Distribuiu-se água, para o Papa não ver pelas ruas pessoas com baldes de água à cabeça.

O clero, que “é esperto, e já é esperto há muitos anos”, como me contaram a rir, resolveu que a missa solene havia de ser feita num dos bairros degradados da cidade.

À luz destes acontecimentos, atrevam-se agora a dizer que a presença da Igreja Católica em África não é positiva…

Na véspera da chegada de Bento XVI, a blogueira do Menina de Angola também escreve sobre as mudanças que rapidamente tomaram conta de Luanda:

“Se o trânsito de Luanda já é caótico normalmente, imagine com a Santidade por estas bandas. Várias ruas serão fechadas e todo o aparato de segurança vai estar de plantão. Dizem as más línguas que na ultima visita de um Papa em 1992, a guerra explodiu logo após a sua saída. Mas a gente sabe que isso é maldade do povo, não é?.

Enquanto a cidade se engalana para receber Bento XVI, outros bloguers nacionais vão deixando as suas opiniões acerca da igreja católica, nomeadamente em questões como a Sida e a presença do Papa na capital.”

Em relação a isso, o blogueiro de Parem o Mundo Quero Sair aproveita a oportunidade para criticar algumas das posições do Vaticano depois de comentários muito conservadores feitos pelo Papa no início da viajem de que a SIDA “não pode ser resolvida com a distribuição de preservativos, que inclusive agrava os problemas”:

“Na África subsaariana, cerca de 25 milhões de pessoas estão actualmente infectadas com o vírus do HIV – 70% do número total de doentes no mundo. O vírus afecta 5% da população adulta e já deixou órfãs cerca de 11 milhões de crianças, contudo este senhor resolve apregoar por terras africanas que o uso do preservativo agrava a propagação da doença. Para mim, a partir deste momento, o senhor Papa passa a ser responsável por umas quantas mortes que venham a acontecer futuramente, pois infelizmente, existem muitos católicos em terras africanas que não duvido, sigam à risca os conselhos de Sua Santidade”.

Eugénio Costa Almeida escreve sobre o fato de que Luanda foi a única cidade angolana a receber o Papa:

“Apesar de ser uma visita a convite do Presidente Eduardo dos Santos, vai recordar os 527 anos da evangelização de Angola e o facto de, Angola ter sido o primeiro país subsaariano a ser evangelizado. Ora se o assunto principal é a celebração da evangelização porque é que o Papa só fica por Luanda e não se desloca a Mbanza Congo, a capital do Reino do Congo, cidade onde se iniciou a evangelização do território que deu Angola? Tal como não vai ao Santuário da Nª Senhora da Muxima nem ao da Senhora do Monte, no Lubango. E já nem falo a outras partes do país. Parece que continua a haver quem ache que Angola é só Luanda e o resto é só beleza paisagística e faunística ou coutada de minas…

Porque só saindo das capitais o Papa Bento XVI poderá fazer jus à visita papal: “Abraçar África nas suas Mil Diferenças”.

Quanto a esses problemas, o representante do Vaticano D. Angelo Becciu respondeu: “Temos de compreender bem que o Santo Padre já tem a sua idade e não tem a possibilidade de ir a outras províncias”.

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Foto de Afonso Loureiro, usada com permissão do autor

Depois de visitar Camarões, o Papa Bento XVI chegou em Luanda na sexta-feira 20 de março para uma visita de 3 dias que finaliza o tour da África. Ele volta a Roma na manhã dessa segunda-feira. Essa foi a primeira visita papal a Angola desde 1992, quando seu predecessor João Paulo II veio pedir o fim da guerra civil (1975-2002). Acredita-se que mais de 60% angolanos sejam Católicos, sendo que a religião foi introduzida no país por missionários portugueses no século XVI.

Paula Góes colaborou com a redação e traduziu esse artigo.

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