Brasil: Sobre a condenação do Vaticano no caso de aborto da menina estuprada

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Olinda and Recife's archbishop, dom José Cardoso Sobrinho, by Alexandre Severo, published under a Creative Commons license

Na última semana de fevereiro, uma menina de apenas 36 quilos, 1,33 metro, e 9 anos de classe média-baixa, na cidade de Alagoinha, no Pernambuco, reclamou de fortes dores na barriga. Acompanha por sua mãe até uma unidade de saúde, constatou-se a gravidez de gêmeos na 15ª semana de gestação. Então confessou à mãe que ela e a irmã mais velha, de 14 anos, eram violentadas pelo padrasto há pelo menos 3 anos. O padrasto será indiciado por estupro e está detido no presídio público de Pesqueira, no Pernambuco, onde deve permanecer até o fim do inquérito.

Depois de muita oposição da Igreja Católica e do acompanhamento de psicólogos, o aborto foi realizado, previsto na legislação brasileira em casos de estupro (até a 20ª semana de gestação) e quando houver risco de morte para a mãe. Este caso se encaixava em ambas as características.

Mas, em seguida, um debate social envolvendo a Igreja Católica e o poder Judiciário veio a tona no Brasil: amparado pelo Vaticano, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungoua mãe, o médico e a equipe de médica responsável pelo procedimento cirúrgico. A menina foi poupada, já que a lei da Igreja Católica diz que menores estão livres da excomunhão. Contudo, não excomungou o padrasto, chegando a dizer no jornal O Globo (7/3/09) que o “crime de estupro é menos grave” que o de aborto e que “os gêmeos eram pessoas inocentes”.

A notícia que reacendeu no Brasil o tema do aborto, pôs em evidência a interferência da Igreja Católica sob decisões pessoais e judiciais de um Estado laico, movimentou a blogosfera lusófona. Sebastião Nunes, em seu blog Pedra de Responsa, se manifesta:

É impressionante a hipocrisia envolvida neste julgamento inquisitorial feito pala Igreja Católica. Uma criança violentada em seu corpo e seus direitos, desde os 6 anos de idade, com risco elevado de morrer pela continuação da gestação, tem, conforme a estúpida decisão destes cardeais, que aceitar a beleza do milagre da vida e morrer, se necessário for, pois esta foi a vontade de Deus.

E depois a Igreja Católica não entende porque o povo abandona as suas fileiras. Conforme o julgamento da Igreja foi a vontade de Deus que fez o padrasto da criança estuprá-la covardemente. Triste Deus este.

Em tom de ironia, Lelê Teles, no blog Technosapiens, diz que o Brasil é o país da piada pronta, lamentando que o clérigo tenha punido a frágil vítima justo no dia Internacional da Mulher:

O mais indignante é que no dia internacional da mulher, um senhorzinho religioso aparece para mostrar que o mundo dele ainda é machista, e que machistas deveriam ser o estado e a ciência.

O bispo queria que a menina seguisse grávida de outra menina porque ele diz que defende o direito à vida. Mas como a menina de nove anos de idade corria risco de morte se continuasse com a gestação, logo, subentende-se que o bispo defendia a vida do… estuprador.

Vitor Lessa tem em seu blog uma publicação chamada Ignorância, na qual indaga se a Igreja Católica sabe que vivemos em um estado laico, se ela sabe que nem todos pertencem a essa instituição e aponta outros pontos de vista questionáveis ‘sugeridos’ pelo Vaticano.

[…] ele [o cardeal] está afirmando que devemos voltar a idade média quando o Estado e a Igreja se confundiam e o clero ditava as regras supostamente estabelecidas por Deus. Quando milhões de pessoas foram queimadas em nome de Deus, quando a igreja dizia que os homens deviam servir a seu senhor feudal porque Deus assim desejava e muitos outros fatos. Em momento nenhum ele pensou que o Brasil não é constituido somente de católicos, que o Brasil é um país laico (sem religião definida) e que os seus habitantes elegeram pessoas que fizeram uma constituição legítima para reger o país e sua população. Em momento nenhum o bispo lembrou que não está na idade média e que, acima da instituição a qual ele pertence, existe um Estado que deve atender às necessidades de todos os seus cidadãos. Afinal, todos são iguais perante a lei e pagam impostos para sustentar a nação. Não pensem que essa é uma atitude isolada de um bispo, é uma postura sustentada pela Igreja católica. A igreja católica não somente é contra o aborto em casos de estupro, mas também contra a lei que protege os homossexuais, que pagam impostos e são juridicamente iguais ao bispo. Portanto, se a igreja aceita que parcelas oprimidas (como as mulheres que são agredidas por seus maridos) sejam protegidas por lei, por que outra parcela como a dos homossexuais não podem ser progida? Afinal, são ou não são todos iguais? A igreja católica também proibe o uso de camisinha ou qualquer método anticoncepcional.

Daniel Braga, em seu blog Mausoléu do Gárgula, fala sobre o assunto com o título de Cegueira Religiosa. Nesta publicação, o blogueiro faz uma série de questionamentos que tratam não apenas das condições físicas da menina continuar com a gravidez, mas também das condições financeiras e sustentáveis de ter dois filhos aos 9 anos:

Acredito que uma das piores coisas já inventadas pelo homem é a cegueira religiosa. Observem bem que não estou falando da religião em si, pois esta é realmente importante ao homem, mas sim de dogmas absurdos que acabam causando a cegueira religiosa.
[…]
Surgem algumas perguntas e não vou de forma alguma respondê-las, deixando a todos a tarefa de refletir sobre as possíveis respostas:

  • Será que esta menina conseguirá prosseguir com esta gravidez sem que seu corpo seja mais maltratado do que já está? Poderia esta gravidez ter um risco elevado levando então a morte das crianças, todas as três?
  • Como uma criança poderá criar estas duas crianças?
  • Qual o dano social futuro desta família?
  • Como estará a mente desta pobre criança que deveria estar brincando com bonecas mas que foi o alvo dos abusos de um estuprador?
  • Como será a estrutura familiar que esta menina vive?
  • Como ficaria esta mesma estrutura familiar depois do nacimento destes bebês?
  • Qual deveria ser o papel da religião neste caso? Um papel punitivo ou confortante?
  • Sendo punida, direta ou indiretamente, pelos representantes religiosos, como esta criança se sentirá agora? Será que ela somatizará os problemas jogando em si mesma a responsabilidade do hediondo fato?

Até o presidente Lula se manifestou, dizendo que é católico e pessoalmente contra a legalização do aborto, mas que como chefe de estado apóia a prática em casos como este (e como uma questão de saúde pública). Além disso, também criticou a postura Católica:

[…] a medicina fez o que tinha que ser feito, salvar a vida de uma menina de 9 anos. […] Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo da Igreja católica tenha um comportamento, eu diria, conservador como esse.”

O advogado da Igreja Católica disse que entraria com uma denúncia por homicídio contra mãe da menina, com base nos artigos 1º e 5º da Constituição Federal, que asseguram a inviolabilidade do direito à vida. Ele disse que “além de considerar nossas convicções religiosas, nossa denúncia está atrelada à Constituição”. Mas, o Ministério Público de Pernambuco se pronunciou a respeito do caso:

O Ministério Público de Pernambuco, através da promotora Jeanne Bezerra, está acompanhando junto à Secretaria Executiva da Mulher e à ONG Curumim o caso da garota de nove anos grávida em decorrência de estupro em Alagoinha. De acordo com as informações repassadas à promotora pelo órgão e pela entidade, a garota está recebendo o acompanhamento médico, psicológico e social assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Até agora, não foi necessária a atuação judicial do MPPE. Como a legislação brasileira PERMITE o aborto em vítimas de estupro até a 20ª semana de gestão (entendimento do STJ), o procedimento pode ser realizado de acordo com avaliação médica, INDEPENDE de autorização judicial e, portanto, de parecer do Ministério Público.

A maioria das reações na blogosfera brasileira criticaram a atitude da Igreja Católica, mas um pequeno grupo de blogueiros apoiou a decisão do arcebispo brasileiro de excomungar todos os envolvidos no aborto. Entre eles, Jorge Ferraz, desde Pernambuco, escreveu em uma carta aberta para dom José Cardoso Sobrinho e recebeu mais de 100 comentários, tanto a favor quanto contra a decisão da igreja. E em outro blog, numa carta aberta anterior, Maite Tosta, quem também é mãe, disse que a decisão da Igreja não poderia estar mais correta:

Nesse momento, em que essa menina precisava de apoio, de ajuda, de atendimento médico, psicológico e porque não, espiritual, vozes se levantaram para apontar uma saída “mais fácil”, que querem fazer crer que era a única razoável…

Logicamente, a situação da menina preocupa. Mas e os gêmeos? Não merecem nosso cuidado? Nossa preocupação? A vida humana não-nascida é tão vida quanto a nascida, e merece o mesmo cuidado. Por serem frutos de uma relação violenta, que não deveria ter sido consumada, não são humanos? Quer dizer que um feto é gente quando é desejado, e é coisa quando não o é?

O que é mais fácil para os envolvidos? Dar assistência, cuidar, acompanhar? Ou “eliminar o problema”? Mas… pergunto, mais fácil para quem? Afinal, essa menina vai crescer, não sem marcas deixadas por esse episódio. Apesar de todas as pessoas ao seu redor lhe dizerem que foi melhor assim, que seu corpo não comportava, que era gravidez de risco, que eram crianças frutos de violência e ela não precisava conviver com elas, que a lei não pune… ela sempre terá na sua consciência que consentiu na morte dos próprios filhos… essa é uma memória que não se apaga nunca, e que tem um gosto amargo.

Infelizmente, o caso não foi o primeiro e,  provavelmente, não será o último. No dia 6 de março, outro padrasto foi denunciado por estupro, desta vez no Rio Grande do Sul. A menina, de 11 anos e grávida de sete meses, está internada em Tenente Portela (RS) e a gestação é considerada de risco. O inquérito está em andamento em ambos os casos.

39 comentários

  • Yuri

    Devemos sempre ter cuidado ao expressar nossa opinião sobre algo para não nos expressarmos de maneira pré-conceituosa. Por a Igreja defender um ponto de vista que contraria a alguns não quer dizer que ela esteja voltando à Idade Média. Ela não está ditando normas para o Estado; mas defendendo seu ponto de vista, como qualquer outra instituição tem o mesmo direito. Ao contrário da Idade Média, ninguém é obrigado a aceitar o que ela diz; mas isso não significa que ela não tenha o direito de se posicionar perante um tema ou um fato de nível social, afinal, ela faz parte da sociedade.
    Um embrião não é apenas um aglomerado de células ou uma possibilidade de vida, ele é uma vida humana. Ele ainda não tem sentimentos humanos da mesma forma que um recém-nascido não os tem, mas é humano e não pode ser tratado com desprezo seja qual for a ideologia política e religiosa professada pelo indivíduo. Não se trata de dizer que a vida da menina é menos importante que a dos embriões ou vice e versa; mas que se deveria buscar uma saída que tentasse salvar todas as três vidas, mesmo que não fosse a mais fácil. O estupro sofrido por ela foi, sem dúvida, algo horrível e abominável, no entanto, não podemos justificar um erro em troca de outro.
    O arcebispo de Olinda e Recife, Dom José, expressou-se mal ao falar à mídia e isso causou toda a confusão: ele queria dizer uma coisa e disse outra, pois a linguagem tem suas falhas. O crime do aborto pode ser considerado mais grave que o do estupro, pelo fato de nesse momento uma vida humana e inocente estar sendo eliminada; porém o estupro não deixa de ser uma triste violência e deve, por isso, a pessoa responsável ser penalizada de acordo com a lei.
    A excomunhão na Igreja existe desde os seus primórdios na Idade Antiga e tem como papel alertar o excomungado do erro que cometeu e não puni-lo, pois a punição é dada pela sociedade. A excomunhão não significa na Igreja que a pessoa vá para o Inferno, nem é algo irreversível, pois pode ser retirada mediante a confissão. E ela só existe de fato para aquele que professa a fé católica, para quem não a professa, nada aconteceu de mais. Por o estupro ser uma realidade condenada por toda a sociedade e punida pelo estado, não há a necessidade de se haver uma excomunhão, pois ela é um alerta para a sociedade e não há dúvida para ninguém que aquilo foi um crime de grande proporção. O aborto provocado, por não ser condenado por toda a sociedade, deve ser causa de excomunhão a fim de alertá-la sobre tal atitude errônea.
    A Igreja é uma instituição religiosa e social e, logicamente, tem seus princípios. Quando a Igreja diz aos jovens para não usarem camisinha, ela está dizendo-lhes para não fazerem sexo antes do casamento. Obviamente, ninguém tem a obrigação de apoiá-la nisso, pois todos têm o direito de concordar ou discordar dela. Mas, concordando ou não, ela é assim e não vai mudar, ela é a Igreja Católica, que, em toda a sua história, houve pessoas que a apoiassem e outras que a condenassem. E desse jeito, com pessoas contra e a favor, ela saiu do século I e entrou no século XXI.

    • …é a Igreja Católica, que em sua usual arrogância se acredita no direito de se posicionar contra ou a favor do que bem lhe aprouver sem se responsabilizar pelas consequências objetivas de seus poderosos ditames. Afinal de contas, quanto mais desgraça houver na vida das pessoas e no mundo, tanto melhor para a Igreja, que acolhe aos desesperados e capitaliza em cima de seu sofrimento. Poucas vezes se viu uma instituição tão hábil em criar seu próprio público e defender seu mercado. Mais do que mercadores de fé… são capitalistas industriais de atenção e opinião da pior espécie. Mais ainda, são uma instituição irresponsável que prefere se preocupar em excomungar e condenar publicamente uma criança e sua família do que perseguir e entregar os estupradores que protege em seu próprio seio. Há sim um crime pior, por proporção, do que o estupro sistemático da jovem menina. São os mais de 10 MIL casos de violência sexual contra menores perpetrados por padres de todo mundo, cujas investigações são historicamente barradas pela própria Igreja. Para quem não sabe, há até um explicativo documentário sobre o tema, aqui:
      http://pt.globalvoicesonline.org/2008/04/18/brasil-eua-sexo-crime-e-o-vaticano/

      Enquanto a Igreja permanecer em sua hipócrita defesa dos estupradores que nutre em seu seio, não se importando realmente com seus fiéis e destruindo vidas cinicamente, não há como aceitar os posicionamentos desta instituição. Não há mil nem dez mil palavras a serem ditas que possam excusar tamanho crime. E carregando sobre si tamanho “pecado”, como pode esta mesma Igreja opinar sobre a vida de uma pobre criança violentada? Como pode a mesma Igreja que é lar de mais de 4 mil padres estupradores só nos Estados Unidos da América se arrogar o direito de dizer o que é certo e errado na vida da pobre garota do Nordeste Brasileiro e, ainda por cima, discretamente absolver o algoz da menina?

      É muita cara de pau!
      Bando de assassinos e violentadores de mulheres e crianças! Tenham vergonha!

      Abraços do Verde.

  • Olá pessoas de boa vontade.

    Lá no literar li esse cordel. Demais.
    Aqui vai o meu comentário, que penso, pode caber aqui.

    Deus criou o mundo, e o Diabo tomou conta.

    O que mais me impressiona,
    nessa história toda,
    é que no mundo sempre existiu,
    -e sempre existirá –
    Muitas Sodomas,
    Outras tantas Gomorras,
    e a Igreja, que deveria ser extinta,
    sempre carregou na vida,
    a libidinosa corrupção.
    abusos sempre foram cometidos,
    e para os pobres, o castigo,
    para os ricos, a complacência.
    Questiona-se o valor da vida,
    para bispos e infanticidas,
    extrupros e outras violências,
    em muitas sacristias,
    perdem-se inocências,
    e religioso algum é punido.
    O bispo com seus pruridos,
    deve ter lá uma leva de pecados,
    aos quais ele mesmo julga-se absolvido.
    Porque defende a vida de um feto,
    mas se a menina parisse,
    ele não quereria os filhos do pecado por perto.
    é muita hipocrisia para pouca razão.
    Há tanta fome no mundo,
    por que não excomungar essa violação?
    e as vidas que morrem famintas,
    por desígneos humanos, extintas,
    não merecem também atenção?

    Bem aventurados os réus,
    pois deles será Reino dos céus.

    (“O inferno, é aqui…” Já dizia o bardo falando de uma Pessoa Nefasta. Dedico-a aos bispos católicos apostólicos da igreja romana – tudo em minúsculo)

    Escrito originalmente por AnnaLee, no Literar.org/

  • Clara

    Não admira que a Igreja Católica seja considerada ultrapassada e tenham cada vez menos ovelhas no seu rebanho. A igreja precisa acompanhar os novos tempos, as novas formas de pensamento e adaptar-se a esta realidade sem condenações, excomunhões, censuras e etc..
    Não consigo perceber como um elemento da igreja (que antes de mais é humano) considere a atitude do anormal do padrasto, menos grave do que o aborto. Isso é o mesmo que apoiar a violação. É dizer a esse indíviduo: “continuas com as portas do céu abertas, porque o teu acto não foi assim tão terrível”. Não foi assim tão terrível? Para mim este é o pior dos crimes, ainda mais cometido contra duas crianças. O tal do arcebispo devia estar calado, porque em boca fechada não entra mosca. É revoltante! Revoltante!!

    • Yuri

      Há um certo tempo, antes da laificação dos estados antes católicos, as pessoas eram obrigadas a professarem a fé católica. No Brasil, por exemplo, antes da queda do Império e da Proclamação da República, ser brasileiro implicava em ser católico, mesmo que o indivíduo não acreditasse nos ensinamentos da religião. Com a laificação dos estados, foi proclamada a liberdade de culto, em que a pessoa não fica obrigada a aceitar a fé e a doutrina católica nem de nenhuma outra religião. Pelo fato de essa liberdade ter sido proclamada e de muitos, no seu direito, optarem por não mais seguir tal doutrina, não significa que ela tenha que mudá-la ou atualizá-la, para simplesmente agradar as pessoas, passando então “por cima” de seus princípios. Atualização de fato houve no concílio Vaticano II. As estatísticas indicam que em nível mundial o rebanho católico só tem aumentado.
      As portas do céu (de acordo com o cristianismo) não são fechadas a ninguém, nem mesmo aos excomungados, pois a excomunhão é um alerta e não uma condenação. Elas estão abertas a quem quiser nelas entrar, inclusive ao pior dos bandidos, pois todos têm a oportunidade de se arrepender e de mudar de conduta.
      Quanto a calar-se, calar-se diante de um problema é omitir-se, é ser indiferente a ele é compactuar com ele.

      • … Ao mesmo tempo, bem sabemos do poder social exercido pela Igreja no interior do Brasil. Nestas regiões rurais, uma excomunhão é uma garantia de violência, e talvez até uma ameaça de morte sobre a pessoa. No inteiror do Nordeste Brasileiro, bem se sabe que uma pessoa que não esteja nas graças do padre ou do pastor local sofre perigo de vida, e passa necessidade por não conseguir emprego ou pouso. Por isso, vamos cortar o papo furado de Estado Laico no Brasil — o que só acontece no papel quando se sai das capitais e vai para o interior, onde pessoas que gozem da proteção da Igreja e dos coronéis locais tudo podem, e onde aqueles que não estão nas graças destes só podem fugir ou esperar pela morte “matada ou morrida”…

        Devo inferir que a hipocrisia é uma característica dos defensores da Igreja? Parece-me uma constante.

        Abraços do Verde.

  • Yuri

    Eu não vou mais postar mensagens aqui, mas eu só queria dizer que um feto não é um dente podre que, quando está atrapalhando, o arrancamos, é uma vida humana. Quando uma mulher provoca o aborto, ela não só toma decisões somente sobre seu corpo, mas também sobre seu filho que carrega, pois decide matá-lo. E nenhum pai ou mãe pode decidir matar seu filho.

    • Seja sempre bem vindo a expressar-se aqui, Yuri. Lembrando sempre que todos são igualmente bem vindos a opinar sobre suas colocações.

      Nem por um momento quis dar a entender que um feto seja um “dente podre que se arranca”, nem muito menos que o aborto seja uma decisão fácil ou que possa ser tomada levianamente. Longe disso, é uma decisão difícil e sofrida para a mulher — e passar por cima desta decisão, e condená-la pela sua escolha, se torna então um desrespeito ainda maior para com a mesma.

      Se o feto representa vida ou não, é uma outra discussão. Acredito que ele seja um ser vivo, assim como todos os animais que por nossa anuência ou apetite são trucidados para nos dar carne, couro, corantes, remédios, enfeites…

      Você come carne? Usa roupas de couro? Bebe leite de vaca, extraído da escravidão de milhões de pobres animais? Pois eu acredito que mulheres tenham o direito de abortar os fetos que não desejarem portar, cuidar e sustentar pelos próximos 20 anos. Eu respeito o direito à vida digna das mulheres. Será que você respeita mais a vida do que eu? Ou será que para você apenas os fetos possuem uma vida digna de ser defendida? Enquanto milhares de crianças e adultos sofrem e morrem de fome e guerra, milhões de animais são massacrados para alimentar a indústria e o nosso consumo, você está preocupado única e exclusivamente com fetos que as mulheres portam em seus ventres? Qual é, enfim, a vida que lhe é sagrada, e qual é a vida que lhe é dispensável?

      Abraços do Verde.

      • Yuri

        Caro Daniel Duende, obrigado por dizer que sou bem-vindo a expressar-me. Eu não me ofendi com suas colocações. Quando disse que não ia mais postar mensagens, eu quis dizer que já tinha dito o queria dizer; mas como você me fez umas questionou, vou responder-lhe.
        Quando disse que o feto não é um dente podre, não quis dizer que você tenha dito isso, apenas usei essa figura de linguagem para melhor expressar minha opinião. Sem dúvida, não é fácil para uma mulher tomar a decisão de abortar; mas não é justo tirar-lhe a vida porque sua mãe o rejeita, seja qual for o motivo. Enquanto a más condições de vida, é lamentável saber que crianças nasçam sem ter condições dignas de vida, mas isso não nos dá o direito de matá-la, seria o mesmo que matar um mendigo por não ter boas condições de vida. Um feto sem dúvida é um ser vivo, porém, mais que isso, é um ser humano e merece respeito. Até os demais seres vivos merecem também respeito, contudo nós somos seres onívoros e precisamos nos alimentar deles, mas destruir a vida de um animal por motivos fúteis, como fazer enfeites…
        Toda vida humana é sagrada, seja do feto, da criança, do adolescente, do adulto, do idoso. Não há vida humana que seja dispensável. Quando Jesus disse: “eu vim para que todos tenham vida, e a tinham em abundância”, quer dizer que devemos defender e respeitar a vida humana em sua existência e dignidade. Preocupo-me sim com a vida do feto, mas também me preocupo com a vida de milhares que morrem na guerra, que morrem de fome, que não têm vida digna, afinal defender a vida é defender sua existência e dignidade.
        Sou nordestino, recifense. Sou da capital, de fato, mas vou muito ao interior, pois todos os meus parentes vieram de lá. O Nordeste não é, logicamente, uma das sete maravilhas do mundo; mas não é também, como divulga a mídia sensacionalista, um local onde há bando de pobrezinhos, coitadinhos… A excomunhão da mãe da menina foi retirada pela CNBB, por alegar que agiu sob pressão. Mas, mesmo assim, excomunhão não é garantia de violência nem de perigo de morte nessa região de Alagoinha.
        Não sei, Daniel, quem defende mais a vida, se sou eu ou você. Espero que seja você.

        • Caro Yuri,

          Fico feliz que tenha retornado e se sentido instigado pela conversa. Em seguida vou fazer alguns comentários sobre suas colocações.

          “Sem dúvida, não é fácil para uma mulher tomar a decisão de abortar; mas não é justo tirar-lhe a vida porque sua mãe o rejeita, seja qual for o motivo.”

          E seria justo então que uma mulher tenha que gestar, dar à luz e criar um filho que nunca desejou? Você acha que algo bom, para mãe ou filho, pode advir disso? Você acha que a um homem que não tem nenhuma conexão com a mulher que decide abortar cabe o direito de opinar sobre a vida da mesma, e se opor à sua decisão? Eu creio que nós homens não temos o direito de falar sobre algo que nunca — nunca — recairá realmente sobre nós: a gestação e maternagem de uma criança. É por isso que creio, de antemão, que toda mulher tem o direito de decidir. Porque antes de mais nada, creio que eu e você não temos o direito de dizer que ela não tem, indiferente das minhas e das suas convicções. E se a vida é sagrada, nos nós nos abstenhamos então de toda a morte que causamos antes de impor sobre o outro qualquer sacrifício.

          “Enquanto a más condições de vida, é lamentável saber que crianças nasçam sem ter condições dignas de vida, mas isso não nos dá o direito de matá-la, seria o mesmo que matar um mendigo por não ter boas condições de vida.”

          Discordo. Antes de mais nada, não são apenas as condições de vida da futura criança que estão em jogo. Estão em jogo também as condições de vida da mulher forçada a gestá-la. E se esta mulher vai ter que passar por dificuldades que não deseja passar, por conta daquele filho indesejado, vamos dizer então que ela é forçada a isso? Você acha que tem o direito de dizer que outra pessoa deve carregar no ventre, e depois criar, um filho que nunca quis? Como você se sentiria se fosse você a pessoa forçada a abdicar de todos os planos que fez na vida, e talvez de todas as chances que teria, só para criar uma criança que desde a concepção você odeia? A vida deste feto é mais importante do que a vida da mulher nascida, feita, que terá que abdicar de tudo? Creio que não. E quem acha que este feto merece viver, deve procurar então uma forma pela qual ele possa viver sem obrigar uma mulher que não deseja a gestá-lo. E de preferência, esta mesma pessoa deve assumir a responsabilidade de criá-lo. Eu não queria estar no lugar da mulher que, além de massacrada pela sociedade machista, ainda é obrigada a gestar e cuidar de um filho que não quer. E é por isso que eu nunca desejaria isso para ninguém. E você? Será que não é fácil demais falar de defender a vida dos fetos quando isso NUNCA irá pesar em seu ventre e em sua vida?

          “Um feto sem dúvida é um ser vivo, porém, mais que isso, é um ser humano e merece respeito.”

          E o fato de ser humano o faz mais digno de respeito do que o boizinho que você comeu no almoço? O nome disso é especismo, e é um parente do racismo e do machismo, dois outros males que afligem o mundo. E o fato de ser vivo, biológicamente, o torna então mais importante do que a vida digna e a alegria de sua mãe? Então você nunca deveria ter permitido que colocassem aquele bife no seu prato. O boizinho estava vivo antes de ser morto, e a sua fome ou omnivorismo não tem precedência sobre a vida dele, não é mesmo? Quando se servir do próximo franguinho ou do próximo peixinho ou do próximo boizinho no jantar, pense que você não está fazendo NADA diferente de uma mãe que aborta: está colocando os seus interesses acima dos interesses de outro ser vivo. Se isso está certo ou errado, cabe a você julgar. Mas lembre-se de ser honesto e estender o seu julgamento ao resto do mundo. Hipocrisia deveria ser pecado.

          “Até os demais seres vivos merecem também respeito, contudo nós somos seres onívoros e precisamos nos alimentar deles, mas destruir a vida de um animal por motivos fúteis, como fazer enfeites…”

          Viu? Você mesmo está dizendo que o fato de sermos onívoros é um ‘bom motivo’ para tirarmos a vida de outros seres vivos, dos quais nos alimentamos. Por outro lado, é comprovado que nós, que você diz sermos ‘onívoros’, podemos viver perfeitamente comendo apenas vegetais e não utilizando nenhum produto de origem animal. Mas se o fazemos, é porque queremos, porque gostamos, porque somos caprichosos e egoístas e gostamos de nos esconder por trás de falsas necessidades para perpeturar nossos caprichos. E se você tem direito de comer seu frango e usar seu sapato de couro, a mocinha que cruzou por você na rua não tem o direito de decidir se quer ou não carregar uma vida intrusa em seu ventre e em sua vida pelos próximos 20 anos? Não faz sentido!

          “Toda vida humana é sagrada, seja do feto, da criança, do adolescente, do adulto, do idoso. Não há vida humana que seja dispensável.”

          Mas então as vidas não-humanas são dispensáveis? E as vidas dos humanos que você pode fingir que não estão morrendo — as mulheres que morrem em abortos clandestinos, as vítimas do radicalismo religioso ocidental, etc… — são dispensáveis? O discurso de “toda a vida é sagrada” é muito bonito, mas se você olhar bem de perto, ele nunca se sustenta. E usar este discurso de “toda vida é sagrada” para meter o bedelho na vida alheia me parece uma certa “conspurcação do sagrado”, não? Ou é só a vida biológica, e não a psíquica, que é sagrada? E se só a vida biológica é sagrada, biologicamente você não é mais vivo do que o boizinho, do que o passarinho, do que o peixinho. Há quem diga até que a vida psíquica destes seres é igualmente tão complexa quanto a sua. Mas uma coisa é fato, um boi sofre muito mais ao morrer do que um feto. E mesmo assim, a vida do feto importa mais para você do que a do boi. Talvez esta seja a diferença. Você relativiza o valor da vida entre as espécies, e eu relativizo o valor da vida como um todo.

          “Quando Jesus disse: “eu vim para que todos tenham vida, e a tinham em abundância”, quer dizer que devemos defender e respeitar a vida humana em sua existência e dignidade”

          Acho escusado dizer aqui o que os meus deuses disseram. Acho que você, por não partilhar de minha fé, não tem nada a ver com isso e, por sinal, não se importa se eu creio ou não em algo que não seja aquilo que você crê. A recíproca é verdadeira. Portanto vamos poupar os leitores desta discussão das palavras de Jesus. Elas só interessam aos seguidores das mesmas, e não servem de argumento senão quiçá entre pessoas que partilham a mesma fé.

          “Preocupo-me sim com a vida do feto, mas também me preocupo com a vida de milhares que morrem na guerra, que morrem de fome, que não têm vida digna, afinal defender a vida é defender sua existência e dignidade.”

          Ainda assim acha que a vida do feto é mais importante do que a vida digna, ou mesmo a vida biológica, da mãe, não é? Vamos lá… na verdade a vida das mulheres para você deve estar mais próxima da vida dos boizinhos do que da vida dos fetos, que podem vir a ser homens, não é mesmo?

          “Sou nordestino, recifense. Sou da capital, de fato, mas vou muito ao interior, pois todos os meus parentes vieram de lá. O Nordeste não é, logicamente, uma das sete maravilhas do mundo; mas não é também, como divulga a mídia sensacionalista, um local onde há bando de pobrezinhos, coitadinhos…”

          Não vejo onde insinuei que o sertão nordestino é um lugar onde só há um bando de pobrezinhos, muito embora a pobreza reinante em várias regiões seja inegável. O meu ponto era sobre o elevado poder social da Igreja nestes locais, algo que pelo visto você não pode negar.

          “A excomunhão da mãe da menina foi retirada pela CNBB, por alegar que agiu sob pressão.”

          Creio que algumas coisas sejam um tanto graves demais para se resolverem com um “desculpem, agimos sob pressão”. Eu e você podemos fazer afirmações impensadas e porque não nos declaramos porta-vozes de uma instituição poderosa como a Igreja. Eles não PODEM alegar ter agido sob pressão, pois suas manifestações afetam vidas demais. Se o Papa é infalível e os bispos são considerados sapientíssimos pela condição que ocupam, devem estar à altura. E se não estiverem? Nunca ouvi falar de um bispo demovido por ser um idiota completo (ou um violentador de criancinhas). Quem se arroga a perfeição e erra, não merece mais respeito ou confiança. Quem se arroga a perfeição e erra e nada faz para corrigir as consequências do erro, mais do que não confiável, é irresponsável e cruel. A CNBB não é digna de perdão e piedade, posto que não é conhecida por ser piedosa ou compreensiva com aqueles que ataca encarniçadamente, pelos próprios motivos.

          ” Mas, mesmo assim, excomunhão não é garantia de violência nem de perigo de morte nessa região de Alagoinha.”

          Você diz que não é. Alguns estudiosos dizem que é. Fica o dito pelo não dito. Eu não sei. Nasci no Planalto Central e não conheço a fundo a sua região, mas posso dizer que tendo a acreditar mais na palavra de estudiosos sérios e laicos.

          “Não sei, Daniel, quem defende mais a vida, se sou eu ou você. Espero que seja você.”

          Eu acredito no valor da vida integral, com dignidade, possibilidades e equanimidade — igualdade na diferença. Por definição, acredito que toda vida é igual, e defendo que deve ser preservada e valorizada. Mas a partir do momento que me dou o direito de comer um bife ou de estar agora usando um sapato de couro, creio que a vida digna e os sonhos de uma mulher podem ser mais importantes para ela do que a vida de um aglutinado de células que só vai tornar-se uma pessoa se ela o gestar por nove meses, cuidar, criar e ensinar. É da vida dela que este feto depende, e ela tem o direito de não querer dar sua vida por ele. Eu sou homem, e não daria a minha vida para um filho, e por conta disso não tenho filhos e respeito as mulheres que não dariam seu corpo e sua vida para um filho. Eu não digo que sou, por definição, um defensor da vida. Eu apenas não sou hipócrita. E você? Que vida você defende? Só aquela que te interessa, e que se assemelha à sua? Só aquela que sua Igreja manda defender?

          Abraços do Verde.

          • Yuri

            Eu não vou combater sua opinião sobre a vida porque isso é questão de concepção e discuti-la, não nos levará a canto algum.
            Quando eu citei Jesus, eu não o citei como objeto de fé, mas como um pensador da humanidade, assim como poderia ter citado outros pensadores.

             
          • Concordo com você, Yuri. Acredito que chegamos a um impasse em nossa discussão sobre o valor das diversas formas de vida. Não vale levar em frente a discussão deste tópico.
            Posso entender que sua intenção ao citar Jesus não tenha sido a de citá-lo enquanto figura central da fé cristã, mas como um “pensador da humanidade”. Mas não podemos fechar os olhos para o peso de seu nome enquanto figura religiosa, o que o torna talvez indissociável de seu valor religioso. Penso que talvez você pudesse ter escolhido citar um observador social mais neutro, para evitar desentendimentos.

            Abraços do Verde.

             
          • Yuri

            Eu não estou expondo aqui dogmas e elementos de minha fé. Eu estou tratando de uma questão social. Não estou discutindo se o Papa é infalível ou não, se o bispo é sapientíssimo ou não. Não estou discutindo religião. Estou me expressando apenas como pessoa pertencente a esta sociedade, assim como você. Quando eu falei de sagrado estava somente respondendo a uma pergunta que você me fez. Quando se discute uma questão social, o fato de a pessoa ser laica ou religiosa não lhe tira nem lhe põe crédito, pois nenhum dos dois são imparciais: todos estudam os fatos com uma opinião. Não nego que a Igreja (falo de questão social e não de fé) tenha um grande poder social nessas regiões, pois se trata de um povo muito religioso; mas poder para provocar a morte de alguma pessoa, não.
            O fato de eu ser homem e não mulher não me tira o direito de discutir esse assunto de nível social. De fato, eu nunca fui mulher; mas feto já fui.

             
          • “Eu não estou expondo aqui dogmas e elementos de minha fé. Eu estou tratando de uma questão social.”

            Será possível a dissociação da fé e das idéias de um homem? Será possível dizer “aqui penso como cristão, alí como observador de uma questão social”? Eu não creio nisso. Acredito que podemos nos dissociar de cargos, ou até de outros papéis sociais, em nosso pensar — mas nunca de nossa filosofia ou religião, que pautam enormemente a nossa maneira de apreender o mundo. Quando falo, falo como homem de religião, opinião e sentimento, e é isso que sou, sem poder deixar de lado minhas crenças para opinar de forma mais neutra.

            “Não estou discutindo se o Papa é infalível ou não, se o bispo é sapientíssimo ou não. Não estou discutindo religião. Estou me expressando apenas como pessoa pertencente a esta sociedade, assim como você.”

            Se por um lado penso também que é impossível pensar a Igreja dissociada de seu valor religioso, por outro não estava fazendo críticas de natureza religiosa ou dogmática, mas sim de ordem social, a esta instituição. Ou será que a infalibilidade do Papa e a sapiência dos bispos é apenas um dogma, e um dogma “não real”? Que tipo de malabarismos de discurso são estes, necessários para se salvar a fé cristã das desastrosas atitudes da Igreja?

            “Quando eu falei de sagrado estava somente respondendo a uma pergunta que você me fez.”

            Perfeito. E então eu fiz a minha réplica à sua colocação. Isto se chama “conversar”.

            “Quando se discute uma questão social, o fato de a pessoa ser laica ou religiosa não lhe tira nem lhe põe crédito, pois nenhum dos dois são imparciais: todos estudam os fatos com uma opinião.”

            Por outro lado, o fato de ser laica ou religiosa, branca ou negra, homem ou mulher, pertencente a esta ou aquela classe é extremamente relevante para entendermos de onde a pessoa está falando, onde se situa, a que fatores sociais está atrelada, que valores defende por afinidade grupal ou social, etc. Não creio que tenhamos uma opinião independende de quem somos, a que grupos pertencemos e que perspectivas de vida temos. Por isso a religiosidade ou laicidade de um indivíduo se torna relevante, não necessariamente por motivos de credibilidade, mas por motivos de melhor compreensão dos ouvintes a respeito da posição do falante.

            “Não nego que a Igreja (falo de questão social e não de fé) tenha um grande poder social nessas regiões, pois se trata de um povo muito religioso; mas poder para provocar a morte de alguma pessoa, não.”

            Não estava insinuando que a Igreja mandava matar as pessoas, Yuri. Não se faça de desentendido. Minha afirmação é de que uma excomunhão pode expor a pessoa a violências psíquicas e físicas dentro destas comunidades, e estas podem chegar a causar sua morte. Vai dizer que você e sua família nunca ouviram falar de espancamento de prostitutas e alegados homossexais no interior nordestino? A posição de pária, de proscrito, conferida por uma excomunhão igual a pessoa em questão a outros proscritos e “malditos”, e a expõe aos mesmos riscos. Em tempo, isso fala também um bocado da condição sub-humana que os costumes do interior relegam a profissionais do sexo e a indivíduos com orientações sexuais diferentes da norma tradicional cristã. O senhor tem alguma pessoa excomungada, alguma prostituta ou algum homossexual morador do interior do Nordeste em sua família? Eles podem te contar o que é ser um proscrito.

            “O fato de eu ser homem e não mulher não me tira o direito de discutir esse assunto de nível social. De fato, eu nunca fui mulher; mas feto já fui.”

            O fato de sermos homens nos tira o direito de dizer para uma mulher o que é melhor para ela, com toda esta postura tutoral que os homens sempre se reservaram na sociedade patriarcal onde vivemos. De fato, a concepção, a gestação e o parto não são nem nunca deveriam ter sido assuntos de homem. Não temos nem deveríamos achar que temos competência para opinar sobre estas questões que nunca recairão sobre nós. É muito fácil dar pitaco na vida dos outros, sobre temas que nunca irão nos afetar diretamente, não é Yuri? E o fato de eu ter sido um feto, mas nunca ter sido uma mulher, não me faz ter mais empatia com fetos do que com mulheres. Além de terem sido também fetos, todas as mulheres que conheço tem suas próprias vidas e não precisam estar dentro do útero de ninguém para viver. Já os fetos, dependem das mulheres para viver até tornarem-se crianças. Enquanto homem, o senhor se considera no direito de obrigar uma mulher a carregar um feto que não deseja? Ou pretende dar uma de Zeus e carregar alguns pequenos Dionísios em suas coxas? É sempre uma possibilidade, não é mesmo? :)

            Se, e somente se, homens gestassem, o aborto já teria sido aprovado como prática comum em todo o planeta. Estas palavras não são minhas. São de nosso Ministro da Saúde, alguém que pelo visto fez mais pelo nosso país, tanto por homens quanto por mulheres, do que o arcebispo que afirmou que um estupro “não é tão importante” e que uma criança estuprada e engravidada deve ser excomungada por ter realizado um aborto que lhe salvou a vida.

            Abraços do Verde

             
  • Yuri

    Eu espero que a nossa conversa tenha sido boa, sem desentendimentos. Não concordo com o fato de que eu, sendo homem, não posso opinar sobre o aborto, mas eu respeito sua opinião.
    Foi um prazer conversar com você.
    Yuri Farias.

    • Olá Yuri,

      Creio que a conversa foi boa sim — franca e direta. Respeito sua opinião também, e respeito a sua discordância a respeito do impedimento ético de um homem opinar sobre a sexualidade e a reprodução femininas. É, inclusive, uma opinião muito comum. Nós homens costumamos achar que temos o direito de opinar sobre tudo…

      É um prazer debater com você.

      Abraços do Verde.

  • […] Brasil: Sobre a condenação do Vaticano no caso de aborto da menina estuprada… […]

  • António Gomes Da Silva

    A doutrina da Igreja Católica não é Cristã, desde há muito tempo. Os Responsáveis dessa Instituição, impõe aos crentes(católicos) um conjunto de regras por eles inventadas e que na prática, só servem para manter os fiéis na ignorancia e na superstição. Não há remédio nunhum que permita mudar tal situação. Essa Instituição é irreformável, e os seus seguidores, debalde procuram através dela a verdadeira salvação.Quando Jesus voltar terá para com os responsáveis da Igreja Católica um juízo a sua medida.

  • Sérgio Moniz

    “Dentre todos os crimes que o homem pode cometer contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o torna particularmente perverso e abominável.” (João Paulo II, Evangelium Vitae, nº 58)

    Há alguns dias, no Brasil, um fato se tornou objeto de largas e acirradas discussões entre a Igreja Católica e boa parte da sociedade, adquirindo grande repercussão internacional por trazer à tona antigos questionamentos acerca do aborto: o caso da menina de nove anos de idade que, desde os seis, vinha sendo abusada sexualmente pelo padrasto e que teve uma gravidez de gêmeos interrompida. O fato aconteceu no Município de Alagoinha, Pernambuco e resultou na excomunhão da equipe médica e de parentes da criança pelo Arcebispo de Olinda e Recife Dom José Cardoso Sobrinho.

    Acompanhando todas essas discussões, senti-me motivado a fazer uma reflexão. Foi quando, após debruçar-me sobre a Bíblia e diversos artigos religiosos e materiais jornalísticos, pude compreender como a Igreja vem enfrentando essa tão delicada questão e formar, assim como várias outras pessoas, a minha opinião a respeito do assunto.

    Antes de manifestá-la, porém, devo lembrar que as referidas excomunhões jamais podem ser tratadas de maneira isolada, haja vista que o lamentável episódio que sucedeu na humilde cidade de Alagoinha-PE representa apenas um dos inúmeros casos de aborto de que se tem notícia no Brasil e por ser este um assunto que envolve, além de fé e religião, questões de ordem pública, moral, ética e legal.

    Partindo dessa concepção e tendo em vista que uma análise mais pormenorizada do caso demandaria a ponderação de circunstâncias fáticas que desconheço, necessário ressaltar que me ative a apreciá-lo tão somente à luz do Texto Bíblico e dos noticiários mais recentes.

    É bem verdade que o aborto constitui um assunto há muito debatido em diversos segmentos da sociedade e que divide opiniões. Dentre os favoráveis, há os que defendem a sua prática sem quaisquer restrições, estando aí incluídos os chamados “feministas pró-aborto”, e os que a toleram – amparados no que atualmente prevê a legislação penal brasileira – nas hipóteses de estupro ou de risco de morte para a gestante. Nesse grupo, diga-se por oportuno, encontram-se vários políticos e autoridades públicas que, alheios aos problemas sociais e incapazes de ajudar a resolvê-los, veem nas práticas abortivas a única forma de solucioná-los, havendo ainda muitos deles que, ao invés de desempenharem suas funções com retidão e representatividade, alimentam sua ganância com atos de corrupção, desviando verbas que deveriam ser aplicadas em diversos setores básicos da sociedade como educação e saúde, a fim de propiciar melhores condições de vida e dignidade à população.

    “Como é amarga a ironia daqueles que promovem o aborto entre as curas para a saúde materna. É desconcertante a tese daqueles que acreditam que a eliminação da vida é um assunto de saúde reprodutiva”. A democracia exige “o respeito e a promoção dos direitos humanos, um governo transparente, uma magistratura independente, uma comunicação livre, uma administração pública honrada, uma rede de escolas e de hospitais, e a firme determinação de acabar de uma vez por todas com a corrupção” . Estas foram as palavras pronunciadas pelo Papa Bento XVI, em um de seus discursos, por ocasião da sua recente visita ao continente africano.

    Antes, o chefe do departamento do Conselho Pontifício para a Família, Gianfranco Grieco, em entrevista ao jornal italiano La Stampa, comentando o caso, já havia asseverado: “O aborto não é uma solução, é um atalho”. (…) “A Igreja não pode trair sua postura como a de defender a vida até seu fim natural”, mesmo em um caso de “drama humano como a violência sobre uma menina” .

    A Igreja Católica, tanto no Brasil como em qualquer outra parte do mundo, comprovando a sua unidade, obediência e coerência à Lei de Deus, não se revela apenas contrária, mas abomina terminantemente o aborto.

    Para a Igreja Católica, toda a razão da existência humana está baseada no Livro Sagrado. Para Ela, Jesus Cristo é o filho de Deus, a própria Palavra, a respeito de quem São João afirmou: “No princípio era o verbo, o verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. (…) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós (…)”. (João, Capítulo 1, 1-2; 14)

    Destarte, se a doutrina católica encontra todo o seu fundamento na Palavra de Deus, é elementar que aqueles que a professem a considerem como a mais perfeita verdade, pois o que seria esta, a não ser o próprio Jesus Cristo: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João, Capítulo 14, 6). Percebe-se que, ao proclamar esta máxima, Jesus assumiu todo o seu poderio sobre a criação, o que se confirma pelas palavras do evangelista: “Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. (…) O Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito por ele (…)”. (João, Capítulo 1, 3-4; 9-10)

    Ora, se assim está escrito, como pensar de maneira distinta a não ser que somente Deus tem o poder de dar e tirar a vida? E se a Igreja reconhece Jesus Cristo como a Verdadeira Palavra, não Lhe resta assumir outra postura, senão observá-La: “O inimigo veio para roubar, matar e destruir, Eu vim para que todos tenham vida (…)” (João, Capitulo 10,10) e seguir os Seus mandamentos: “Não matarás!” (5º mandamento).

    Com efeito, vê-se que a excomunhão, em caso de morte por conseqüência de aborto, não se trata de uma condenação declarada com base em “dogmatismo cego”, ao contrário do que muitos afirmam, antes decorre da própria situação de pecado em que aqueles que o praticam se põem e sobre cuja gravidade a Igreja de Cristo não pode se omitir de exortar, pois, segundo as escrituras, Jesus não veio para condenar o mundo, mas para salvá-lo, e quem despreza (leia-se: não comunga) a Sua Palavra está, na verdade, se auto-condenando (João, Capítulo 12,47-48).

    Cuida-se, portanto, de um juízo de fé que a limitação humana jamais permite alcançar e que somente aqueles (padres, bispos, cardeais e o papa, aos quais devemos dedicar o mais sublime respeito e prestar total obediência) que têm a hombridade de renunciar tudo para se consagrar a uma vida de oração, em constante comunhão com Deus, partilhando as dificuldades enfrentadas pelo povo, com o objetivo de ajudar a construir um mundo mais justo e harmonioso – por inspiração divina – tornam-se capazes de discernir. A propósito, sobre isso já dizia São Paulo aos Coríntios: “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar”. (I Coríntios 2,14)

    Sinceramente desconheço o real motivo que ensejou os abortos praticados naquela criança de nove anos, se por questões de caráter financeiro, se no intuito de preservar a sua honra ou a sua vida, ou, até mesmo, para que prevalecesse a posição dos médicos declaradamente favoráveis ao aborto e que já haviam sido alertados sobre esse mal que veem praticando, pois, diante de assuntos tão relevantes como esse, cumpre apurar com cautela aquilo que é divulgado pela mídia que, não raras vezes, publicam inverdades com a finalidade única e exclusiva de obter audiência.

    Entretanto, dois aspectos dessa polêmica necessitam ser esclarecidos. Pelo que se observa dos noticiários, em momento algum, restou evidenciado que o Arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho tenha se posicionado contra a punição do estuprador; muito pelo contrário, reputou sua conduta como execrável, sustentando a sua sujeição às penas da lei e afirmou tão somente que o aborto, diferentemente do estupro, implica excomunhão em virtude de se tratar de um pecado muito mais grave, consistindo no sacrifício da vida de pessoas inocentes.

    De acordo com o Presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, “(…) O estupro é uma coisa tão repugnante que a Igreja não precisa chamar a atenção para ele, está na consciência de todos. O aborto não, por isso a excomunhão não é só para punir, mas para que quem praticou o ato possa aperceber-se da gravidade e procurar a reconciliação (…)” . “(…) A excomunhão existe para chamar atenção para a gravidade do ato. O aborto traz consigo essa pena porque está se diluindo a gravidade do aborto até mesmo entre os cristãos. Quem viola isto, se coloca fora da comunidade eclesial (…)”.

    Nesse sentido, ao declarar as excomunhões, o aludido pontífice, em hipótese nenhuma, teve a intenção de denegrir a imagem da criança que merece sim receber toda a solidariedade, carinho, atenção e assistência, nem tampouco macular a dignidade da sua família, simplesmente quis atentar para as graves conseqüências do aborto. Tanto que ao dar explicações sobre a sua decisão asseverou que “Não existe pecado sem perdão, mas para receber o perdão, o pecador deve arrepender-se do que fez” , lembrando muito bem o que fora dito por Jesus aos discípulos: “Se teu irmão pecar, repreende-o; se se arrepender, perdoa-lhe”. (São Lucas, 17, 3)

    A par de todos esses argumentos, independentemente dos inúmeros comentários a respeito, o fato é que, se comungamos do mesmo pensamento da Igreja Católica, enquanto instituição criada por Jesus Cristo, devemos nos posicionar com coragem em favor daquilo que reconhecemos como verdade, a exemplo do que fez Dom José Cardoso Sobrinho, e nos opor a toda manifestação contrária à vida, sem nunca nos esquecer do que adverte o Livro de Deuteronômio (Capítulo 30, 19):

    “Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós: ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade, (…)”.

    Sérgio Henrique Amaral Gouveia Moniz
    moniz_sergio@hotmail.com

    • Entre muitos pontos que me chamaram a atenção no comentário do Sérgio, um me pareceu mais gritante: o gosto de boa parte dos cristãos pela retórica, com todos os seus artifícios bem pouco honestos. Será que acreditam que os fins (manter os rebanhos sob controle) justificam os meios (mentiras, intimidação, manipulação de informações…)?

      Sugerir que ser pró-escolha seria coisa de “feminista”, e ainda por cima “feminista pró-aborto”, é desleal. Eu sou homem, e portanto não sou feminista, e mesmo assim sou pró-escolha pelo simples motivo de respeitar os direitos e a dignidade das mulheres — coisa que raramente ví um padre fazer, por sinal. Da mesma forma, sugerir que todos os políticos que apóiam a legalização ou suspensão condicional de punibilidade do aborto sejam corruptos é a mesma coisa que afirmar que todos os cristãos são ladrões, pedófilos, mentirosos e estupradores — afinal de contas, o padrasto da menina foi absolvido e portanto deve ser um bom cristão. Tratam-se de generalizações mal intencionadas.

      Mais uma vez, citar as palavras da Bíblia apenas comprovam a coerência entre o cristão e seu credo, mas não convencem aqueles que não são seguidores desta religião. Se eu disser que em minha crença o aborto não é crime, nem errado, isso fará diferença para os cristãos? É claro que não. Por que é então que eles insistem em acreditar que suas crenças servem de argumento? Falta-lhes mais o que dizer?

      Espero um dia encontrar alguém que tenha argumentos válidos e honestos em defesa da posição anti-escolha. Até hoje, só vi argumentos fracos e sem validade. Muitas pessoas já me foram convincentes, e muito, em suas argumentações sobre ser contra o aborto em uma esfera pessoal. Mas nunca, até hoje, conheci uma pessoa intelectualmente honesta que desejasse impedir as outras de decidirem sobre a própria vida.

      Abraços do Verde.

  • […] José Cardoso Sobrinho, excomungoua mãe, o médico e a equipe de médica … fique por dentro clique aqui. Fonte: […]

  • Sérgio Moniz

    Caro Daniel, sugiro a você que, quando for responder a qualquer comentário seja mais claro e objetivo, assim como me esforcei para ser quando escrevi para o blog. Em uma discussão envolvendo assuntos tão importantes como o aborto, devemos primar por tais características, pois nem sempre aquele que lança mão de um vocabulário rebuscado repelto de retórica é dotado de correção. Conheço muitos escritores que, para tentar impressionar seus leitores, delas se valem e acabam se tornando incoerentes, pedantes e até mesmo hipócritas, estes sim desonestos, porque não escrevem a verdade, ainda que seja a sua verdade; escrevem apenas por escrever, para dar uma resposta, qualquer justificativa…

    Se é que não fui claro o suficiente para que você me entendesse, gostaria de esclarecer que, em momento algum, quis obrigar ninguém a acreditar nas minhas palavras, nem tampouco tive a intenção de transmitir a quem quer que seja a idéia de que elas correspondem à pura verdade. Cada um tem o direito de pensar o que quiser, ou não vivemos uma democracia?!

    Como frisei, assim como várias outras pessoas, apenas manifestei a minha opinião acerca do aborto e o pensamento da Igreja Católica a respeito do assunto.

    A igreja não obriga, nem proíbe ninguém a fazer nada. Temos o Poder Judiciário para isso. Nem você, nem ninguém é obrigado a seguir as recomendações da Igreja. Nós fazemos por amor, quem conhece o amor de Deus, sabe do que estou dizendo…

    Como se pode concluir do comentário por mim escrito, em momento nenhum, afirmei que todos os feministas são pró-aborto, mas que grande parcela dos feministas o são. E não falei qualquer inverdade ao dizer isso. Em momento algum generalizei!

    Quando me referi aos feministas pró-aborto, apenas citei um exemplo baseado na verdade. Do mesmo modo como existem muitos políticos corruptos que não estão nem um pouco preocupados com a vida das pessoas e que, ao chegarem no poder, aproveitaram a oportunidade para defraudar. Agora pergunto: falei alguma inverdade?

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