Brasil: Sobre a condenação do Vaticano no caso de aborto da menina estuprada

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Olinda and Recife's archbishop, dom José Cardoso Sobrinho, by Alexandre Severo, published under a Creative Commons license

Na última semana de fevereiro, uma menina de apenas 36 quilos, 1,33 metro, e 9 anos de classe média-baixa, na cidade de Alagoinha, no Pernambuco, reclamou de fortes dores na barriga. Acompanha por sua mãe até uma unidade de saúde, constatou-se a gravidez de gêmeos na 15ª semana de gestação. Então confessou à mãe que ela e a irmã mais velha, de 14 anos, eram violentadas pelo padrasto há pelo menos 3 anos. O padrasto será indiciado por estupro e está detido no presídio público de Pesqueira, no Pernambuco, onde deve permanecer até o fim do inquérito.

Depois de muita oposição da Igreja Católica e do acompanhamento de psicólogos, o aborto foi realizado, previsto na legislação brasileira em casos de estupro (até a 20ª semana de gestação) e quando houver risco de morte para a mãe. Este caso se encaixava em ambas as características.

Mas, em seguida, um debate social envolvendo a Igreja Católica e o poder Judiciário veio a tona no Brasil: amparado pelo Vaticano, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungoua mãe, o médico e a equipe de médica responsável pelo procedimento cirúrgico. A menina foi poupada, já que a lei da Igreja Católica diz que menores estão livres da excomunhão. Contudo, não excomungou o padrasto, chegando a dizer no jornal O Globo (7/3/09) que o “crime de estupro é menos grave” que o de aborto e que “os gêmeos eram pessoas inocentes”.

A notícia que reacendeu no Brasil o tema do aborto, pôs em evidência a interferência da Igreja Católica sob decisões pessoais e judiciais de um Estado laico, movimentou a blogosfera lusófona. Sebastião Nunes, em seu blog Pedra de Responsa, se manifesta:

É impressionante a hipocrisia envolvida neste julgamento inquisitorial feito pala Igreja Católica. Uma criança violentada em seu corpo e seus direitos, desde os 6 anos de idade, com risco elevado de morrer pela continuação da gestação, tem, conforme a estúpida decisão destes cardeais, que aceitar a beleza do milagre da vida e morrer, se necessário for, pois esta foi a vontade de Deus.

E depois a Igreja Católica não entende porque o povo abandona as suas fileiras. Conforme o julgamento da Igreja foi a vontade de Deus que fez o padrasto da criança estuprá-la covardemente. Triste Deus este.

Em tom de ironia, Lelê Teles, no blog Technosapiens, diz que o Brasil é o país da piada pronta, lamentando que o clérigo tenha punido a frágil vítima justo no dia Internacional da Mulher:

O mais indignante é que no dia internacional da mulher, um senhorzinho religioso aparece para mostrar que o mundo dele ainda é machista, e que machistas deveriam ser o estado e a ciência.

O bispo queria que a menina seguisse grávida de outra menina porque ele diz que defende o direito à vida. Mas como a menina de nove anos de idade corria risco de morte se continuasse com a gestação, logo, subentende-se que o bispo defendia a vida do… estuprador.

Vitor Lessa tem em seu blog uma publicação chamada Ignorância, na qual indaga se a Igreja Católica sabe que vivemos em um estado laico, se ela sabe que nem todos pertencem a essa instituição e aponta outros pontos de vista questionáveis ‘sugeridos’ pelo Vaticano.

[…] ele [o cardeal] está afirmando que devemos voltar a idade média quando o Estado e a Igreja se confundiam e o clero ditava as regras supostamente estabelecidas por Deus. Quando milhões de pessoas foram queimadas em nome de Deus, quando a igreja dizia que os homens deviam servir a seu senhor feudal porque Deus assim desejava e muitos outros fatos. Em momento nenhum ele pensou que o Brasil não é constituido somente de católicos, que o Brasil é um país laico (sem religião definida) e que os seus habitantes elegeram pessoas que fizeram uma constituição legítima para reger o país e sua população. Em momento nenhum o bispo lembrou que não está na idade média e que, acima da instituição a qual ele pertence, existe um Estado que deve atender às necessidades de todos os seus cidadãos. Afinal, todos são iguais perante a lei e pagam impostos para sustentar a nação. Não pensem que essa é uma atitude isolada de um bispo, é uma postura sustentada pela Igreja católica. A igreja católica não somente é contra o aborto em casos de estupro, mas também contra a lei que protege os homossexuais, que pagam impostos e são juridicamente iguais ao bispo. Portanto, se a igreja aceita que parcelas oprimidas (como as mulheres que são agredidas por seus maridos) sejam protegidas por lei, por que outra parcela como a dos homossexuais não podem ser progida? Afinal, são ou não são todos iguais? A igreja católica também proibe o uso de camisinha ou qualquer método anticoncepcional.

Daniel Braga, em seu blog Mausoléu do Gárgula, fala sobre o assunto com o título de Cegueira Religiosa. Nesta publicação, o blogueiro faz uma série de questionamentos que tratam não apenas das condições físicas da menina continuar com a gravidez, mas também das condições financeiras e sustentáveis de ter dois filhos aos 9 anos:

Acredito que uma das piores coisas já inventadas pelo homem é a cegueira religiosa. Observem bem que não estou falando da religião em si, pois esta é realmente importante ao homem, mas sim de dogmas absurdos que acabam causando a cegueira religiosa.
[…]
Surgem algumas perguntas e não vou de forma alguma respondê-las, deixando a todos a tarefa de refletir sobre as possíveis respostas:

  • Será que esta menina conseguirá prosseguir com esta gravidez sem que seu corpo seja mais maltratado do que já está? Poderia esta gravidez ter um risco elevado levando então a morte das crianças, todas as três?
  • Como uma criança poderá criar estas duas crianças?
  • Qual o dano social futuro desta família?
  • Como estará a mente desta pobre criança que deveria estar brincando com bonecas mas que foi o alvo dos abusos de um estuprador?
  • Como será a estrutura familiar que esta menina vive?
  • Como ficaria esta mesma estrutura familiar depois do nacimento destes bebês?
  • Qual deveria ser o papel da religião neste caso? Um papel punitivo ou confortante?
  • Sendo punida, direta ou indiretamente, pelos representantes religiosos, como esta criança se sentirá agora? Será que ela somatizará os problemas jogando em si mesma a responsabilidade do hediondo fato?

Até o presidente Lula se manifestou, dizendo que é católico e pessoalmente contra a legalização do aborto, mas que como chefe de estado apóia a prática em casos como este (e como uma questão de saúde pública). Além disso, também criticou a postura Católica:

[…] a medicina fez o que tinha que ser feito, salvar a vida de uma menina de 9 anos. […] Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo da Igreja católica tenha um comportamento, eu diria, conservador como esse.”

O advogado da Igreja Católica disse que entraria com uma denúncia por homicídio contra mãe da menina, com base nos artigos 1º e 5º da Constituição Federal, que asseguram a inviolabilidade do direito à vida. Ele disse que “além de considerar nossas convicções religiosas, nossa denúncia está atrelada à Constituição”. Mas, o Ministério Público de Pernambuco se pronunciou a respeito do caso:

O Ministério Público de Pernambuco, através da promotora Jeanne Bezerra, está acompanhando junto à Secretaria Executiva da Mulher e à ONG Curumim o caso da garota de nove anos grávida em decorrência de estupro em Alagoinha. De acordo com as informações repassadas à promotora pelo órgão e pela entidade, a garota está recebendo o acompanhamento médico, psicológico e social assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Até agora, não foi necessária a atuação judicial do MPPE. Como a legislação brasileira PERMITE o aborto em vítimas de estupro até a 20ª semana de gestão (entendimento do STJ), o procedimento pode ser realizado de acordo com avaliação médica, INDEPENDE de autorização judicial e, portanto, de parecer do Ministério Público.

A maioria das reações na blogosfera brasileira criticaram a atitude da Igreja Católica, mas um pequeno grupo de blogueiros apoiou a decisão do arcebispo brasileiro de excomungar todos os envolvidos no aborto. Entre eles, Jorge Ferraz, desde Pernambuco, escreveu em uma carta aberta para dom José Cardoso Sobrinho e recebeu mais de 100 comentários, tanto a favor quanto contra a decisão da igreja. E em outro blog, numa carta aberta anterior, Maite Tosta, quem também é mãe, disse que a decisão da Igreja não poderia estar mais correta:

Nesse momento, em que essa menina precisava de apoio, de ajuda, de atendimento médico, psicológico e porque não, espiritual, vozes se levantaram para apontar uma saída “mais fácil”, que querem fazer crer que era a única razoável…

Logicamente, a situação da menina preocupa. Mas e os gêmeos? Não merecem nosso cuidado? Nossa preocupação? A vida humana não-nascida é tão vida quanto a nascida, e merece o mesmo cuidado. Por serem frutos de uma relação violenta, que não deveria ter sido consumada, não são humanos? Quer dizer que um feto é gente quando é desejado, e é coisa quando não o é?

O que é mais fácil para os envolvidos? Dar assistência, cuidar, acompanhar? Ou “eliminar o problema”? Mas… pergunto, mais fácil para quem? Afinal, essa menina vai crescer, não sem marcas deixadas por esse episódio. Apesar de todas as pessoas ao seu redor lhe dizerem que foi melhor assim, que seu corpo não comportava, que era gravidez de risco, que eram crianças frutos de violência e ela não precisava conviver com elas, que a lei não pune… ela sempre terá na sua consciência que consentiu na morte dos próprios filhos… essa é uma memória que não se apaga nunca, e que tem um gosto amargo.

Infelizmente, o caso não foi o primeiro e,  provavelmente, não será o último. No dia 6 de março, outro padrasto foi denunciado por estupro, desta vez no Rio Grande do Sul. A menina, de 11 anos e grávida de sete meses, está internada em Tenente Portela (RS) e a gestação é considerada de risco. O inquérito está em andamento em ambos os casos.

39 comentários

  • Vejam o cordel cearense!!
    Sds,
    Siddharta

    ———- Forwarded message ———-
    From:

    A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA
    Miguezim de Princesa

    I
    Peço à musa do improviso
    Que me dê inspiração,
    Ciência e sabedoria,
    Inteligência e razão,
    Peço que Deus que me proteja
    Para falar de uma igreja
    Que comete aberração.

    II
    Pelas fogueiras que arderam
    No tempo da Inquisição,
    Pelas mulheres queimadas
    Sem apelo ou compaixão,
    Pensava que o Vaticano
    Tinha mudado de plano,
    Abolido a excomunhão.

    III
    Mas o bispo Dom José,
    Um homem conservador,
    Tratou com impiedade
    A vítima de um estuprador,
    Massacrada e abusada,
    Sofrida e violentada,
    Sem futuro e sem amor.

    IV
    Depois que houve o estupro,
    A menina engravidou.
    Ela só tem nove anos,
    A Justiça autorizou
    Que a criança abortasse
    Antes que a vida brotasse
    Um fruto do desamor.

    V
    O aborto, já previsto
    Na nossa legislação,
    Teve o apoio declarado
    Do ministro Temporão,
    Que é médico bom e zeloso,
    E mostrou ser corajoso
    Ao enfrentar a questão.

    VI
    Além de excomungar
    O ministro Temporão,
    Dom José excomungou
    Da menina, sem razão,
    A mãe, a vó e a tia.
    E se brincar puniria
    Até a quarta geração.

    VII
    É esquisito que a igreja,
    Que tanto prega o perdão,
    Resolva excomungar médicos
    Que cumpriram sua missão
    E num beco sem saída
    Livraram uma pobre vida
    Do fel da desilusão.

    VIII
    Mas o mundo está virado
    E cheio de desatinos:
    Missa virou presepada,
    Tem dança até do pepino,
    Padre que usa bermuda,
    Deixando mulher buchuda
    E bolindo com os meninos.

    IX
    Milhões morrendo de Aids:
    É grande a devastação,
    Mas a igreja acha bom
    Furunfar sem proteção
    E o padre prega na missa
    Que camisinha na lingüiça
    É uma coisa do Cão.

    X
    E esta quem me contou
    Foi Lima do Camarão:
    Dom José excomungou
    A equipe de plantão,
    A família da menina
    E o ministro Temporão,
    Mas para o estuprador,
    Que por certo perdoou,
    O arcebispo reservou
    A vaga de sacristão.
    __._,.

    __,_._,___

    —– Finalizar mensagem encaminhada

  • Alexander

    Parabéns pela reportagem completamente tendenciosa e mal intencinada!!
    Há 6 comentários contra a igreja católica e 1 apenas a favor!
    São poucos os blogs a favora da igreja? ou o redator do texto que procurou pouco?
    E depois a imprensa é imparcial!!!!

    • Olá Alexander,

      Segundo as pesquisas do autor e de nossa equipe, a quantidade de blogues (católicos ou não) que apoiam a atitude da igreja sobre esta questão é muito inferior à quantidade de blogues que a condenam. Talvez o senhor esteja mais atento aos blogues com os quais concorda do que ao conjunto da blogosfera do Brasil. É por isso que estamos trabalhando para trazer apanhados cuidadosos e extensivos do que está sendo dito. Para dar uma visão geral aos nossos leitores.

      Por outro lado, temos como política fundamental a existência desta caixa de comentários onde, além de nos acusar de tendenciosidade e má intenção, o senhor também pode colar links e blogadas que acredite terem sido “ignoradas” por nosso autor. Um artigo é apenas o início de uma conversa. Podemos seguir conversando. O que o senhor tem a dizer e a mostrar para nós que ainda não foi dito?

      Vou solicitar que o autor apareça por aqui para defender o recorte de citações que fez. Fique à vontade para convidar também seus amigos interessados em debater o tema.

      Atenciosamente,
      Daniel Duende.

  • Caro Alexander,
    talvez, como autor, seja eu a pessoa mais apta a responder seu comentário. Venho apenas respondê-lo, sem levantar polêmica.

    1 – Isto é um artigo/reportagem. Posso me incluir e opinar de acordo com os interesses jornalísticos que me atendam ao interesse público e não ao de uma instituição ou pessoa; portanto, para cada 50 blogs contra a igreja, havia um a favor. A proporção do artigo é a mesma e ainda a citamos, ou seja, não foi deixada de fora. Há o depoimento de uma mulher que é mãe e defende a atitude do Católica.

    2 – caso te interesse saber sobre mim, sim, sou ateísta, não dou a mínima para a igreja (qualquer que seja), mas nem por isso menosprezo religiões: cada um com a sua, o ideal seria que não existissem instituições, principalmente para condenar. Já leu a passagem biblíca que diz algo como “levante uma pedra e verá o reino de deus. Olhe um graveto e verá o reino de deus.”, então é por aí.

    3 – “E depois a imprensa é imparcial!!!!” Não sei quem disse isso… Eu não fui. Imparcialidade é um ideal a ser perseguido, sobretudo no texto NOTICIOSO, não em reportagens e artigos. Contudo fazemos escolhas a todo o momento. Quando escrevemos um texto, por exemplo, escolhemos certas palavras em detrimento de outras, que por sua vez podem ter impacto ou conotação mais ou menos severa dependendo do caso. Cada indivíduo constrói seu próprio repertório e significação, não vou dar uma aula de semiótica ou de psicologia, mas imparcialidade é algo que não existe. Jornalismo não foi feito para ser imparcial, senão absolveriamos políticos corruptos e ficariamos em cima do muro. Jornalismo foi feito como exercício do bom senso, de servir os interesses da população, do bem estar social.

    4 – como tudo nesta vida, se não gostou de como os outros divulgaram certa informação, comente, questione e, se animar, faça a sua própria =)

    • A título de adendo, este caso invariavelmente me faz lembrar de todas as crianças que são molestadas anualmente pelos próprios membros de igreja. Este roundup do Global Voices é mês após mês um de nossos campeões de leitura. Toda esta situação me instiga uma reflexão profunda sobre a natureza, os benefícios e os malefícios, de instituições religiosas como as mencionadas nos artigos. Estou, portanto, ávido para ler uma defesa razoável da Igreja neste caso — uma vez que no caso das crianças violentadas por padres nunca li nada razoável nos últimos 10 anos.

      Abraços do Verde.

  • Tem um blog que não foi citado, mas bem que merecia entrar pelo contraponto, então destaco o post aqui:

    http://thahy.com/mentira-verdade-guerra/arcebispo/

    “obrigada, arcebispo. Por ouvir e ver um representante da igreja dizer que a lei dos homens nao pode ser maior do que a lei de deus, MESMO quando a lei humana busca defender a integridade física e mental de uma criança de nove anos, vítima de estupro [a três anos] e grávida de gêmeos, interrompendo esta violação através do aborto.

    Obrigada por lembrar-me que esta é a MESMA igreja que silencia quando seus membros [tão orgulhosos em julgar e definir o que é certo ou errado] são acusados e processados de pedofilia e violação sexual de meninos e meninas, coagidos a não revelar, não reclamar, não revidar… pois devem temer o castigo divino.”

    Quem quiser trazer mais vozes, que seja bem-vindo!

    • A Elyana, do blogue Rosa e Radical, também escreveu algumas linhas interessantes sobre o tema:

      Esse tipo de coisa é de uma falta de sensibilidade impressionante. Não se pode matar um conglomerado de células que tem potencial para virar vida. Mas e a vida dessa menina que já foi morta? Não conta nada? Ela é apenas um recipiente, que deve carregar uma gravidez provocada por um estupro quando seu corpo nem está formado ainda? Será que é muito difícil olhar para a vida que esta menina seria obrigada a ter se levasse essa gravidez adiante? Falta sensibilidade a esse povo.

      Em suma… qual é a vida que é defendida pela Igreja e pelos anti-abortistas? Não é a vida da mãe, com certeza. É a vida que pode vir a ser… a vida de um embrião… que por algum motivo parece valer mais do que a vida das mulheres nascidas. Parece que para essa gente, mulheres só servem para ter filhos. Se uma delas se recusa, ou por algum motivo não tem condições de fazê-lo, poderia muito bem estar morta, ou vivendo o pão que o diabo amassou, contanto que colocasse no mundo mais uma criança. O que importa é a vida não nascida. Para a nascida, se não for homem e fiel da Igreja, a gente dá de ombros.

      E as crianças nascidas, por vontade da mãe ou não? O que se faz delas? Se incomodarem a gente, fazemos uma passeata pedindo pena de morte para elas? Se passarem fome e frio, fazemos mais uma campanha da fraternidade? Pedimos mais dinheiro para os orfanatos para mostrar como somos bonzinhos?

      E o direito das mulheres sobre o próprio corpo e sobre a própria vida? Estes não existem, na cabeça dos bispos. Mulheres não nasceram para ter direitos. Nasceram para ter filhos e para expiar os pecados da humanidade. Depois de Maria, a Geni de Chico Buarque é a cristã quintessencial. Mais do que insensibilidade… eu acho que os anti-abortistas e o Vaticano são mal intencionados mesmo! Ou isso, ou completamente idiossincráticos, machistas e irracionais.

      Abraços do Verde.

  • se a igreja me excomungasse (é assim q escreve?) oficialmente eu ficaria feliz….

    o padre excomungou pq a criancinha nao era “pupila” dele (6)

  • […] Kelmer, Carlos Dutra, Marcelo Cunha, Lady Kafka, Lelê Teles, Vitor Lessa e Daniel Braga são apenas alguns dos que […]

  • […] sobre a condenação do vaticano no caso de aborto da menina estuprada – pt.globalvoicesonline.org […]

  • em uma entrevista, o arcebispo disse:
    “No Brasil, há 1 milhão a cada ano. Quero lembrar o que aconteceu na II Guerra Mundial. Hitler, aquele ditador, queria eliminar o povo judaico e dizem que ele chegou a matar 6 milhões de judeus. Não podemos esquecer esse delito. Agora, eu pergunto: por que vamos ficar em silêncio quando estão acontecendo 50 milhões de abortos no mundo? Eu chamo isso de o holocausto silencioso.”
    como ainda tem gente que leva a sério, ouve, dá razão e defende tal pessoa e a instituição que ele representa? o aborto não é a mesma coisa que o holocausto. o aborto tira as células de um feto em formação, não há uma “pessoa” ali, viva, com sentimentos e consciência autonomos.

    • Concordo com você, Roberto.

      Mas bem sabemos como certas instituições e facções políticas são afeitas a mentiras, distorções e manipulações de fatos e de discurso para eternizarem seu absurdo controle sobre as pessoas. Já não fosse ruim o bastante que estas instituições tenham — e perpetuem — tanto poder, ainda se tratam de gente da pior espécie, da pior laia, como as que você se refere. Gente que acha bonito até comparar o holocausto da Segunda Guerra Mundial (que não foi só de Judeus, mas mesmo assim estes preferem tomar para sí todas as dores) com a liberdade de escolha sobre a própria vida e o próprio corpo exercida por mulheres de todos os cantos do mundo. Como respeitar uma Igreja que defende a vida dos fetos só para atrapalhar a vida de todo o resto dos seres vivos da terra?

      Abraços do Verde.

  • Uma notícia da BBC:

    Vaticano critica excomunhão no caso de aborto de menina de nove anos

    Na avaliação do prelado, o arcebispo de Recife e Olinda, José Cardoso Sobrinho, foi apressado e deveria ter se preocupado primeiro com a menina.

    “O caso ganhou as páginas dos jornais somente porque o arcebispo de Olinda e Recife se apressou em declarar a excomunhão para os médicos que a ajudaram a interromper a gravidez. Uma história de violência que, infelizmente, teria passado despercebida se não fosse pelo alvoroço e pelas reações provocadas pelo gesto do bispo.”

    Segundo Monsenhor Fisichella, o anúncio da excomunhão por parte de D. Jose Cardoso Sobrinho colocou em risco a credibilidade da Igreja Católica.

    “Era mais urgente salvaguardar a vida inocente e trazê-la para um nível de humanidade, coisa em que nós, homens de igreja, devemos ser mestres. Assim não foi e infelizmente a credibilidade de nosso ensinamento está em risco, pois parece insensível e sem misericórdia”, escreve o bispo.”

    http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090314_vaticanoabortoav.shtml

  • elaine

    O aborto é Crime……ou uma opcao.(realidade qua a igreja nao ve):
    Por que que a igreja e contra o aborto? Humanidade nao vai deixar de respeitar sua doutrina(ou ser menos catolicoou deixa de crer na biblia ) caso seje a favor. Qual e ajuda da igreja para com milhares de mulheres que abortam todos os anos, procuram saber porque motivo mulheres ou ate meninas tomam essa atitude as circustancias de cada uma delas??
    Respeitamos sim; Mais lembrem-se temos o livre arbitrio;Temos escolhas o direito de” ir e vir”. Temos as opcaoes e solucoes. NAO ao Aborto; Porque nao dizer SIM ao aborto; A mulher nao da cria…penso eu q nao é bem assim.
    Uma vida e sempre bem vinda de maneira e circustancia adequada e favoravél para ambas as partes.
    Quantos aos recén-nacidos que sao abadonados nas ruelas e valas. Qual e posicao e a atitude das arquioceses (igreja) ? para com esses problemas…..se nao fossem as intituicoes…..como seria?
    É triste e lamentavél dizer que os proprios membros das arquioceses sao responsaveis por inumeros casos de abusos sexuais de meninas e meninos de nove anos ate menos do que isso.
    Senhores vamos respeitar as LEIS e tudo que ha para o bem de todos e da sociedade.Mais primeiro olhamos para “dentro” e limpamos a sujeira, analizamos os fatos ai vamos ter a certeza o que é CRIME e quem os comete; Pra depois olhar para o lado de “fora”.
    Quantos abortos sao feitos por mes no País???? Nao e pra esconder isso, é RAEL…..a sociedades nao gosta d falar do assunto a pra igreja e crime. E POLEMICO SIM….É….DESCONFORTAVEL FALAR SIM…HÁ SOFRIMENTOS E DEXAM SEQUELAS SIM….NECESSDADES…..E claro que amamos vidas…somos genitoras….queremos o melhor.

    • Yuri

      Todos temos opção, temos o livre arbítrio, somos responsáveis por nossas ações. Na verdade, todo crime é uma opção, afinal a pessoa optou por cometê-lo. O aborto é um crime da mesma forma que abandonar crianças nos lixões. Não resta dúvida que uma mulher ao abandonar seu bebê na rua ou no lixão teve seu motivo. Motivo esse causado por um desespero que é fruto da condição social que a sociedade lhe impõe e irá impor a essa criança que vai nascer. Se a criança não tem condições para nascer devemos criar-lhe tais condições e não impedi-la de nascer. A sociedade que promove a exclusão dessas mulheres é mais responsável que elas quando cometem tais crimes. O sexto mandamento diz: “não matarás”, esse é um mandamento que deve ser respeitado não só por cristãos, mas por toda a sociedade. Não se deve achar no aborto uma solução e sim na criação de condições necessárias para nascimento dessas crianças.
      É lamentável que haja pessoas que defendem uma coisa e fazem completamente diferente do que pregam. É lamentável saber que há padres que lutam contra o aborto e ao mesmo tempo abusam sexualmente de menores. É lamentável que haja políticos que dizem que vão lutar pela melhoria das condições sociais e, em vez disso, só fazem roubar. É lamentável que haja pessoas assim na sociedade. É uma chaga que deve ser curada, mas isso não quer dizer que todo padre seja hipócrita ao defender o direito à vida e todo político esteja também sendo hipócrita ao defender causas sociais. Cabe a nós que fazemos parte dessa sociedade achar soluções reais para nossos problemas.

      • Concordo com você, Yuri, sobre a urgentíssima necessidade de nos dedicarmos todos à luta pela criação de condições razoáveis para que toda mulher possa criar seus filhos, e viver, com dignidade e oportunidades. Temos que estar abertos a quem honestamente luta por tais ideais, assim como estar atentos a quem se apropria dos discursos sociais apenas para se aproveitar dos incautos e dos inocentes. Temos também, sobretudo, que aprender a respeitar a vida e as opções alheias. Cada cabeça é uma sentença, cada vida é um caminho, e não cabe a mim, a você ou a ninguém mais julgar as escolhas alheias. Não devemos julgar, para que não sejamos também julgados.

        E é por conta disso, e do sagrado direito de todo indivíduo de decidir sobre a própria vida e sobre o próprio corpo, que luto com unhas e dentes pelo direito de toda mulher de decidir a respeito das gestações que eventualmente contrair. Ter um filho, criá-lo e prepará-lo para vida deve, sempre, ser uma escolha e não uma obrigação. E, acima de tudo, toda mulher deve ter o direito sagrado sobre seu corpo — não tê-lo violado pelos homens que se consideram no direito de tocá-la e abusá-la, nem pelos homens que se consideram no direito de execrá-la por não desejar o fruto de uma noite de sexo… ou de violência sexual.

        No dia em que todo homem e toda mulher tiver o verdadeiro direito de escolher criar um filho com toda a dignidade e todas as opções que uma pessoa deve ter na vida, aí conversamos sobre os prós e os contras de um aborto. Agora, quando bem sabemos que muitas pessoas não tem a escolha de uma vida digna nem para si mesmos, e sabendo também que criar um filho é uma tarefa muito difícil e que, se mal sucedida, pode acarretar desastres em muitas vidas, não temos — nem eu nem você — o direito de olhar para uma mulher e dizer que ela não tem DIREITO de abortar um feto indesejado. Direito ela tem, sempre terá, pois o corpo dela apenas a ela pertence. E se você tiver uma melhor opção a apresentá-la, apresente. Mas se só tem uma retórica vazia de “a vida deveria ser melhor”, não espere ser ouvido. A vida é de verdade, meu amigo, e as escolhas também. E a cada um cabem as consequências das próprias escolhas. E não cabe a ninguém julgá-las… sob risco de ser também julgado.

        É por isso de digo… e julgo, admito… que toda pessoa anti-escolha é um hipócrita, autoritário e misógino. Quem se põe a julgar o outro e condená-lo, e tirar dele as escolhas, não merece ser melhor julgado. Já a quem cuida da própria vida, faz suas escolhas e não invade a vida alheia, não julgo nada. São pessoas que como eu estão apenas vivendo as próprias vidas, em vez de se meter nas vidas alheias, querendo controlar.

        Todos estes padres e bispos deveriam se preocupar em combater os cancros que grassam dentro da Igreja, todos os padres estupradores e estelionatários que abusam da fé e do corpo dos fiéis, e deixar as mulheres do mundo em paz!

        Abraços do Verde.

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