- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Bangladesh: Blogueiros revelam o falso Taj Mahal

Categorias: Sul da Ásia, Bangladesh, Índia, Arte e Cultura, Mídia e Jornalismo

original Taj MahalSe fica difícil para você visitar o Taj Mahal em Agra [1] (India), então o Taj Mahal terá que ir visitá-lo em sua cidade.

Nesses últimos dias fomos pegos de surpresa por uma matéria interessante e curiosa vinda de Bangladesh. Parece que esta matéria foi publicada pela AFP [2] [Agence France-Presse] [en] e então rapidamente foi pinçada pela MSM [Mainstream Media] em Bangladesh, Índia e mercados Internationais (links 1 [3][en] , 2[ [4]en] , 3 [5][en] , 4 [6][bn], 5 [7][en] , 6 [8][bn] para citar somente alguns).

fake Taj MahalA notícia foi a seguinte: um rico produtor de cinema de Bangladesh construiu ‘uma réplica exata’ do legendário Taj Mahal de Agra, em Sonargaon, uma pequena cidade a 30km da capital, Daca [9]. Aparentemente, o rico cavalheiro, Ahsanullah Moni, encheu-se de amores pelo monumento histórico em suas visitas a Agra e decidiu construir uma réplica exata em seu próprio país, para proporcionar a seus conterrâneos um gostinho do original, sem que tenham que realizar uma viagem dispendiosa até a distante Agra.

De acordo com o que Mr. Moni declarou à imprensa (reproduzido de forma religiosa pela mídia, por sua vez), é que levou um pouco mais de 5 anos (o original levou mais de 20 anos de construção) para que essa réplica fosse construida em tamanho real a um custo de 58 milhões de dólares. A MSM relatou também que centenas de trabalhadores e projetistas foram convocados para esse projeto (o original necessitou por volta de 20.000 pessoas) e, como marca de uma atenção precisa aos detalhes, uma equipe foi, de fato, a Agra e tirou as medidas da estrutura original, polegada a polegada. Há relatos de que a fim de recriar o deslumbrante original, 160kg (353lb) de bronze, mármore e granito foram importados da Itália e diamantes foram trazidos de avião, da Bélgica, para serem usados na construção.

Taj Mahal in BangladeshA suntuosidade da descrição provocou, de imediato, rumores e logo a réplica chamou a atenção do Alto Comissariado Indiano em Daca, que expressou irritação [10] [en] por ter que lidar com um ‘falso’ Taj criado bem em baixo de seu nariz. O interessante é que, neste momento em que a tensão entre os vizinhos está alta, a MSM logo difundiu relatórios enganosos sobre essa reação com frases fortes [11] [en] como “Tensão entre Bangladesh e Índia aumentou depois que veio à tona que um diretor de cinema está construindo uma cópia tamanho real do Taj Mahal”. Houve narrativas sobre os “fracassos diplomáticos”, a “revolta” da Índia e assim por diante. Tais artigos, por sua vez, provocaram comentários de um setor do funcionalismo de Bangladesh que sentiu que, se eles haviam de fato re-criado o Taj, a Índia não tinha o direito de criar uma tempestade já que eles eram da opinião de que monumentos históricos não podiam ser protegidos por direitos autorais. Somente uns poucos na mídia, mais tarde relataram que o Alto Comissariado Indiano, depois de investigar o incidente, havia declarado que era improvável que os visitantes tomassem um pelo outro e que era improvável que a réplica viesse a depreciar [12] [en] o esplendor do original.

visitors gathering in front of false TajEnquanto a MSM tirava proveito da situação, a população de Bangladesh se amontoava às centenas para dar uma olhada nesta nova maravilha trazida à soleira de sua porta. Alguns blogueiros bengaleses também visitaram o local para verificar o motivo dessa bagunça. Foi então que se descobriu que todo este exagero não era, talvez, mais do que uma propaganda, uma maneira enganosa de ganhar dinheiro com o nome do Taj.

O blogueiro Jhorohaowa [13] [bn] escreve sobre sua experiência:

মদনপুর বাসস্টান্ড নেমে দেখি টেমপুওয়ালারা ’তাজমহল’ বলে চিল্লাইতেছে। কেউ ভাড়া চাচ্ছে ৩০/- টাকা, কেউ ৪০/- টাকা। আধঘন্টা টেম্পু দিয়ে চলার পর একগ্রামে এসে থামলাম। সামনে বিশাল জ্যাম আর হাজার হাজার মানুষ। সবাই তাজমহল দেখতে আসছে। অপেক্ষা না করে নেমে হাটা দিলাম। প্রায় দুই কিলো হাটার পর তাজমহল কম্পাউন্ডে আসলাম, প্রবেশ মুল্য ৫০/- টাকা। কোন ব্যাপার না, আগ্রা গেলে আরো খরচ হইতো। তাড়াতাড়ি টিকেট কেটে ভিড় ঠেলে ভিতরে প্রবেশ করলাম।তাজমহলের চেহারা দেইখা মুখটা অটোমেটিক হা হয়ে ’শালা’ শব্দটা যে কেমনে বের হয়ে আসলো বুঝবার পারি নাই। আমার ঢাকাইয়া বন্ধুটি মুখ আর আটকাইয়া রাখা গেলো না। সে গাইল শুরু করলো- (গালি)রা টয়লেটের টাইলস লাগাইছে, মালিক পক্ষের সব (গালি)’রা ভাগছে, একটারে ডাইকা আইনা যে পাবলিক গাইলাইবো সেই উপায় নাই, (গালি)রা এই ঈদের দিনে পাবলিকরে ’বাকরা’ টুপি লাগায় দিলো … ইত্যাদি ইত্যাদি।

No ponto de ônibus de Madanpur, ouvimos o motoristas de tempo (rickshaw [espécie de carroça, normalmente puxada por homens] motorizado, um meio de transporte público) gritando “Taj Mahal”. Alguns estavam cobrando uma passagem de 30 Taka [moeda de Bangladedh], outros estavam pedindo 40 Taka. Depois de viajar por 30 minutos de tempo, chegamos a um vilarejo. A estrada afrente estava lotada com milhares de pessoas que tinham vindo para ver o “Taj Mahal”. Descemos do tempo e andamos cerca de 2km até chegar ao conjunto cercado por grades do “Taj Mahal”. O bilhete de entrada custava 50 Taka. Tudo bem, pensamos, uma viagem até o Taj original teria custado infinitamente mais. Depois de comprar os bilhetes, fizemos nosso caminho pelo meio da multidão e entramos no conjunto. Depois de ver o Taj, não havia nada que pudéssemos fazer para segurar os insultos que fluiam de nossas bocas. Meu amigo de Daca não se conteve. Ele disse, “fizeram uso de ladrilhos de banheiro e agora os proprietários fugiram para não serem colocados contra a parede e terem que ouvir nossa opinião … nesse feriado de Eid, nos fizeram de tolos, etc, etc.

Jhorohaowa também escreve que ao inaugurar uma construção incompleta e mal projetada com tal nível de divulgação fantasiosa na mídia os empreendedores do projeto deixaram claro seu objetivo de conseguir uma grana fácil durante o feriado do Eid.

Bibortonbadi [14] [bn] , outro blogueiro que visitou o local, também estava muito perturbado por ter caído na armadilha de um jornalismo sensacionalista; ele anotou em seu blogue:

কিছুই না দেখবার মত। শুভ্র তাজমহলের সোকলড রেপ্লিকা বানিয়েছে সাদার মাঝে নানা রঙ্গের টাইলস দিয়ে। সংবাদপত্রে কত কিছুই না পড়লাম। খরচ ৪০০ কোটি টাকা, ইতালি থেকে আনা মুল্যবান পাথর ও টাইলস্‌, বেলজিয়াম থেকে আনা ১৭২ টি হীরক খন্ড, গম্বুজের উপরে চারমন ওজনের ব্রোঞ্জ, কোথায় এসব??? ৪০০ কোটি টাকা কি পান্তা ভাত নাকি! নরমাল ইট-সিমেন্টের একটা স্ট্রাকচারের উপরে দেশী টাইলস্‌ (আমার বন্ধু বাড়ির কাজকর্ম ভাল বোঝে, তার মতে টাইলস গুলো দেশী) বসানো। এমন কি টাইলসের কাটাও ঠিক মত হয় নাই, আনাড়ি হাতের কাজ। এখনও ফিনিশিং সম্পূর্ণ হয় নাই। ইতালির পাথর যদি পরে বসাবার ইচ্ছাও থাকে তবে কোথায় বসাবে? দর্শনার্থিরা সবাই বিরক্ত এবং নিজেদের প্রতারিত ভাবছেন…প্রায় ১০ মিনিট দেখবার পরেই বুঝতে পারলাম আমাদের জন্য ভেতরে আর কিছুই নেই। বেরিয়ে হাটা ধরলাম। পথে অনান্য দর্শনার্থিদের সাথে কথা হল, সবার একই উত্তর “ভূয়া”।

Não há nada que valha a pena ver. A assim chamada “réplica” do grandioso Taj foi feita com ladrilhos coloridos. Havia lido tantas coisas nos jornais – 400crores de Taka [1 crore= 10 milhões], mármore valioso e ladrilhos da Itália, 172 diamantes da Bélgica, 160kg de bronze no domo…onde está tudo isso? Seriam 400crores de Taka tão pouco assim? Ladrilhos locais numa estrutura comum e simples de tijolos… mesmo o trabalho de ladrilho é o de um amador… a estrutura está ainda inacabada. Mesmo que depois de tudo isso eles ainda queiram colocar mármore italiano, onde irão colocá-lo? Todos os visitantes estavam chateados e se sentindo enganados….Depois de 10 minutos, percebemos que não havia nada no interior para se ver. Fomos embora. No caminho de volta, falamos com outros visitantes e percebemos que havia somente uma expressão correndo de boca em boca – “que enganação!”

O blogueiro coloca um vídeo na internet que mostra as pessoas se aglomerando para ver o Taj e expressando sua decepção:

Prothom Bangla [15] [bn] faz uma reflexão sobre os sentimentos dos visitantes que descrevem a empreitada de Ahsanullah Moni:

পাগল হিন্দি সিনেমা নকল করতে করতে, মাথা আওলাইয়া গেছে। দেখছে। ভাল আয় রোজগার। এখন তাজ মহল নির্মান করছে।
পাঁজি যে টাকা খরচ করেচে, সেই টাকা যদি দেশের হত-দরিদ্র মানুষের উন্নয়নে কাজে লাগাত তাহলে হত গরীবের উপকার ।

“Este sujeito perdeu a cabeça por produzir filmes que são cópias dos filmes indianos. Ele percebeu que isso traz um bom dinheiro. Sendo assim, construiu esta (cópia de) Taj Mahal.
Se ele aplicasse os milhões que gastou aqui em causas voltadas para as pessoas pobres poderia trazer benefício ao país.”

Bibortonbadi vai em frente e questiona o papel da MSM no estímulo que deu a esta fraude com seu relato exagerado. Ele diz [14] [bn]:

অবাক লাগল এই যে দেশের শীর্ষ স্থানীয় পত্রিকা গুলো কিভাবে কোন রকম খোজ খবর ছাড়াই ৪০০ কোটি টাকার বিনিয়োগ, ১৭২ টি হীরক খন্ড, ইতালির টাইলস/পাথরের ভূয়া খবর ছাপালেন। ৪০০ কোটি টাকা কি কম? এত টাকার বিনিয়োগে, একটি বিখ্যাত স্থাপনার রেপ্লিকা তৈরি ব্যাপারে তারা কি সরোজমিনে একবারও ঘুরে দেখে আসবার সময় করতে পারলেননা। ঢাকা থেকে নারায়নগঞ্জের, সোনারগাঁয়ের পেরাবো গ্রামে যেতে বড়জোর এক দেড় ঘন্টাই লাগত!! এই দেশে কি খবরের অভাব আছে? নাকি টাকা দিলেই খবর ছাপানো যায়। খুব বেশী হলে এই স্থাপনাতে ৩/৪ কোটি টাকার মত খরচ হয়েছে।

Fiquei surpreso de perceber que os jornais diários mais importantes do país não fizeram qualquer verificação antes de escrever sobre essas declarações falsas, tais como as dos 400crores BD Taka (58 millions de dólares americanos), 172 diamantes, mármore italiano, etc. Seriam 400crores uma brincadeira de criança? Quando houve referência a tamanha quantia em dinheiro, não encontraram tempo para verificar se o fato era verdadeiro antes de publicá-lo da maneira como o fizeram? No máximo, teriam tido que viajar por 1 hora e meia para tirar a dúvida. Há tanta carência assim de notícias neste país (que faz com que não haja necessidade de verificar – qualquer coisa serve) ou o poder do dinheiro faz com que qualquer coisa possa ser publicada hoje em dia? Na pior das hipóteses, apenas 3/4 de crores teriam sido gastos.

O blogueiro Raihan [16][bn] telefonou para a sala de imprensa de um dos principais jornais diários bengalês, o Prothom Alo [17] [bn], que havia também publicado o artigo sobre o “Taj” completo com detalhes da suntuosidade, e perguntou se o repóter deles havia estado no local, pessoalmente, antes de publicar o artigo e, em caso negativo, como poderiam ter publicado um artigo sem primeiro se certificar dos fatos com seus próprios olhos. Ele diz que, como resposta, a sala de imprensa informou que haviam, simplesmente, divulgado o artigo da AFP. Depois de alertar a pessoa do outro lado da linha sobre os fatos, foi informado que mandariam, sem dúvida, um repórter visitar o local e escrever um outros artigo sobre o mesmo.

Com os blogueiros bangaleses enviando sua experiência, em primeira-mão, de visita ao local por meio de postagens, fotos e vídeos, só agora estamos tendo uma noção real da história do “falso Taj”.

A imagem do Taj Mahal original, na Índia, é da Wikipedia [18], usada sob Licença de Bens Criativos [Creative Commons Licence, em Inglês]. As outras imagens são de Bibortonbadi [19] [bn] e foram usadas sob permissão.