Lusosfera unida por Obama

A América e o mundo testemunham um momento histórico com a chegada de Barack Obama à presidência. Não só pela cor do 44º presidente americano – o que seria bastante redutor – mas pela mudança que Obama transporta no olhar, nas palavras, na convicção e nos projectos futuros. Barack Obama herda uma economia aos solavancos, traumas produzidos pela infindável guerra no Iraque e a luta pelo meio ambiente, entre outros sintomas da má gestão levada a cabo por George W. Bush.

A vitória de Obama emociona americanos e pessoas de todo o mundo. Como se estivessemos todos sedentos de mudança. Como se tivesse finalmente chegado o grande líder que ansiamos seguir. Direto de Nova York, o moçambicano Manuel Araújo conta o movimento de gente na Times Square para ver Obama e diz que terá orgulho de contar aos seus netos que estava lá nesse momento histórico:

“Estive la, nao apenas por mim. Estive la porque tinha que la estar, para todos aqueles que queriam la estar e por varias razoes, quer materiais, quer financeiras, quer emocionais nao podiam la estar!

A explosao de alegria no Time Square foi tanta que por momentos fiquei surdo! As lagrimas foram tantas que me senti por segundos sufocado e afogado naquele mar de alegria! A felicidade tao grande que por segundos senti um no pescoco! O ar tao quente que por segundos senti o calor da raca humana! Um calor que nuna tinha sentido antes.

No Times square, hoje descobri que quando o ideal e a esperanca e grande existe apenas uma raca – A RACA HUMANA! Que nao ha negros ou brancos, mulatos ou latinos, africanos ou asiaticos, vermelhos, azuis, pobres, ricos, nordicos, autralianos, pakistanis, kenyanos, zambianos, dominiquenhos, costariquenos, japoneses! A diversidade de racas, nacionalidades, estratos sociais representadas fez-me recordar a figura biblica da Arca de Noe!”.

O blog A Casa de Luanda fez questão de partilhar com os seus leitores a esperança depositada em Obama:

“Obama emocionou-me com o seu discurso. Lembrou-nos de como um país deve ir muito além de uma colectividade de indíviduos. Deve ser uma unidade de pessoas que olham umas para as outras. Lembrou que temos histórias diferentes, mas um mesmo destino. Que enquanto respiramos, temos esperança. E principalmente, convocou os americanos e o mundo para um novo espírito de trabalho, baseado na responsabilidade, nas alianças, na esperança, na liberdade e na paz. Espero que o discurso ecoe em Angola, pois este país precisa como ninguém de todos esses valores”.

Com a chegada de Barack Obama à presidência, aparecem sentimentos confusos. A maioria dos apoiantes do agora presidente está feliz por esta vitória porque Obama descende de negros e acreditam que devido a este facto, poderá ajudar no combate à discriminação racial e tornar-se um porta-estandarte para a raça negra. No Quénia, país Natal do pai do agora presidente americano, esperam ingénuamente a salvação pelas mãos de Obama, esperando que este corra com os corruptos daquele país e facilite a obtenção de vistos para entrada em solo americano. É o “american dream” em acção, concretizado e proferido por Obama no discurso pós-vitória. Mas antes de mais nada, Barack Obama é americano e fez questão de frisar isso mesmo durante a campanha eleitoral.

A autora do blog Menina de Angola reflecte sobre este assunto:

“Angola está sorrindo, bom pelo menos a minoria que entende ou acha que entende o que está acontecendo mundo. Os poucos angolanos com acesso à informação comemoram a vitória de Barack Obama, brindam ao primeiro negro da história mundial, mas cá com os meus botões, não vejo bem o que muda para nós pobres mortais. Não vejo como a cor da pele pode alterar o rumo da história do dia para a noite. Por acaso o racismo vai acabar? A fome e miséria do mundo vão desaparecer como num passe de mágica? Os conflitos intermináveis no médio oriente terão fim? Ele é apenas mais um americano no poder, com os mesmos ideiais de todos os americanos. É mais um capitalista rico que veio de família rica e teve acesso às melhores escolas. Mas acima de tudo ele é apenas um ser humano, não um mágico, messias ou super homem com super poderes, capaz de resolver todos os problemas do mundo do dia para a noite. Não estou fazendo propaganda contra, muito pelo contrário, fiquei muito feliz com a vitória de Obama, mas não porque ele é negro, branco, amarelo ou rosa choque, mas sim porque a sua plataforma de governo inclui entre outras coisas, uma grande preocupação com o meio ambiente. Eu vou comemorar de verdade daqui a 4 ou 5 anos quando as promessas de campanha tornarem-se realidade”.

O blog Chez Ludgero de Cabo Verde manifesta o seu entusiasmo por Barack, escrevendo:

“Barack Obama é um fenómeno global. Fala-se dele em todas as línguas, em todos os países. Aqui em Cabo Verde tornou-se usual ver-se gente de todas as raças, de culturas diferenciadas, oriundas de vários pontos do globo, falando de Obama. A África lusófona ficou orfã depois de perder os seus líderes históricos (Cabral, Neto, Mondlane e Machel). E isso um pouco em consequência de alguma reticência em relação a Kalungano e alguns outros, por causa da mistura de raças que corporizam. A consagração de Obama, num ambiente como o dos Estados Unidos, pode chamar toda a África à razão, mormente os países lusófonos, cuja maior riqueza reside na mistura de raças e no encontro de culturas. A consagração da educação como a chave que abre todas as portas (mesmo as da Casa Branca) seria a maior lição a tirar da trajectória de Obama.”

Sejam quais forem os motivos de apoio a Obama, o novo presidente americano conseguiu gerar à sua volta uma forte empatia, tanto a nível nacional como internacional. Kianda do blog O silêncio da Kianda expressa sem pudores, a admiração por Barack Obama:

“Gosto de Obama porque sou muito mais democrata do que republicana, na minha essência de mais de esquerda do que conservadora. Sou a favor do aborto, do casamento dos homossexuais, da sensibilidade para questões sociais, da não ingerência arbitrária dos EUA na política interna do resto do mundo. Acredito muito mais no programa de Obama para resolver ou controlar os problemas económicos dentro dos Estados, o que tem sempre consequências no resto do mundo. Acredito mais na calma e na serenidade de Obama para julgar os problemas. Tem o sangue frio necessário para esta altura da história.”

O arquiteto, ilustrador e cartunista João agradece Obama com um cartum no Timor Cartoon International:


Seja qual for o resultado…

1 comentário

  • De facto a subida de Obama foi emocionante para muita gente e embora não estivesse lá como o meu compatriota Manuel de Araujo, foi como se estivesse, acompanhei tudo em directo via televisão que transmitia imagens de diversas partes deste mundo com todos festejando a subida do histórico Obama. Mas eu penso que o grande feito deste homem tem como desafio suportar e realizar acções que toda gente espera dele, é um grande desafio mas se o conseguir, aí sim, para alem de fazer a historia, consumará o sua prelecção feita na campanha.

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