Assombrações e lendas brasileiras na lusosfera. Parte 2

No primeiro artigo desta série, vasculhamos a internet brasileira em busca de websites que nos contassem histórias sobre assombrações e seres encatados do folclore brasileiro. Agora, neste segundo artigo da série vamos ouvir as histórias e lendas contadas por blogueiros. Eles vão nos contar sobre o Cabeça de Cuia e sobre o Caboclo D'Água, e sobre a bela e triste lenda da Vitória Régia. Vão nos dizer mais detalhes sobre a misteriosa Loira do Banheiro e vão nos segredar sobre o Boto, que sai do rio para seduzir as moças e abandoná-las para carregar e criar seus filhos.

Alma Vagando, by DPadua
Alma Vagando, por DPadua no Flickr. Usado sob licença Creative Commons.

Como prometemos no artigo anterior, vamos nos aprofundar mais na história da misteriosa Loira do Banheiro. E é ninguém menos do que Cláudio, também conhecido com Tio Cráudio, o antigo zelador do blogue Casos Sobrenaturais, quem nos conta sobre os detalhes a respeito da terrível morte que transformou uma vaidosa jovem em uma cruel assombração.

“Conta-se que , havia uma garota loira (para variar) muito vaidosa que sempre filava aula para ficar no banheiro da escola se admirando no espelho.Ela era sempre protegida pelo zelador ,que encobria suas fugas.Este,mantinha um desejo platônico pela garota que aumentava exponencialmente durante o passar dos anos.
Um belo dia o zelador resolveu esperar a loira na saida do banheiro e declarou os seus sentimentos.Ela, sem pestanejar, caiu na gargalhada e mostrou todo seu desprezo pelo rapaz de forma humilhante.Ele, tomado por um misto de ódio e decepção, a arremessou dentro do banheiro e a espancou violentamente, abafando seus gritos com as mãos.
Após o ato inconsequente , o zelador fugiu do colégio e nunca mais voltou.Dizem que ela ,antes de morrer, conseguiu se levantar e ver seu rosto deformado pelos edemas e cortes no espelho,soltando um grito de pavor que fez todo o colégio se arrepiar.
Varias pessoas se dirigiram ao banheiro em busca do que havia acontecido mas nada encontraram.Não havia ninguém alí.
Como a garota sumiu, a polícia associou o desaparecimento com a fuga do zelador e o prendeu.Ele acabou confessando a agressão mas não soube dizer onde o corpo estava.”

Tio Cráudio jura que a história é tão verdadeira quanto os lendários bolos de cenoura preparados por sua mítica mãe. Mas, como dissemos antes, tudo a respeito da Loira do Banheiro é profundamente misterioso.

No Ulysse's Site, o usuário lord85 do Multiply nos fala sobre vários mitos e lendas populares brasileiros. Entre outros, ele nos traz a história do Cabeça de Cuia e a lenda do Caboclo D'Água, e reconta a bela e triste lenda indígena da Vitória Régia:

Cabeça de Cuia

Durante as cheias, sempre à noite e mais freqüentemente às sextas-feiras, costuma aparecer nas águas dos rios Poti e Parnaíba, um monstro. Trata-se de um sujeito alto, magro, com longos cabelos caídos pela testa e cheios de lodo, a que chamam cabeça de cuia.

Dizem que, há muitos anos, em uma pequena aldeia do vilarejo denominado Poti Velho vivia uma pequena família, cujo arrimo era um jovem pescador, a que alguns dão o nome de Crispim. Certo dia, o rapaz retornou da pesca muito aborrecido. À hora da refeição, composta de carne de vaca, pegou um enorme pedaço de osso e, a fim de tirar o tutano, bateu com ele na cabeça da velha mãe. A pobre senhora, indignada e enfurecida, rogou-lhe uma praga, amaldiçoando-o. O filho, com o coração tomado de remorso, pôs-se a correr como um louco e atirou-se às águas do rio Poti, desaparecendo.

Desde esse dia, o cabeça de cuia nada errante pelas águas dos dois rios, surgindo ora aqui, ora ali, na época das enchentes e nas noites de sexta-feira. Aparece de repente e agarra banhistas desavisados, principalmente crianças, arrastando-os para o fundo das águas. De sete em sete anos, devora uma moça chamada Maria. Após apoderar-se de sete Marias, seu encanto estará quebrado e ele retornará ao seu estado natural. Contam que sua mãe permanecerá viva até que o filho esteja livre de sua sina.

É o principal mito do estado do Piauí. A Prefeitura de Teresina instituiu, em 2003, o Dia do Cabeça de Cuia, a ser comemorado na última sexta-feira do mês de abril

Caboclo Dágua
Caboclo D'Água, conforme ilustração no Ulysse's Site.

Caboclo D'Água

O caboclo-dágua, também chamado negro-dágua e bicho-dágua, é um dos mitos aquáticos mais populares na região do vale do rio São Francisco. Ninguém sabe de onde surgiu. Vive nas barrancas e alagadiços. Segundo as descrições mais comuns, é baixo, troncudo, musculoso, muito forte, tem a pele cor de bronze e um só olho no meio da testa. Apesar de seu tipo físico, movimenta-se de forma muito rápida e ágil. Às vezes sai do rio e caminha pela terra, geralmente para praticar alguma vingança ou fazer algum favor, mas nunca se afasta muito das margens. Para muitos, é um só e possui poderes para estar em vários lugares ao mesmo tempo.

Dizem que possui o temperamento enfezado e não nutre grandes simpatias para com os pescadores e remeiros. Agarra o fundo das canoas e barcos, balançando-os até os virar ou encalhando-os. Seu corpo é à prova de balas. Para evitar encontrá-lo, deve-se fincar uma faca no fundo da embarcação. Porém, se for bem tratado, o caboclo torna-se benfazejo, ajudando nas pescarias e evitando enchentes. Para agradá-lo, basta oferecer-lhe fumo.

Vitória Régia

Numa Tribo de índios que vivia às margens do Grande Rio. Nos igarapés silenciosos as jovens índias cantavam e sonhavam.As índias ficavam por muitas horas olhando a Lua ( Jaci como a chamavam a Deusa), a beleza das estrelas. Um dia, Neca-Neca, uma bela jovem índia , subiu numa árvore mais alta para ver se tocava na lua. Não conseguiu. Impacientes as índias, noutro dia, foram as montanhas distantes para tocarem com as mãos a lua e as estrelas. Nada, quando lá chegaram a lua estava tão distante que voltaram tristonhas para suas malocas, e na rede todas ficaram deitadas muito tristes. Ficaram tristes, porque, caso tocassem a lua ou as estrelas, tornar-se iam uma delas com toda a sua beleza.
Numa outra noite, Neca-neca, deixou sua rede, muito tristonha, desiludida porque não conseguira tocar a lua. Era uma noite de lua cheia. Lá estava a lua grande bela, refletida nas águas. Ela então resolveu pedir a Lua para Tocá-la,e resolveu atirar-se no Rio para tentar tocá-la (o Reflexo da Lua no Rio) e desapareceu. A lua (Iaci) ficou com muita pena e resolveu imortalizá-la na terra pois era impossível para ela levá-la para seu reino espiritual e transformá-la numa estrela ,então transformou-a numa flor, a vitória-régia.

A foto da Vitória Régia usada na citação acima é de autoria de CelsoAbreu, e foi publicada de acordo com sua licença Creative Commons.

Em seu blogue Diário de Lisboa, uma blogueira luso-brasileira que se identifica apenas como uma “nereida guerreira das palavras” nos conta a história do Boto, o animal aquático que vira gente nas noites de festa para seduzir as moças que vivem na beira do rio:

O Boto

“Personagem de grande importância na mitologia amazônica, principalmente no Pará. Segundo a lenda, o Boto Rosa deixa as águas do Rio Amazonas e transforma-se em um rapaz cuja beleza, fala meiga e sedutora, magnetismo do olhar atraem irresistivelmente todas as mulheres.

Contam que em noites de festa, ele se transforma em um rapaz alto, claro, forte,bonito e sempre se apresenta muito bem vestido, sempre de branco, sem nunca remover o chapéu que usa para ocultar o orifício para respiração no alto da cabeça. O boto bebe, dança, seduz as moças interioranas que comparecem as festas de beira de rio. Antes da alvorada, pula na água e volta à sua condição primitiva. Porém acabando o encanto, na hora que tem de transformar-se em boto, seus acessórios voltam a ser habitantes das águas: a espada é um poraquê, o chapéu é uma arraia e assim por diante.

A lenda serve de aviso às moças para tomarem cuidado com flertes que recebiam de belos rapazes em bailes ou festas. Por detrás deles poderia estar a figura do Boto, um conquistador de corações, que pode engravidá-las e abandoná-las.”

Estas são apenas algumas, muito poucas, das histórias e lendas contadas e recontadas dentro e fora da blogosfera lusófona. No próximo artigo, o último desta série, vamos nos concentrar na busca ao Saci Pererê — talvez o mais famoso e misterioso ser da mitologia brasileira. Vamos seguir seu rastro de blogue em blogue, descobrir quem ele é e como encontrá-lo, e com sorte descobrir como evitar suas brincadeiras. Não perca.

15 comentários

  • Clara

    Muito bom este texto. Adorei a origem da história da loira do banheiro e do boto (acho o boto um animal lindo)!
    As fotos estão super bonitas…
    Bjks

  • Olá Clara,
    muito obrigado pelo elogio. Fico feliz que tenhas gostado.
    Também acho os Botos animais muito belos, adoráveis mesmo.
    As fotos deram algum trabalho, pois é um tanto difícil encontrar material sobre mitos brasileiros com licenças abertas na internet. Mas valeu a pena, né?

    Já falei que seu artigo sobre os mitos angolanos também ficou muito bacana?

    Estou trabalhando hoje na tradução do terceiro artigo, que se debruçará sobre a história do Sací Pererê.

    Abraços do Verde.

  • Clara

    Ainda bem que gostaste! Vou agora ler a tua matéria sobre o Saci..cá vêem as lembranças de novo:)

    Abraços

  • […] deixe de ler os outros dois artigos da série Assombrações e lendas brasileiras na lusosfera. Aqui você confere a segunda parte, e aqui você encontra a terceira e última parte da […]

  • Tome muito cuidado pois muitas almas estao vagando pelo nosso pais pode lhe matar CUIDADOOOOOOOOOO!

  • no que mentirada cuidado que aloira do banheiro pode te pegar
    auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  • olha estes mitos são de mais vou fazer um trabalho com eles

  • Rafaela

    São muito legais os mitos.Mas eu queria saber :se o mito do boto é um mito de brasilia?
    Obg

  • Olá Rafaela,

    Pelo que sei a lenda do Boto é originária dos estados da Região Norte, principalmente o Pará e o Amazonas. Mas nada impede que a lenda tenha migrado para outras regiões ribeirinhas, e até regiões costeiras (numa versão marítima do boto)…
    Por outro lado, acho que uma lenda como a do Boto fica meio deslocada em Brasília, não? Quantos botos haverá por aqui? ;)

    Abraços do Verde

  • Antônio Pereira

    30/05/2009 –
    Violeiro lança guia para caçadores de sacis e curupiras; Assista o vídeo! (link indicado)

    Andar bastante pelo país e ouvir “causos” das mais estranhas criaturas do folclore brasileiro, como sacis, mapinguaris, juruparis, iaras e outros seres das matas, foi o que fez o escritor, ilustrador e músico Fábio Sombra, 43, antes de escrever o recém-lançado livro “Curupiras, Sacis e Outras Criaturas das Florestas – Um Guia de Observação”.

    No vídeo a seguir, esse violeiro cheio de histórias pra contar fala sobre os costumes pertencentes à cultura do país. Em seu livro, por exemplo, saci há mais de um, já que as descrições coletadas Brasil afora sobre essa famosa figura lendária foram diversas, sendo inclusas neste verdadeiro guia de observação de criaturas.

    http://www1.folha.uol.com.br/folha/videocasts/ult10038u574021.shtml

    ——–
    23/08/2001
    Folclore do lobisomem muda de acordo com a região do país.

    O principal “homenageado” da festa do folclore de São Luís do Paraitinga -o lobisomem- tem características diferentes em cada região do país, segundo o pesquisador e contador de histórias, Giba Pedroza.
    “O lobisomem no Brasil muda muito, mas é sempre associado a uma sina moralista cristã, de culpa. Ele tem um arquétipo parecido com o do vampiro, de solidão e tristeza”, explica o pesquisador.
    Histórias de lobisomem existem em todo o mundo. Em Portugal, por exemplo, é feminino.
    No Brasil, diz a história que toda mulher que der luz a sete filhos homens, um deles vira lobisomem, que é uma mistura de cachorro ou lobo com o ser humano. “Ele é magro, tem olhar triste e orelhas grandes”, conta Pedroza.
    No Sudeste e Sul do país, o lobisomem é o resultado de relações sexuais incestuosas, entre irmãos, primos ou compadres.
    O homem que se transforma na criatura é rabugento e se alimenta pouco, mas gosta de apreciar comidas muito salgadas, por causa do gosto de sangue que fica em sua boca. É apático, de gestos vagarosos, anda um pouco curvado e é abatido.
    As informações são do livro “Geografia dos Mitos Brasileiros”, de Câmara Cascudo, fonte de inspiração de Pedroza, que há 11 anos pesquisa histórias do folclore brasileiro.

    http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u16924.shtml


    23/08/2001 –
    Folclore vive na voz dos contadores em São Luís do Paraitinga (SP)

    Quem nunca ouviu falar em lobisomem, mula-sem-cabeça, saci e outras “assombrações” vai ter uma boa oportunidade de conhecer essas histórias folclóricas neste final de semana, em São Luís do Paraitinga.
    O tema da festa do folclore da cidade é “Tem Lobisomem pra Tudo Quanto É Gosto”. O evento conta com peças de teatro, bailes, desfile de bonecões e, principalmente, muitos contadores de histórias, que vão narrar contos e “causos” do folclore nacional e regional.
    A cidade histórica do Vale do Paraíba é conhecida como um dos últimos redutos caipiras e, como é de conhecimento geral, todo “matuto” tem um “causo” para contar.
    “O festival de contadores nasceu da idéia de ouvir as histórias dos moradores daqui”, disse o pesquisador e contador de histórias Giba Pedroza.
    Segundo o pesquisador, que se apresenta amanhã, as lendas e “causos” narrados pelos moradores de São Luís têm uma característica parecida com as do escritor Câmara Cascudo.
    “É a pureza que atrai. Essas histórias fazem parte da tradição oral e têm uma força muito grande”, disse o pesquisador.
    Ele explica que essa força vem de experiências “vividas”, que são transformadas com o tempo e o cotidiano das pessoas.
    “Às vezes, até eu me envolvo e acho que o que estou narrando, eu testemunhei. Você se envolve”, afirma Pedroza.
    A Prefeitura de São Luís do Paraitinga organizou um concurso de redação entre os alunos das redes estadual, municipal e particular de ensino. O objetivo é montar oficinas permanentes de contadores de histórias.
    Contadores de histórias da indústria de cosméticos Natura são voluntários para ensinar o “ofício” às crianças. As redações estarão expostas, durante o festival, em um varal na Casa Doutor Oswaldo Cruz.
    No sábado, acontece o Baile do Lobisomem, no Clube de Campo da cidade, que, por coincidência, fica próximo do cemitério.

    http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u16923.shtml

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