Angola: Caos e esperança marcam primeira eleição em 16 anos

Foto da usuária do flicrk KaLuany, que votou pela primeira vez no último dia 05 de setembro.

Angola foi finalmente a votos no passado dia cinco. Os eleitores acorreram pacificamente às urnas e lá depositaram o seu voto com esperança de um futuro melhor para o país. Após dezasseis anos, os angolanos aguardaram com excitação e algum receio este momento histórico. Soba L [pt] diz que o voto foi como ele sempre sonhou:

“Esperei por este dia com muita ansiedade e curiosidade pois sabia que era um dia especial para Angola e para os angolanos. Durante muitos anos o nosso dia-a-dia foi marcado pela tristeza da guerra. Uma guerra que ceifava vidas, destruía bens e consumia grande parte dos nossos recursos e energias. Finalmente estamos na presença de um acontecimento histórico. Os angolanos ansiavam desde há muito tempo pela chegada deste momento de paz e certeza no futuro. Um novo cenário já se vislumbra no nosso horizonte. Começamos a sentir os primeiros efeitos benéficos da paz porque ela já se manifesta na sua dimensão humana”.

“Devido aos atrasos que ocorreram no primeiro dia de votação foi decidido que um determinado número de pontos de votação abrissem para um segundo dia de pleito. A UNITA, principal partido da oposição, imediatmente abriu o berreiro”, diz o usuário do Flicrk Sam.Seyffert na legenda dessa foto.

Em vésperas de votação a vida ganhou agitação. Traumatizados pelos acontecimentos de 1992, quando a guerrilha recomeçou depois que os resultados das eleições foram rejeitados pelo líder da Unita Jonas Savimbi, os angolanos acorreram às grandes superfícies comerciais para comprar bens de primeira necessidade, apesar dos comunicados lançados pelo governo a fim de contrariar esta tendência. Apesar de alguns sobressaltos devido à falta de organização, o processo eleitoral teve um saldo positivo, de acordo com o presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) Caetano de Sousa. Carlos Lopes [pt] relata a situação vivida no dia cinco:

“Apesar de todas as situações anómalas que ocorreram em algumas assembleias de voto, umas que abriram com atrasos de horas de manhã e à tarde, outras que nem sequer abriram, noutras falharam os boletins de voto ou cadernos eleitorais, o presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) garantiu que o processo de votação decorreu em todo o país com “normalidade” e observância das regras estabelecidas para as legislativas. Surpreendentemente admitia a possibilidade da divulgação dos primeiros resultados parciais, ao anoitecer. Mas depois lá aceitou os atrasos de abertura de algumas assembleias em Luanda, devido a problemas operacionais e que as coisas iam melhorando com o decorrer do tempo. Para o Dr. Caetano de Sousa, o problema de Luanda é ter muita gente e pouca fluidez no trânsito, algo que todos os luandenses sabem. A solução de recurso que foi encontrada, foi adiantar a hora do fecho das assembleias e com isso, já algumas funcionam com velas porque os conhecidos cortes de energia eléctrica estão a acontecer e alguém esqueceu-se de levar o gerador. Na Huíla e Cabinda, também tiveram algumas assembleias a serem abertas com atraso.”

“Long lines of voters still waiting for the poll booths to open, some since 04H00″, says Flickr user Sam.Seyffert

Devido a estes problemas organizacionais, Luanda teve direito a mais um dia de votos. Os resultados irão sair no início desta semana, já que o CNE não possui um sistema digital de contagem de votos. Os resultados parciais indicam que o MPLA vai à frente com 81% dos votos, seguido pela UNITA com 10% . O blog Mesumajik Uka faz a seguinte análise sobre os resultados eleitorais:

“Fomos às urnas e votamos. Escolhemos quem nos merece. Os números falam por si. Houve constrangimentos em Luanda e noutros locais de diversas províncias, como a falta de boletins de voto ou de envelopes para os votos especiais*. São constrangimentos que afectaram todas as formações concorrentes e não apenas uns. Por isso se houve lisura houve para todos. Quem está de parabéns somos nós, os angolanos que dissemos sim ao voto massivo. O MPLA tem uma maioria absoluta do seu trabalho governativo e do convencimento do eleitorado ao longo da campanha política. O grande perdedor destas eleições é sobretudo a UNITA que fica com menos de 50 deputados em relação à cessante legislatura. Perdeu também o PLD e todos os demais partidos que ficam abaixo dos resultados de 1992.”

[*Observação: As urnas “especiais” foram usadas para que eleitores registrados de acordo com o documento de indentidade, em vez de local onde moram, pudessem votar, o que inclui algumas milhares de pessoas que fugiram do campo para Luanda durante 27 anos de guerra civil.]

A UNITA já veio a público contestar os resultados apresentado uma impugnação ao pleito diante da CNE. Esta atitude trouxe algum receio aos angolanos. No entanto, na noite passada, Isaías Samakuva, dirigente da UNITA admitiu a derrota nas eleições parlamentares. Ele afirmou que “não se trata de contestação dos resultados eleitorais mas sim procurar a lisura e a integridade do processo. Os factos indicam que os resultados finais desta eleição não reflectem a vontade expressa nas urnas. Seja qual for o desfecho, os angolanos ganharam maior consciência e a vida vai continuar.

“A vontade era imensa… mas As condições das assembleias de voto eram, em geral, péssimas”, foto do usuário do Flickr Kool2bBop,

Com mais de 70% das zonas eleitorais processadas até o momento e com o principal partido político angolano aparentemente eleito com uma maioria esmagadora, Angola Sempre [pt] se pergunta qual a percentagem do absentismo e o porquê dele não ter sido anunciado, e traça os desafios que vêm pela frente.

Cabe a árdua tarefa ao Presidente do MPLA, de «escolher a dedo», os melhores entre os melhores, que governarão o país nos próximos quatro anos.
A «luta para o poleiro» está do lado do MPLA e os outros partidos com assento na Assembleia Nacional, vão « assistir de bancada» o bom ou mau desempenho do governo do MPLA, apresentando novas proposta de lei, que consideram mais adequadas a melhoria da vida dos Angolanos, cabendo ao MPLA votá-las favoravelmente ou não, ou fazendo pior, meter na gaveta, como várias vezes fez aos projectos de Lei da UNITA. Mas também há uma nobre tarefa da oposição na Assembleia Nacional, que é o de fiscalizar a acção do governo do MPLA. Os Angolanos têm esperança que a sua vida vai ser mais digna, porque se isso não acontecer, no próximo pleito eleitoral, e não vai demorar muito, irá ser feito um balanço, cujo resultado vai ser apresentado no voto do eleitor.

“A sede municipal do MPLA em ritmo de campanha”, foto do usuário do Flicrk Sam.Seyffert

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