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Angola: Campanha eleitoral não anima os eleitores

Categorias: África Subsaariana, Angola, Desenvolvimento, Eleições, Liberdade de Expressão, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Política

Embora o país viva em clima de campanha eleitoral há quase um mês [1], o certo é que pelas ruas da cidade de Luanda, pouco ou nada se vê de preponderante capaz de chamar a atenção do eleitorado e desde o primeiro dia que a campanha se tem revelado morna. O blogue Eleição 2008 atesta [2]:

Quase não há campanha nas ruas. Ninguém que chegasse hoje a Angola diria que se está à beira de eleições.

“Angola a mudar para melhor” diz a propaganda do MPLA. Foto gentilmente cedida por José Manuel Lima da Silva, usuário Kool2bBop [3] do Flickr

Os partidos com maior destaque são a UNITA e o MPLA e é possível ver cartazes destas duas forças políticas colados em paredes, árvores, quintais e viaturas. O tempo de antena fornecido pela Televisão Pública de Angola (TPA) demonstra a nível de todos os partidos, a falta de capacidade para agarrar o eleitor. Os argumentos utilizados são fracos e os respectivos programas eleitorais também. Nelson Morais [4] pergunta quando os partidos se voltarão para os ensejos do povo:

Nos últimos dias a imprensa tem comentado que … as eleições que se realizarão no mês de Setembro,não será mais um fiasco…. porque o povo aprendeu com os erros cometidos no passado. Deixo aqui um comentário: será com esta movimentação dos partidos políticos cheios de preocupação para obterem um resultado satisfatório, haverá alguém que está verdadeiramente empenhado em ouvir e procurar ajudar este povo?!!!!

Tendo em conta a expectativa gerada em torno do começo da campanha eleitoral e ao ambiente aparentemente pacífico que se vive, uma pergunta salta à vista. Que diferenças existem entre o explosivo ano de 92 e o corrente ano? Luísa Rogério, secretária geral do Sindicato dos Jornalistas Angolano e repórter que fez a cobertura das eleições há dezasseis anos atrás, aponta os seguintes aspectos [5] [pt]:

“não se pode comparar com o ambiente vivido em 1992. A campanha para as eleições de 5 de Setembro já começou e há a impressão que não está a acontecer nada no país, exceptuando uma ou outra bandeira, um ou outro slogan e os espaços que os partidos políticos ocupam na rádio e na televisão.

Em 1992 sentia-se a campanha política não só em Luanda, como no país inteiro. Ficava-se com a impressão que o país vivia em função da campanha e a campanha eleitoral marcava profundamente a vida do cidadão ao contrário do que acontece agora. A actividade dos partidos é quase inexistente, não se vêem grandes manifestações, não se sente o clima de campanha”.

“O Sol sorri para todos” diz a propaganda da UNITA. Foto gentilmente cedida por José Manuel Lima da Silva, usuário Kool2bBop [3] do Flickr

Dada a inexistência de forte actividade política nesta campanha eleitoral que se vive, talvez seja seguro afirmar que Angola não repetirá a violência de 92. No entanto, alguns partidos políticos como a UNITA, vieram a público afirmar que existe falta de dinheiro para suportar as actividades programadas e denunciar acções de intolerância por parte de forças próximas do MPLA – partido político no poder. A Frente de Libertação de Angola (FNLA) acusou os meios de comunicação de parcialidade dizendo que estes privilegiam o MPLA. Feliciano J.R.Cangüe [6] diz que a TV e a Rádio “não prestaram nenhum serviço de qualidade ao povo angolano”:

Todos aqueles que acompanham as notícias de Angola, devem ter ficados horrorizados com festivais de editoriais repugnantes que certos órgãos oficiais vomitaram. Foi uma verdadeira guerra entre Sansão e Golias. A imprensa oficial apontou sua artilharia pesada contra o presidente do maior partido da oposição. Essa gente quer o quê?

Faltando pouco mais de duas semanas para o pleito, a quase novidade do mais marcante momento da democracia passou neste dia quase desapercebido na capital angolana. Mas ainda há a esperança de um bom comparecimento às urnas, e sobretudo de futuro melhor qualquer que seja o resultado, como sonha Carlos Lopes [7]:

No décimo terceiro dia, os eleitores continuam a abraçar os partidos que caminham com a corrente da mudança até ao dia do voto, porque a partir do dia 5 de Setembro, a mudança torna-se uma realidade e o povo Angolano irá renascer com a esperança numa vida melhor e digna.

“Nunca deixes de lutar mesmo quando fores velho e cansado!”. Foto intitulada Liberdade, gentilmente cedida por José Manuel Lima da Silva, usuário Kool2bBop [3] do Flickr