- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Irã: Investigador Judicial Acusa Publicamente Aiatolás de Corrupção

Categorias: Oriente Médio e Norte da África, Irã, Economia e Negócios, Governança, Lei, Política

Abbas PalizdarUm membro da Comissão Iraniana de Inquérito e Revisão Judicial, Abbas Palizdar, criou um escândalo este mês ao acusar vários importantes clérigos e influentes membros da República Islãmica [1] de corrupção em seu discurso na Universidade Booali na cidade de Hamadã [2].

Ele ofereceu detalhes de muitos negócios ilegais e ofensas criminais, e acusou várias das figuras políticas mais importantes do Irã, inclusive alguns Aiatolás [3] muito influentes, como o ex-presidente e chefe da Assembléia dos Peritos [4], Hashemi Rafsanjani [5], o Líder Interino da Prece de Sexta-feira de Teerã, Emami Kashani [6], e o líder da Fundação Templo Imam Reza [7], Aiatolá Vaez Tabbasi [8], de ilegalmente acumularem centenas de milhões de dólares.

Vários blogueiros iranianos publicaram partes do discurso de Palizdar e partilharam suas opiniões sobre este evento excepcional na República Islâmica. Alega-se que depois do controverso discurso, a Sociedade Islâmica de Estudantes da universidade teria sido fechada.

O blogue Mano Shoma relata [9] [Fa] que Abbas Palizdar deu nomes de várias “influentes personalidades corruptas” em Hamadã:

Ayatollah Emami Kashani came and said he wants to register an institution for handicapped people because he has a handicapped child, and he wants his own child be in this institution. Then he came back and said he needs financial support for this institute, and he wants a stone mine in the Fars province. It is the best mine in the world. Then he came and said that mine is not enough, and he took another one in Zanjan. At present he has four different mines supporting his institute for disabled people.

“O Aiatolá Emami Kashani veio a público para afirmar que desejava fundar uma instituição para pessoas deficientes porque ele mesmo tinha uma criança deficiente, e queria que seu próprio filho estivesse nesta instituição. E então ele veio novamente a público para dizer que precisava de apoio financeiro para a instituição, e que queria o controle de uma mina na província de Fars [10]. É a melhor mina do mundo. E então ele veio [a público] novamente para dizer que uma mina não era o bastante, e então ele pegou outra em Zanjan [11]. Atualmente ele tem quatro minas diferentes apoiando sua instituição para deficientes.”

Há muitos outros exemplos. Palizdar descreveu como o Aiatolá Yazdi, o ex-líder do Judiciário, recebeu permissão de comprar a fábrica de Dena Tyre para apoiar sua nova facultade de direito para mulheres em Qom [12]. A fábrica estava avaliada em 600 milhões de dólares, mas ele a adquiriu por apenas 10 milhões de dólares. O clérigo então disse que ele só poderia pagar 20% da quantia em dinheiro, e vendeu a fábrica no mercado de ações iraniano, conseguindo lucros astronômicos.

Azarmehr [13] [En] faz um link para um vídeo de Abbas Palizdar fazendo seu discurso no The Internet Archive [14] e traduz alguns pontos chave para o inglês:

During the question time, Palizdar is asked why he has not talked about the corruption by the Rafsnjani clan, is it because he fears the power of Rafsanjanis? Palizar replies that there is so much abuse of power by Rafsnajanis that he would need an entire meeting dedicated to this subject…

“Durante o tempo para perguntas, Palizdar é questionado sobre o por quê de não ter falado sobre a corrupção por parte do Clã Rafsanjani. Seria porque ele tem medo do poder dos Rafsanjanis? Palizdar respondeu que há tanto abuso de poder por parte dos Rafsanjanis que ele precisaria de um evento inteiro dedicado ao assunto…”

De acordo com Palizdar, Aiatolá Rafsnjani tem grande influência acionária em uma companhia petroleira no Canadá, e também na ilha turística de Kish. Ele também afirmou que existem evidências em vídeo do filho de Rafsanjani, Mehdi, explorando sexualmente suas funcionárias.

O Dilema da República Islâmica

Abdollah Shabazi, um historiador islâmico, diz [15] [Fa] que “os donos da revolução”, de acordo com a definição da liderança da República Islâmica, se vê em um dilema entre…

… the status quo, continuing the present situation and making Iran a second Pakistan, or renewing the Islamic Republic. There is no third option. The choice is either to accept institutionalised corruption, or fight against it to realise the goals of late Ayathollah Khomeini [16], the leader of the Islamic Revolution.

“…o status quo, e a continuidade da presente situação, que transformaria o Irã em um segundo Paquistão, ou a renovação da República Islâmica. Não há uma terceira opção. A escolha é entre aceitar a corrupção institucionalizada, ou lutar contra ela em prol dos ideais do finado Aiatolá Khomeini [17], o líder da Revolução Islâmica [18].”

Por quê agora?

Mahameh Khobim se pergunta [19] [Fa] sobre a escolha do momento para estas surpreendentes revelações. Por quê? E por quê agora? O blogueiro especula que um certo grupo da direita conservadora deve estar “marcado para ser desaparecido”.

Hassan Agha traça paralelos [20] [Fa] entre o que está acontecendo no Irã agora e no fim do regime do Xá Reza Pahlevi [21]: inflação, desemprego e estes tipos de revelações políticas.