Brasil: Índios visíveis, invisíveis e o furo

Os índios brasileiros estiveram no centro das atenções da imprensa internacional essa semana e a blogosfera tem muito o que dizer sobre isso. Houve de fotos de uma tribo isolada da Amazônia, que ‘vazaram’ primeiro em um blogue que agora exige atribuição pelos direitos do furo, ao protesto enfurecido capturado em câmera contra a construção de barragens ao longo do rio Xingu, na bacia amazônica, quando um funcionário da companhia elétrica nacional saiu ferido com golpes de tradicionais bordunas e facões. Blogueiros mostraram pontos de vista diferentes da narrativa dominante dos grandes veículos de comunidação.

A seguir, um vídeo da GLOBO sobre o encontro dos engenheiros com os índios.

Since the gathering in Altamira, the Brazilian media have focused mostly on the issue of violence. GLOBO included a special report in its extremely popular weekend TV magazine FANTASTICO and here's the text (computer) translated into rough English. As you can see, the focus is on the engineer and the Indians associated with the confrontation and there is very little about the many consequences of building the dam. While the Brazilian mainstream media are preoccupied with the “hot” story, various blogs and NGOs have been struggling to deliver the deeper messages. Encontro Xingu ‘08 provides great coverage of the whole event with in-depth analysis by David Cunningham and lots of wonderful photos by Sue Cunningham. The Xingu Encounter was also reported by International Rivers along with English translations of the declarations of the Xingu Peoples. And here's the (computer) translated final statement of the broad coalition of Brazilian grassroots organizations that are opposing building of th,e Belo Monte dam.
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Desde o encontro em Altamira, a imprensa brasileira se concentrou mais na questão da violência. A GLOBO incluiu uma reportagem especial em sua popular revista semanal na TV, o FANTÁSTICO e aqui está o texto. Como pode se ver, o foco está no engenheiro e nos índios associados com o confronto, e tem muito pouco sobre as consequências da construção da barragem. Enquanto a mídia tradicional brasileira está preocupada com a notícia “quente”, vários blogues e ONGs têm lutado para passar a mensagem que realmente importa. O Encontro Xingu ‘08 [en] faz uma excelente cobertura de todo o evento, com análises aprofundadas feitas por David Cunningham e um monte de belas fotos de Sue Cunningham. O Encontro no Xingu também foi noticiado pela International Rivers [en] junto com traduções para o inglês da Declaração do Povo Xingu [en]. E aqui está uma declaração final da grande coalizão de movimentos sociais e organizações não governamentais que se opõem à construção da barragem de Belo Monte.
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É curioso notar que no meio de um debate sobre o foco apropriado diante de imagens fortes de um evento violento, Altino Machado, blogueiro famoso do estado Acre, na região da Amazônia, apresentou ao munto as primeiras imagens do que pode vir a ser a última tribo isolada da floresta amazônica — os tais ‘Índios Invisíveis’.

\'Invisible Indians\' in the Amazon

If you've seen Wade Davis's unforgettable 2004 TED Talk — where he evokes the magic of the world's cultural diversity, and speaks so eloquently about the alarming rate with which cultures and languages are dying — then you might find this photo as heart-stopping as I did. It's so surreal, I thought at first it must be a hoax. But Reuters just picked the story up, and I'm going to assume they did my fact-checking for me. The photo shows members of one of the world’s last uncontacted tribes, who were spotted and photographed from the air in a remote corner of the Amazon rainforest near the Brazil-Peru border. Survival International, an advocacy group for tribal people, released the photos on their website and quotes Jose Carlos dos Reis Meirelles Junior, who works for the Brazilian government’s Indian affairs department: “We did the overflight to show their houses, to show they are there, to show they exist …This is very important because there are some who doubt their existence.” “What is happening in this region is a monumental crime against the natural world, the tribes, the fauna and is further testimony to the complete irrationality with which we, the ‘civilized’ ones, treat the world,” Meirelles said. Apparently, more than 100 uncontacted tribes remain worldwide, with half living in Brazil or Peru. Extraordinary.
Unbelievable photo of one of the world's last uncontacted tribesTedBlog

Se você viu a palestra inesquecível de Wade Davis no TED Talk 2004 — onde ele evoca a magia da diversidade cultural do mundo, e fala de maneira tão eloquente sobre a taxa alarmante com que culturas e linguagens estão morrendo — então você pode achar essa imagem de fazer o coração parar, como eu achei. É tão surreal, primeiro achei que fosse um trote. Mas a Reuters divulgou a notícia, e eu vou então acreditar que eles checaram os fatos para mim. A foto mostra membros de uma das últimas tribos isoladas do mundo, que foi localizada e fotografada do ar em um canto remoto da floresta amazônica, perto da fronteira entre o Brasil e o Peru. Survival International, um grupo que luta pela causa indígena, lançou as fotos em seu site e cita José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, que trabalha para o órgão brasileiro de assuntos indígenas: “Fizemos o sobrevôo para mostrar as casas deles, para mostrar que eles estão lá, que eles existem… É muito importante isso, porque há quem duvide da existência deles.” “O que está acontecendo nessa região é um crime monumental contra o mundo natural, as tribos, a fauna e é mais um testemunho da irracionalidade completa com a qual nós, os ‘civilizados’ tratamos o mundo,” disse José Carlos Meirelles. Ao que parece, mais de 100 tribos não contabilizadas ainda existem no mundo inteiro, sendo que a metade habita o Brasil ou o Peru. Extraordinário.
Inacreditável foto de uma das últimas tribos isoladas do mundoTedBlog

Extraórdinário de fato. O assunto foi divulgado como última notícia no GVO em 23 de maio, traduzido para o Português e Chinês, e caiu no conhecimento mundial através da blogosfera. Demorou uma semana para que a imprensa tradicional acordasse para a “notícia velha” mas as imagens ainda eram impressionantes e os blogues não demoraram em lembrar que a mídia corria atrás da notícia sem respeitar as regras elementares de dar crédito.

Êta racinha miserável. Espera passar um tempo (cinco dias) e depois publica como se fosse furo deles. Seguem tratando a Amazônia como uma terra exótica, pois não aprofundam na questão que mais preocupa ao sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, que é “O começo do fim da Amazônia peruana“. Leiam a mensagem que recebi hoje do jornalista Tom Phillips, correspondente no Brasil do diário inglês The Guardian: – Caro Altino, tudo bem com você? Você tem o contato do José Carlos dos Reis Meirelles Júnior por acaso? Um grande abraco. E assim foram dezenas de outros pedidos de contato com o sertanista que atendi por causa da reportagem sobre os índios isolados. Os russos são honestos. Confira aqui. Ou o brasileiro José Murilo Júnior, do Global Voices.
Racinha MiserávelAltino Machado

Altino, até os acreanos! Essa Renata Brasileiro, do Página 20 [leia aqui], é uma voadora. Ela escreveu: “A notícia veio à tona por meio da agência BBC e foi veiculada com destaque em quase todos os jornais on line no início da tarde de ontem. De acordo com a agência, as fotografias foram feitas durante uma missão da Funai, que incluiu um sobrevôo à região isolada”. Estou revoltado com a omissão da fonte correta pela mídia nacional e internacional, mas não poderia supor que seus vizinhos agissem dessa forma.
Tô com Altino e não abro!Site Chico Bruno

Quem ganhou ou vai ganhar dólares com a divulgação das fotos dos “índios invisíveis” do Acre? Altino Machado, não se iluda. Entendo a sua frustação de jornalista que não foi devidamente citado nas matérias que hoje correm o mundo. Da mesma forma, vejo que o sertanista José Carlos dos Reis Meireles está satisfeito porque o trabalho dele está sendo reconhecido, deu entrevistas para dezenas de jornais e revistas do mundo etc. Mas o que a Survival International (SI) tem a ver com as fotos e o trabalho da Funai? Nada. Mesmo assim a ONG tirou a sorte grande e obteve, com as suas técnicas de marketing, colar o nome da entidade em quase todas as matérias relevantes de jornais e revistas mundiais que publicaram matérias sobre as fotos dos índios isolados, sem ter dado um centavo para tornar realidade o que vimos em primeira mão neste blog e na Terra Magazine.
Devolva os dólares, Survival!Ambiente Acreano

O blogue de Altino é certamente uma fonte especial de informações sobre a Amazônia, e não é por acaso que seu artigo apareceu no Terra Magazine, um projeto editorial online inovador que também reivindica o furo pelas imagens dos ‘Índios Invisíveis’. Mas enquanto o ambiente da imprensa online ainda luta para chegar a um modelo de negócios equilibrado, tendo que lidar com tantas novas varíaveis netlescas, podemos estar testemunhando o surgimento de novos tempos, onde ‘furos’ como conhecemos no formato antigo não são o que importa de fato. Um papo discursivo e pleno entre muitas vozes em um debate aberto com as fontes da autoritária imprensa convencional podem vir a ser o tipo de “furo” colaborativo que temos aqui procurado.

O primeiro passo para se chegar a esse novo ambiente de imprensa aberta talvez seja o reconhecimento do valor de todas essas vozes, o que pode começar com o simples e fácil respeito à netqueta de atribuição por parte da imprensa convencional… e blogueiros.

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