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Petróleo Encontrado no Brasil Faz Jorrar Controvérsias na Mídia

Categorias: América Latina, Brasil, Economia e Negócios, Governança, Meio Ambiente, Mídia Cidadã, Mídia e Jornalismo, Política

Informações distorcidas sobre a descoberta daquele que pode ser o terceiro maior poço de petróleo do mundo tornaram-se o assunto do momento na blogosfera brasileira esta semana. O estopim foi um comentário do diretor da Agência Nacional de petróleo do Brasil (ANP), Haroldo Lima, mencionando que o poço de petróleo Carioca (ou Pão de Açúcar), recentemente descoberto na Bacia de Santos, poderia conter reservas de mais de 33 bilhões de barris de petróleo e gás. O comentário ganhou maiores proporções quando veiculado pela imprensa como um anúncio oficial, o que causou uma onda de excitação entre os investidores, do Brasil a Nova York, em relação à Petrobrás e seus parceiros Repsol-YPF e o Grupo BG.

A Petrobrás reagiu rapidamente, dizendo que seriam necessários mais 3 meses de perfuração antes que qualquer estimativa séria de volume pudesse ser feita. Ainda assim, no dia seguinte, notava-se pelas manchetes, que a mídia local tomou o anúncio como um ato intencional para impulsionar o mercado Brasileiro e elevar o preço das ações da Petrobrás, e que especulou sobre as conseqüências legais que a companhia poderia enfrentar por fazer um comentário tão infundado. Enquanto isso, os blogueiros encontraram no tema, uma nova fonte de opiniões.

Haroldo Lima, diretor da Agência Nacional do Petróleo, negou peremptoriamente que fez qualquer anúncio público com relação ao achado da Bacia de Santos. Ele teria feito uma cogitação embasada por artigos que foram publicados por uma revista americana especializada. Acontece que diretor de um órgão regulador tem palavra de peso não somente no segmento em que atua, mas também no mercado financeiro. Logo, não lhe cabe fazer ilação alguma. O peso da palavra de um gestor na área petrolífera é muito maior que a opinião ou matéria de um jornalista.
O peso da palavra e da responsabilidade [1]Leandro Vieira [2]

A imprensa, que na sua esmagadora maioria é opositora ao Presidente Luís Inácio Da Silva, o “Lula”, tentou caracterizar como irresponsável Haroldo Lima, e a oposicionista CVM (Comissão De Valores Mobiliários) diz que vai “investigar” Haroldo Lima por ter dado as informações ao público antes da divulgação pela Petrobrás. Foi uma demonstração evidente do despeito, inveja e rancor da direita brasileira com o Presidente Lula. Despeito por tentar desqualificar as afirmações de Haroldo Lima, respeitável homem público brasileiro. A imprensa é tão sórdida que tentou espetacularizar a divulgação do fato, feita esta divulgação em evento fechado, como se Lima tivesse anunciado no coreto da praça com megafone, para todo o população. Na verdade, o fato já era de conhecimento de especialistas em petróleo, e já tinha sido divulgado nos EUA pela revista “World Oil Magazine” [3].
Imprensa vocifera contra [4]Tribuna Petista [5]

O ódio da imprensa, que está contaminando até membros do governo, deriva do fato de que Lima revelou uma grande barriga da mídia tapuia. Uma informação estratégica sobre nossas reservas energéticas, importantíssima, circulava desde fevereiro na imprensa especializada, e a nossa imprensa não sabia de nada. Não noticiava nada. Um erro colossal… O caso dos mega-campos é emblemático. A direita ficou triste! Ficou triste com o fato do Brasil ter encontrado petróleo! Agora, ficou triste e revoltada com o fato do diretor da ANP ter contado o que a imprensa especializada já sabia, que há possibilidade muito concreta do campo Pão de Açúcar ter mais de 30 bilhões de barris e ser a terceira maior reserva do planeta.
Em defesa de Haroldo Lima: a barriga foi da mídia [6]Óleo do Diabo [7]

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Parece que a disputa entre esquerda e direita, mais uma vez, desviou a mídia do relato preciso de assuntos importantes, e são os blogs que estão especulando quanto às pautas escondidas neste caso. Como sempre, é possível encontrar interpretações diferentes para o mesmo fato dependendo do blog que se lê, mas é bom mencionar que o homem em questão, o diretor da ANP, Haroldo Lima, é um líder histórico da esquerda, particularmente conhecido por seu ativismo (ele foi preso e torturado pela polícia política da ditadura entre 1976 e 1979) durante o período traumático de resistência armada e ditadura militar no Brasil.

Em abril de 2006, o governo torrou 40 milhões de reais para anunciar que o Brasil tinha passado a produzir mais petróleo do que consome. Mas a auto-suficiência não ocorreu até agora. A produção da Petrobras emperrou, o consumo aumentou e o déficit na balança comercial de óleos e derivados voltou a crescer. O rombo em 2008 deve atingir 8 bilhões de dólares. Sobrou pirotecnia também no ano passado, com a descoberta do megacampo de Tupi. À época o governo afirmou que as reservas brasileiras, hoje em 14 bilhões de barris, poderiam subir para 22 bilhões de barris. Mas é extremamente cedo para dizer se ou quando essas reservas poderão ser exploradas. Na semana passada, dados referentes à Petrobras foram novamente usados para alimentar pirotecnias políticas. Haroldo Lima, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), declarou que a Petrobras havia descoberto uma megajazida petrolífera na Bacia de Santos.
Governo mente sobre a Petrobrás [9]Blog do Briguilino [10]

É possível que alguns especuladores tenham ganho dinheiro com a informação que ele fez PÚBLICA e ABERTAMENTE. Mas esses especuladores ganham de qualquer maneira. Se o fato não se confirmar, vendem e ganham novamente. Haroldo Lima não tem dinheiro ou ligação para jogar na Bovespa, comprar ou vender ações da Petrobras. Se tivesse recursos, compraria cada vez mais Petrobras, acredita mil por cento na empresa. Provavelmente, quase certo, o objetivo de Haroldo Lima foi denunciar acordos da Petrobras com empresas estrangeiras. Esse megacampo que ele chamou de “Pão de Açúcar”, já não é “tão nosso”como deveria ser. A Petrobras só tem 45% de um grupo que explora o petróleo desse megacampo. A inglesa BG, tem 30%, a argentina-espanhola, Repsol, os outros 25%. Por que e para quê a Petrobras precisa de recursos para exploração e prospecção?
Helio Fernandes: Haroldo Lima, insuspeito e intocável [11]à ilharga de uma geógrafa (blog incidental) [12]

Um novo elemento foi introduzido na arena política do Brasil pelos sonhos de riqueza petrolífera: a decisão do governo de mudar as regras para exploração e produção do petróleo. Apesar de assegurar aos parceiros internacionais que não haverá mudanças nas regras do jogo, Edison Lobão, Ministro das Minas e Energia, disse na terça-feira que “O governo precisa ser melhor contemplado na partilha desses recursos naturais que pertencem ao povo brasileiro”. De fato, a exclusão da camada pré-sal do leilão anual de concessões de petróleo ocorrido no ano passado foi visto como uma manobra para manter a maior parte das áreas com potencial produtivo longe de mãos estrangeiras. É também um sinal local do, assim chamado, nacionalismo de recursos – uma tendência global crescente, estimulada pela alta dos preços do petróleo.

Com a descoberta dessa camada pré-sal, chamada de Carioca ou Pão de Açúcar, e das extraordinárias reservas já identificadas, o risco exploratório praticamente deixou de existir e, como destaca o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, passou a ser um bilhete premiado. Foi por isso que o Governo e a empresa decidiram, em boa hora, retirar da 9ª rodada de licitação os poços da camada pré-sal e estudam mudar o marco regulatório.Como era previsível, a iniciativa privada e a mídia já se articularam contra, mas a realidade do preço internacional do petróleo, da crise energética na América do Sul e em todo o mundo e, principalmente, da descoberta de gigantescos poços sem risco e com alta rentabilidade, exigem mesmo uma revisão desse marco regulatório de 1997.

Artigo do José Dirceu [13]Blog de um sem-mídia [14]

No artigo original [15](que gerou o estardalhaço), o autor demonstrou especial interesse em descobrir o motivo da mudança de atitude dos gestores do petróleo brasileiro a respeito das concessões de petróleo e parcerias com empresas estrangeiras na exploração das reservas naturais.

O artigo detalha as prospecções feitas na Bacia de Santos, sua localização e profundidade, a possível extensão do campo, quais os blocos de exploração que compreende, assim como as características do petróleo já descoberto… O último parágrafo manifesta a opinião do autor, inquieto com a possível retirada de blocos-chave da nona rodada de leilões da ANP, que ele julga, “talvez”, o tipo de “nacionalismo que alguns previram devido ao declínio das reservas mundiais de petróleo”. Mas ele conclui com o que considera a “real mensagem dessas descobertas”: “que não devemos perder de vista as bacias potenciais ainda desconhecidas, mas possivelmente grandes, que com freqüência são de exclusivo domínio de empresas petrolíferas nacionais”.

Petróleo de Carioca: o que dizem Haroldo Lima e a World Oil [16]Vermelho [17]

Deus é brasileiro [18], disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Novembro, respondendo ao anúncio do seu governo de que haviam sido descobertas grandes reservas de petróleo em alto mar. Agora, como era de se esperar, interesses variados estão se alinhando para concorrer à posse e aos benefícios deste presente de Deus.