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Diários da Vizinhança: Crescendo com o jornalismo cidadão

Categorias: Sul da Ásia, Índia, Juventude

 

Publicado originalmente no Rising Voices.

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Kalam [1] é um projeto que há 3 anos vem transformando jovens de comunidades marginalizadas de Kolkata em escritores e pensadores críticos, além de instigar suas consciências culturais. Trata-se de um movimento para que jovens reivindiquem seus direitos em relação a suas próprias vidas escrevendo suas próprias estórias, a história de suas comunidades e do mundo da forma como eles o vêem. O manifesto enfatiza [2]:

“We must talk about ourselves in our own words, on our own terms. Poems and stories of our lives will now be written, and we will write them ourselves. And we will share our poems and stories with everyone.”

“Precisamos falar de nós mesmos, usando nossas próprias palavras, nossos próprios termos. Poemas e estórias de nossas vidas agora serão escritos, e nós mesmos os escreveremos. E compartilharemos nossos poemas e estórias como todo mundo.”

A palavra Kalam existe em seis idiomas [hindu, urdu, Bengalês, nepalês, persa, árabe] e significa um lápis ou uma caneta, ou um instrumento para escrever. É o título perfeito para uma das mais louváveis iniciativas da comunidade multilingue de Kolkata. Eles já fizeram trabalhos notáveis [3] e produziram conteúdo impresso [4] para encorajar a criatividade e auto-expressão através da produção de poesia e escritos.

Mas agora, a tecnologia online a custo acessível pode ajudar Kalam a alcançar seus objetivos de forma melhor.

Um micro-financiamento do Rising Voices [5] ajudou a estabelecer o “Neighborhood Diaries [6]” [Diários da Vizinhança], que treina jovens marginalizados
moradores das favelas de Kolkata a se transformarem em jornalistas cidadãos. Serão conduzidas oficinas sobre pensamento crítico, redação jornalística, mídia áudio-visual e novas tecnologias, como blogues, podcasts, etc. De acordo com a proposta do projeto [7]:

“ND will benefit the target community — youth slum dwellers (child laborers, children of sex workers, and low-income school-going youth) — by mobilizing them to think and write about their personal and community stories, issues, and histories, as an integral and vibrant part of the socio-cultural fabric of urban India and publish them on blogs accessible to the globe. This program and practice will foster dignity within communities often viewed as powerless, illiterate, and culturally impoverished.”

“ND beneficiará a comunidade alvo — juventude moradora das favelas (crianças trabalhadoras, filhos de prostitutas e estudantes de classe baixa) — ao mobilizá-la a pensar e a escrever sobre suas estórias pessoais e da comunidade, assuntos, temas como uma parte vibrante e integral de uma colcha de retalhos sócio-cultural da Índia urbana, e publicá-las em blogues acessíveis ao mundo. Esse programa e prática estimulará a dignidade em comunidades normalmente vistas como impotentes, analfabetas e empobrecidas culturalmente.”

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Conheça as pessoas [8] por trás dos Neighborhood Diaries (e Kalam): Bishan Sammadar [9], Harleen, Sahar Romani [10], Rohini e Maitrayee (na foto acima da esquerda para a direita).

A equipe de educadores inclui Urbi Bhadhuri e Bina Dalui, que foram escolhidos num processo de seleção demorado [11].

Estamos felizes em anunciar que o longo processo [11] de organização da infra-estrutura, de funcionários, parceiros e vizinhança, finalmente o Neighbourhood Diairies começou sua série de oficinas de 15-semanas [12]. As oficinas tiveram início em 26 de novembro de 2007, em parceria com a ONG Sanlaap [13], e acontecem na Escola Secundária de Bow Bazaar [14] em Kolkata. Participam 15 jovens residentes na área e recrutados por Sanlaap, uma organização sem fins lucrativos que ajuda meninas que sofreram abusos sexuais na área de Kolkata, 24 Paraganas Sul e Norte com alojamento para jovens e treinamento vocacional. Ela tem um programa integrado de desenvolvimento infantil nas áreas vermelhas de Kolkata, assim como grupo de apoio para mulheres na prostituição.

Leia sobre os participantes, os Jornalistas da Vizinhança de Bow Bazaar, um grupo vívido de adolescentes com grande espíritos e muito entusiasmo aqui [15].

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A primeira sessão colocou [16] uma séries de perguntas aos participantes:

“Just like we’ve realized the false/fragmented/skewed stories around different neighborhoods, how do you think other people think or imagine your personal neighborhood? What are the stereotypes surrounding your neighborhood?”

“Do you think it is important to tell the stories of this neighborhood as an insider and resident?”

“Assim como acabamos de perceber estórias falsas/fragmentadas/distorcidas de vizinhanças diferentes, o que você acha que as outras pessoas pensam ou imaginam sobre a sua vizinhança? Quais são os estereótipos que cercam a sua vizinhança?”

“Você acha que é importante contar as estórias de sua vizinhança como um residente e alguém de dentro?”

Os participantes responderam [17]:

The group was amused at how “problems” were the first thing they are asked about Bow Bazaar from outsiders since they live in a red light area. The concluding activity of this introductory session involved the participants to remember the forgotten or ignored stories of their neighborhood and write a brief story/vignette. The stories ranged from incidents of evictions of old neighbors, adolescent love in the back drop of a chai (tea) stall, a girl in the neighborhood being forced into sex work, a heroic brother who pays for his sister’s education and sends her back to school, and a football tournament lost due to a leg injury.

O grupo ficou intrigado como “problemas” são as primeiras coisas que se perguntam sobre Bow Bazaar por parte de pessoas de fora, já que eles moram em uma área da luz vermelha. A atividade que concluiu essa sessão de introdução contou com os participantes relembrando estórias da vizinhança em que vivem que tinham sido ignoradas ou esquecidas, e escrevendo um pequeno conto ou vinheta. As estórias passaram por incidentes de despejo de antigos moradores, amor adolescente atrás de uma cortina em uma barraca de chá, uma garota sendo forçada a trabalhos sexuais e um irmão herói que paga pela educação de sua irmã e a despacha para a escola, e um torneio de futebol perdido por causa de uma perna machucada.

O segundo dia em Bow Bazaar [18] envolveu o preenchimento dos perfis dos participantes, criação de mapas pessoais e de Bow Bazaar.

No terceiro dia, os procedimentos [19] incluíram observações e invocação de percepções sensoriais (som, cheiro, luz, toque) de Bow Bazaar entre os participantes. Eles também tiveram que escolher um cartão postal da localidade e descrever qual a importância dele para eles.

No final dos três dias de sessão, os participantes estavam capacitados para criar vinhetas para cartões postais como essa:

Bow Bazaar Means…

The sound of conversations from the road leading home,

The smell of alcohol,

Bow Bazaar means the sight of fallen, drunk man on the stairs.

Bow Bazaar means feeling coolness on the rooftop of my home.

Bow Bazaar Significa …

O som das conversas duas ruas que levam para casa,

O cheiro de álcool,

Bow Bazaar significa a visão de bêbados caídos na escada.

Bow Bazaar significa sentir frio no terraço de minha casa.

Por Pooja Dolui, 13 anos

Fique de olho no Diaries Blog [20] (ou assine o feed) para saber as últimas notícias desse projeto exclusivo.

[en – todos os links]

(Texto original de Rezwan [21])

 

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online [22]. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português [23], com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista [24]. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui [23]. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui [25].