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Lusofera: És hetero?

Categorias: Europa Ocidental, Portugal, Ativismo Digital, Direitos LGBT

No começo dessa semana, Global Voices publicou um artigo sobre uma campanha publicitária da Guatemala [1] que gerou revolta na blogosfera local. Mais ou menos na mesma época, alguns blogueiros em Portugal estavam celebrando uma vitória: o dia em que uma cervejaria desistiu e mudou sua campanha por causa de um protesto na blogosfera.

Por duas semanas, a campanha da Tagus saiu perguntando a seus clientes: “Tu és hetero?”. A idéia era promover a comunidade online da cervejaria, “o primeiro espaço dedicado à causa heterossexual em Portugal”. O debate saiu dos anúncios nas estações de metrô e chegou à blogosfera, e de lá virou queixa no ICAP (Instituto Civil da Autodisciplina da Publicidade). A campanha acabou com uma mudança de planos e edição da mensagem original.

 

(Os dois posters originais: Tu és hetero? Regista-te em http://www.orgulhohetero.com)

Joao Pedro [2] celebra o fim da campanha inicial – considerada ilógica por ele:

Mas aqui fica a noticia que me deixou bem alegre na quarta feira: A Tagus acabou por mudar o conceito de comunicação ‘Tu és hetero’ depois da revolta gerada nos blogues. O caso deu entrada no Instituto Civil da Autodisciplina da Publicidade e a empresa detentora da marca alterou a mensagem. ‘A verdade é que és livre de escolher’, pode ler-se, agora, no site da campanha, http://www.orgulhohetero.com.

Zeh [3] explica um sentimento em relação ao anúncio compartilhado por muitos outros:

… não pude deixar de me sentir (mais) desiludido com o nosso país. Como se já não bastassem as mentalidades tacanhas que por aí abundam, ainda vem uma cervejola fazer uma publicidade que apela, de forma dissimulada, ao desenvolvimento de uma cultura homofóbica, parodizando o “orgulho gay” (criado com vista à luta pela igualdade social), pelo “orgulho hetero”, para vender bejecas?

O blogue Panteras Rosa, que começou todo o protesto com essas paródias [4] da propaganda da cerveja, também comemora o resultado e pede que suas motivações para o protesto [5] sejam entendidas:

A campanha da Tagus aborda, precisamente, uma orientação sexual como motivo de orgulho. A nossa contra-campanha limita-se a lembrar o que é o orgulho hetero no seu extremo: violência e discriminação contra as sexualidades que fogem a essa norma moral. (…) Porque não é a orientação sexual que é motivo de orgulho. Motivo de orgulho é o facto de lutarmos pelo direito a vivermos com a que temos numa sociedade que nos nega esse mesmo direito a sermo-nos como somos, independentemente da nossa orientação sexual. É esse o nosso orgulho. É isso o Orgulho Gay, Lésbico, Bi e Trans.

 

(Panteras Rosa [6] tira o sarro e pergunta: És homofoba? Sim! )

Entretanto, Pedro Mafra [7] está entre aqueles que não entendem o porquê da confusão:

A comunidade gay reclama sobre publicidade descriminadora e opressora…. Aonde??? Hello!!!!!!! Aonde é que os heteros fazem Hetero Parades?? Que eu saiba existe o gay pride, as gay parades, o roteiro internacional gay com restaurantes e pensões exclusivamente para gays, etc etc, e acham que a maioria dos heteros se queixam de serem oprimidos….

Mais ou menos no mesmo tom, Francisco José Viegas [8] acredita que a campanha poderia ter sido melhor, mas que as reações são injustificáveis:

Poderia, até, ser boa. Mas a reacção indignada, acusando-a de homofóbica, é mais ridícula do que a campanha propriamente dita e configura uma patrulha sobre toda e qualquer linguagem, engrossando a classe dos coitadinhos

Jiggy Black [9] espera que a campanha tenha mudado apenas por falta de popularidade, e não devido a algum tipo de pressão:

Parto do princípio que esta alteração da camanha pressupõe um “mea culpa” pelo insucesso do conceito de comunicação. Se assim for, tudo bem. Se só reformularam a campanha por terem à perna associações contra a discriminação homossexual e mesmo da ICAP, fazendo-lhes a vontade, isso já é grave.

Renas e Veados vê o lado positivo de tudo isso e ganha mais de 50 comentários nessa postagem [10]:

O “hetero” só passa a fazer sentido a partir do momento em que o “gay” começa a fazer-se notar. Nesse sentido este “Orgulho Hetero” é até um sinal positivo, mostra que há uma brecha na hegemonia. Não ofereçamos à Tagus numa bandeja de prata o papel de “vítima da heterofobia”, please. Há coisas tão mais importantes com que nos ocuparmos. Façamos o humor e não a guerra. É uma campanha para heteros, não é? Pois que sejam os heteros a preocupar-se com ela… e a aguentarem goela abaixo o inenarrável sabor de uma Tagus.

(A peça final: “A verdade é que tu és livre de escolher. És livre de sair e divertires-te com quem tu quiseres. És livre de te assumir como és. A verdade é que és livre de dizer o que pensas e de te manifestares a favor ou contra esta campanha. A verdade é que és livre de ser feliz.”).

 

(texto original de Paula Góes [11])

 

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online [12]. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português [13], com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista [14]. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui [13]. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui [15].