Kuduro: O ritmo sensual angolano com uma mensagem

Há controvérsias quanto a origem da palavra Kuduro, que pode ter vindo da língua kimbundu, nativa do nordeste da Angola, significando “localização”, ou do “cu duro” em português, mas não há dúvidas de que a dança é sensual. Enquanto se assiste aos dançarinos desse estilo musical angolano rebolando ao ritmo poderoso do batuque do Kuduro, pode-se ver que a versão em português faz sentido. Nascido nos subúrbios de Malange nos anos 90, o Kuduro recentemente se tornou o ritmo preferido por DJs europeus. O blogue ‘Raízes e Antenas‘ traz uma perspectiva histórica do ritmo.

A paz em Angola – depois de décadas de guerra (primeiro a guerra contra as tropas portuguesas, depois uma guerra fratricida igualmente sangrenta) – proporcionou o desenvolvimento de variadíssimas e riquíssimas formas musicais e a sua divulgação interna e externa. Não que muita música não se fizesse e gravasse antes – vejam-se as gravações contidas na caixa «Angola», já referida há alguns meses neste blog, ou na recente compilação «Os Reis do Semba», todas feitas durante os anos finais de dominação portuguesa – ou as inúmeras gravações de artistas de kizomba editadas ainda durante a guerra civil. Mas, nos últimos anos, outros géneros foram nascendo e crescendo com uma força imparável: a versão muito própria e angolana do hip-hop e também o kuduro e a tarrachinha.
Tarrachinha – A Música Mais Sexy do Mundo (e Outras Músicas de Angola)Raízes e Antenas

Documentário: MÃE JU
“No Dancing da ‘Mãe Ju’ começa-se a dançar às 14h
e só se pára quando nasce o dia”
Documentário Mãe-JuCaboindex

De acordo com algumas fontes referenciais, o estilo de dança do Kuduro foi inspirado por um personagem improvável: o ator de cinema belga Jean-Claude Van Damme. No vídeo abaixo, Tony Amado explica como ele se inspirou no jeito engraçado de Van Damme dançar, em seus filmes, e como a primeira canção e passos do Kuduro rapidamente surgiram enquanto ele e seus amigos faziam piada do jeito de dançar do homem branco.

Kuduro foi recentemente mostrado em um programa de TV brasileiro, a ‘Central da Periferia’, onde a repórter Regina Casé sai em busca de movimentos culturais marginais na periferia de grandes cidades ao redor do mundo. A diretora Monica Almeida blogou sobre o que ela viu em Sambizanga, um bairro pobre de Luanda e também casa de ‘Os Lambas’, o mais famoso grupo de Kuduro.

O Kuduro é facilmente comparável ao nosso Funk Carioca. As músicas são produzidas em estúdios caseiros, precários, na periferia de Luanda. Exatamente como acontece, por exemplo, na Cidade de Deus. Basta um quarto (mesmo que mínimo) e um computador. A divulgação é feita de maneira simples e eficaz: entrega-se o CD para um candongueiro – motorista de van – e ele bota pra tocar! Se a música é boa, ela vira um hit, sem precisar de rádio ou de gravadora. Assim foi com os Lambas, o grupo de kuduro mais estourado em Angola nesse momento.
Só SucessoCentral da Periferia

A analogia com o Funk Carioca também traz a idéia de um movimento cultural que é visto como marginal pela corrente predominante. Um dos líderes originais de ‘Os Lambas’ foi acusado de assassinato e morto pela polícia, e o vídeo clip acima mostra que o relacionamento com ‘a lei’ é, em sua melhor forma, controverso. Mas um artigo recentemente publicado em um jornal local relacionando o movimento Kuduro às gangues e à violência gerou mais de 70 comentários, a maioria deles rejeitando a conexão com a marginalidade como algo relevante.

Quando de forma irritante os kuduristas iniciaram a dar o show, eu detestava-os, mas o meu kota dizia-me: sinto que esta pode ser uma contestação a realidade que vivemos. e, bem ou mal, começa a sair do controlo daqueles que gostam de ouvir o que lhes agrada/culto de personalidade e o escape as frustrações saem dia a dia nas músicas porque as “gravadoras” já não estão sob o controlo dos “chefes” que só deixam desabrochar aqueles que adoram as suas personalidades. Sou contra o modo de vida, sou contra algumas letras, mas não vou ao extremo. muitas querem condenar o kuduro, mas dançam o rap com os disparates mais claros e chocantes que contêm as suas letras; por outro lado, o semba não é apropriado para contestações ou frustações, nem kilapanga, nem sungura; o rap que se faz em angola é na sua maioria amordaçado…o escape é o kuduro e como é espontaneo terá maior sucesso porque o ghetto se revê nela; querem ver a juventude dançar nos ghettos? mete kuduro!!!!
Comentário de Prenda, em A Relação Entre as Gangs e o KuduroAngonotícias

É só entrar num candongueiro par ouvir estas músicas destes malandros q usam o kuduro para se vingarem e fomentar a deliquencia. a policia deveria retirar em circulação e difusão destas musicas q normalmente são os Kandongueiros que promovem. o KuDURo já se tornou musica popular quando bem executada e cantada como o miudo Dog Murras e esses outros cantantes deste estilo deveriam passar mensagens positivas e educativas.
Comentário de Aurora KonaKente, em A Relação Entre as Gangs e o KuduroAngonotícias

O Estilo de uma musica é o reflexo do estado de uma sociedade não podemos condenar. Nos EUA os hip hop denuncia o racismo e a intolerancia e ninguem condena. Nos os Angolanos, devemos valorizar todos os gestos que a sociedade produz.
Comentário de Marta (Luanda), em A Relação Entre as Gangs e o KuduroAngonotícias

Este ritmo é típico de Angola. Em Luanda arrisquei uns passinhos, mas não estão neste video. É como diz o cantor: que africano que não dança? que angolano que não dança? e eu complemento: e que descendente de África não dança?
KuduroIeda de Oliveira

 

(texto original de Jose Murilo Junior)

 

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português, com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui.

 

59 comentários

  • patulcio (andelsom)

    ku duro pra mi e o estilo de musica mais ouvido em angola eu como amante adoro varios idolos como bruno m, lambas, os defaya,vagabanda entre outros

  • jose etica euclides

    oi td bm eu sou de cabinda, para informacoes gosto muit do programa sempre a subir e do kota se bem.
    E gostaria de mandar abracos para os meus amigs, helder branco,guelao,wilson dario,dj carlos,o tony , dj malila, e so e nao esqueser da staff galileu.
    sempre sempre a subir.
    kota se bem continua sempre a dar sucesso.

  • Sou natural de Benguela,e vivo em Portugal já a alguns anos.Porque sou músico,tento sempre,dentro do possível,estar informado da cultura musical do País onde nasci.Gostei muito do que li aqui.Fala-se a sério,explicam-se verdades…perfeito!
    Sobre o “KUDURO”;comecei a conhecer melhor este ritmo através dos BURAKA SYSTEM,que residem mesmo perto de mim-na Buraca/Amadora.Acho que tudo nasceu em Angola,porém a confusão implantada por vários DJ’s nas suas mixagens(atenção que não tenho nada contra nenhum DJ)tornou o ritmo genuinamente africano em sons de fusão jazzísticos do continente americano e até europeu.Creio que as editoras discograficas têm muita culpa no assunto pela sua constante obecessão comercial.
    É a minha opinião.
    Já agora,quando puderem visitem também o meu site-http://www.paulogamamusica.blogspot.com-participem.
    Tudo a correr bem.
    PAULO GAMA

  • Rayza

    e uma dança muito legal mas muitas pessoas deviam saber o significado dessa palavra muitas pessoas  deveriam nesse entra nesse site.

  • Deborah Aj

    eu vou fazer uma apresentacao na escola municipal
    em sauvador no bairro da paz
    com essa musica eu e minha colegas eu adoro esa musica huhu nanan amao pra cima cintura souta da meia vouta danca kudurooioioioioioio

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