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Marrocos: Histórias de mulheres ao redor do globo

Categorias: Oriente Médio e Norte da África, Arábia Saudita, Iraque, Israel, Marrocos, Direitos Humanos, Religião, Blogueiros

A blogosfera marroquina está eletrizada esta semana por causa dos posts superficiais que falam sobre mulheres muçulmanas, com temas que vão desde programas profissionalizantes para mulheres no Marrocos até o mau-tratamento de ginecologistas no Iraque. Começaremos com um post do The View from Fez [1], que revela uma iniciativa visando melhorar o padrão de vida de mulheres, no blog que tem o mesmo nome da cidade:

The first project is a training and qualification centre for women and will provide them with training in income-generating professions such as cooking, hairdressing, IT, embroidery and weaving. The budget for this project is estimated at USD 361,000.
The project, to be built on an area of 950 square meters, will also provide orientation and awareness raising, with an ultimate goal of eradicating poverty and exclusion of rural populations.

O primeiro projeto é um centro de treinamento e qualificação para as mulheres e fornecerá treinamentos para a formação de profissionais, tais como culinária, cabeleireiro, tecnologias da informação, ornamentos e tecelagem. O orçamento para esse projeto está estimado em US$ 361.000. O projeto, a ser construído em uma área de 950 m2, fornecerá também orientação e conscientização, com o objetivo maior de erradicar a pobreza e a exclusão da população rural.

fez women

Transferindo-se do norte para a França, Laila Lalami [2] fala sobre a matéria de Joan Scott, The Politics of the Veil (A Política do Véu), citando seu próprio artigo em The Nation [3]:

In her keenly observed book The Politics of the Veil, historian Joan Wallach Scott examines the particular French obsession with the foulard, which culminated in March 2004 with the adoption of a law that made it illegal for students to display any “conspicuous signs” of religious affiliation. The law further specified that the Muslim headscarf, the Jewish skullcap and large crosses were not to be worn but that “medallions, small crosses, stars of David, hands of Fatima, and small Korans” were permitted. Despite the multireligious contortions, it was very clear, of course, that the law was primarily aimed at Muslim schoolgirls.

Em seu intensamente observado livro The Politics of the Veil, a historiadora Joan Wallach Scott examina a obsessão francesa com o véu, que culminou em março de 2004 na adoção de uma lei instituindo a ilegalidade para qualquer estudante que exibisse qualquer sinal estravagante de afiliação religiosa. A lei especifica mais adiante que o véu muçulmano, o solidéu judeu e grandes cruzes não poderiam ser usados, mas que “medalhões, cruzes pequenas, estrelas de Davi, mãos de Fátima e pequenos alcorões” estavam permitidos. Apesar das deformações multi-religiosas, estava muito claro, evidentemente, que a lei estava dirigida em primeiro lugar às estudantes muçulmanas.

Em seguida, Myrtus compartilha um link [4] sobre a primeira motorista de ônibus de Israel. Margot the Marrakesh Mystic [5] comenta:

We've had women police [in Marrakesh] for three or four years now, but they are not allowed to carry guns (unlike the men) and they are not allowed to work overnight.
It seems I heard last year about the first woman taxi driver in Marrakesh. I haven't seen her, and she probably isn't allowed to work after a certain time at night, either.

Nos tivemos mulheres policiais [em Marrakech] por três ou quatro anos, mas elas não podiam portar armas (diferentemente dos homens) e elas não podem trabalhar durante a noite. Parece que ouvi falar no ano passado sobre uma mulher motorista de táxi em Marrakech. Eu não a vi, e ela provavelmente também não pode trabalhar depois de uma certa hora da noite.

Myrtus também comenta sobre um artigo a respeito do mal tratamento dos ginecologistas masculinos do Iraque:

I'm having difficulty wrapping my mind around this … I mean, the thinking behind what's going on here. On the one hand, gynecologists are being threatened and murdered in Iraq for supposedly violating the sanctity of Muslim women; and on the other hand, they are being murdered for not circumcizing girls. Somehow, to the militants, preventive medicine and health care are violations of Muslim females, but cutting off part of their genitalia is not. How does that work exactly unless it's about really hating women?

Estou tendo dificuldade em compreender essa situação…quero dizer, o tipo de pensamento que está por trás do que acontece aqui. Por um lado, ginecologistas estão sendo ameaçados e assassinados no Iraque por estarem supostamente violando a santidade da mulher muçulmana; e por outro lado, eles estão sendo assassinados por não circuncidarem as garotas. De alguma forma, para os militantes, medicina preventiva e cuidados médicos são considerados violações às mulheres muçulmanas, mas cortar parte da sua genitália não é. Como é isso exatamente, se não se trata mesmo de ódio às mulheres?

No blog Regular Comments Based on Issues Raised by BBC World Have Your Say, Abdelilah [6] discute a discrepância entre a punição por estupro na Arábia saudita e nos Estados Unidos:

In Saudi Arabia there was a strange incident in which woman who was a gang-rape victim who was sentenced to 200 lashes and six-months in jail. Seven men from the majority Sunni community were found guilty of the rape and sentenced to prison terms ranging from just under a year to five years. While a rapist is prosecuted and the victim is compensated, here we have the case of both parties subjected to punishment. This is worse than punishing a person simply on intent. At least the would-be victim will be spared being hurt by the aggressor and “disciplined” by the law.
To make a comparison, former heavyweight champion Mike Tyson was sentenced to six year imprisonment, of which he served three years for rape, although the victim was with him in his hotel room at 02:00 a.m. So in Saudi Arabia, instead of the young women being fairly treated and receiving counselling, she is thrown in prison as a criminal.

Na Arábia Saudita, aconteceu o mesmo incidente estranho, no qual uma mulher, vítima de estupro por uma gangue, foi punida com 200 chicotadas e seis meses de prisão. Sete homens, de maioria Sunita, foram sentenciados culpados pelo estupro e condenados à prisão, com penas que variaram entre menos de 1 ano a 5 anos. Enquanto que um estuprador é processado e a vítima é compensada, aqui, nós temos casos em que ambas as partes são punidas. Isso é pior do que punir uma pessoa simplesmente porque quer. Pelo menos a suposta vítima será poupada, ao ser machucada, pelo agressor e “disciplinada” pela lei.
Para fazer uma comparação, o ex-campeão da categoria peso-pesado, Mike Tyson foi condenado a seis anos de prisão, dos quais cumpriu três anos, por estupro, embora a vítima estivesse com ele em seu quarto de hotel, à 2 horas da madrugada. Então, na Arábia saudita, ao invés da jovem mulher ter sido tratada justamente e receber orientação, ela é jogada na prisão como uma criminosa.

Finalmente, e um pouco mais descontraído, um post de A Moro in America [7], sobre um debate sobre um site popular americano-marroquino Wafin [8] o desejo dos homens marroquinos de casarem com mulheres mais jovens. Adil cita uma parte da discussão, compartilhando também seus próprios comentários. Aqui vai uma seleção:

A female by the screen name of Lamiaafikri lashes out at the “male supremacy and ignorance” :

“Posted By: lamiaafikri

I can't help but notice that in almost every ad. about trying to find the other half, the guys are requesting younger women. Seriously, what and who gives you guys that right?, and what's the reasoning if any behind it? well beside arrogance, ignorance and male supremacy???
I am yet to hear a smart, selfless ,convincing answer from either a man or a woman.Please, try to really think about it! thanks”

A male reader got technical on Lamiaafikri and started talking about Guess, Omega and all the clock-ticking that comes with a female body. He also believes Islam promotes timeliness and watching clock-ticking bodies :
“Posted By: freddie mercury

Hi there, the answer to your question lies in a science called biology, a religion called Islam and a concept called the biological clock. Hope you get it.”

Another reader said the world is not fair and everyone is free to pick his own number:
“Posted By: laamiri1
men in general like younger woman, and our culture allows it
but what u can do is post an ad for yourself and request men within ur desired age bracket and stop insulting and being too concerned about other's preferences .
mr.s”

Uma mulher cujo pseudônimo é Lamiaafikri ataca violentamente “a supremacia e ignorância masculina”:

Postado por: lamiaafikri

Não posso deixar de perceber que em quase todo anúncio sobre a busca pela alma gêmea, os homens estão procurando por mulheres mais jovens. Sério, o que e quem dá esse direito aos homens? E qual a razão por trás disso? Bem, além da arrogância, ignorância e supremacia masculina??? Ainda estou para ouvir uma resposta inteligente, desprendida e convincente ou de um homem ou de uma mulher. Por favor, pensem sobre isso! Obrigada!

Um leitor do sexo masculino interpretou literalmente as regras de Lamiaafikri e começou a falar sobre conjecturas, velocidade angular e todos os sinais dos tempos que chegam com o corpo feminino. Ele também acredita que o Islam promove ocasiões e assiste o sinal do tempo dos corpos: “Postado por: freddie mercury”.

Olá, a resposta para a sua pergunta está em uma ciência chamada biologia, uma religião chamada Islam e um conceito chamado relógio biológico. Espero que você entenda.
Um outro leitor disse que o mundo não é justo e todos são livres para escolher seu próprio numero: Postado por: laamiri1

Homens em geral gostam de mulheres mais jovens e nossa cultura permite isso, mas o que você pode fazer é postar e anunciar por você mesma pedindo um homem da idade que você deseja e pare de insultar e se preocupar com a preferência dos outros. mr.s”

Creative Commons-foto licenciada por make_change [9].

Matéria de Jillian Cork [10].

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online [11]. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português [12], com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista [13]. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui [12]. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui [14].