Para a maioria das pessoas, presenciar a morte de alguém pode ser uma experiência traumatizante. Entretanto, quando a morte lhe ronda por muito tempo, o acontecimento não chega a ser grande coisa e faz parte de só mais “um daqueles dias”. Foi isso que SudaneseReturnee descobriu após ter passado anos na Europa e ter retornado a Juba, no sul do Sudão, um lugar que testemunhou duas décadas de guerra sangrenta:
“Por muito anos, eu nunca soube por que sempre achei que ia morrer jovem. Em Juba, as pessoas conversam sobre tragédia e morte talvez com mais freqüência do que os europeus conversam sobre o tempo.
… Depois de apenas 2 dias em Juba, aconteceu uma coisa que me chocou. Eu estava sentado com alguns amigos em casa sob o céu da noite.
… então ouvi gritos que pareciam de dor, confusão ou pavor.
… Foi um acidente… A cabeça dele estava totalmente deformada… parecia que ele tinha morrido instantaneamente quando alguma coisa bateu nele. Aí ouvi alguém dizer que havia outra pessoa morta.
… Ele claramente parecia morto, mas algumas pessoas ainda se ajoelhavam para sentir o pulso e sem nenhuma emoção dizer “aaah, de intaaha!” (esse já era!)
… Eles eram irmãos por parte de mãe!
… As pessoas lentamente se dispersaram … para a maioria delas, era somente mais um dia em Juba. Para a mãe e para mim, esse dia nunca será esquecido”.
SudaneseReturnee se sentiu mal. Ele procurou pelo Dr. Konyokonyo mas não o encontrou na clínica, talvez porque estivesse ocupado escrevendo um post sobre priorizar questões de saúde no sul do Sudão:
“Como vocês escolhem quais problemas atacar primeiro? Quando o GOSS [Governo do Sul do Sudão] chegou, ele prometeu soluções rápidas para um monte de coisas como construir hospitais, clínicas e centros de saúde em locais onde não existissem. Hospitais antigos seriam reabilitados. Foram realizadas pesquisas sobre saúde em todos os estados. O que aconteceu depois?
É triste ver que muitas promessas não foram cumpridas… Precisamos dar prioridade à área de saúde”.
Drima, O Pensador Sudanês blogou sobre como uma criança foi usada numa tentativa frustrada de assassinato:
“Testemunhas oculares disseram que um desconhecido no público entregou um dispositivo explosivo para uma criança e pediu que ela fosse até a tribuna onde Kodi [vice-governador de Kordofan do Sul, Daniel Kodi] estava. No entanto, o dispositivo explodiu antes que a criança chegasse à tribuna.”
Little.Miss.Dalu expressou suas idéias sobre MGF como violência sexual:
“Dei o título “MGF como Violência Sexual” para esta entrada, porque acredito que a mutilação genital feminina seja um ato de violência contra a sexualidade da mulher. O ato a torna um objeto, seu corpo é aviltado e sua sexualidade é violada (silenciada, removida, menosprezada). Seu corpo, um objeto feito para o prazer de outra pessoa (seu marido). Trata-se de controle, sob o disfarce de “proteção da pureza””.
Wholeheartedly-Sudaniya perguntou: “Darfur: quem quer a paz?”
“… Um ataque dos rebeldes que matou pelo menos 10 membros da missão de paz numa base do exército da União Africana na região de Darfur, no Sudão, provocou condenação internacional.
(fonte)
O que será que os sudaneses de Darfur têm a dizer sobre isso… lá vamos nós de novo… os idiotas egoístas querem parar o processo de paz a qualquer custo…”
Sudanese American comentou a respeito da recente repressão de Cartum ao Movimento pela Libertação do povo do Sudão [SPLM, sigla em inglês]:
“Isso é o tipo de coisa que atrapalha os esforços para manter o Sudão um país unido. Manda um recado errado, não só para os sudaneses do sul, mas também para os do norte. Com eleições parlamentares nacionais daqui a dois anos, a esperança de que um “governo de união” vá abrir caminho para mudanças democráticas e de que o partido governista vá aceitar os resultados das eleições, fica abalada”.
Por último, mas não menos importante, deixem-me terminar este giro pela blogosfera sudanesa de uma maneira simbólica, mostrando o post de Path2hope [Caminho para a esperança] intitulado “Recomeços”:
“Cheguei na Inglaterra, e estou feliz por dizer que o tempo não me decepcionou – o dia estava cinzento e ventoso com pancadas de chuva, exatamente como esperava.
… Amanhã vou pegar um trem para a universidade, Deus sabe o que espero encontrar, mas espero o melhor :) desejem-me sorte”!
Enquanto certamente há coisas boas acontecendo no Sudão, há coisas ruins demais acontecendo. Nós, sudaneses, precisamos de um recomeço.
(texto original de SudaneseDrima)
O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português, com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui.