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Bangladesh: Sob toque de recolher

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Uma onda de protestos começou em Bangladesh em 20 de agosto, depois de uma desavença sem importância causada por comentários feitos por militares durante uma partida de futebol no campus de uma universidade. Um acampamento militar ocupava parte do campus desde a declaração do estado de emergência em 11 de janeiro de 2007. O blogue Raising Voices: Rising citizen Journalism [1] [EN] tem informações sobre essa desavença. Ershad Ahmed mostra algumas fotos [2] do campus da Universidade de Daca onde tudo começou.

Depois a situação piorou. À noite, o campus da universidade tinha se transformado numa zona de batalha, com confrontos intermitentes entre policiais e estudantes e mais de 100 alunos feridos. Os alunos exigiam um pedido de desculpa e a retirada do acampamento militar da universidade.

Os tumultos estudantis continuaram noite adentro e no dia seguinte. A agitação então começou a se espalhar da Universidade de Daca para outras instituições educacionais e outras partes da cidade. Vários veículos foram incendiados, inclusive um jipe militar, e muitas pessoas ficaram feridas. The 3rd world view [3] tem detalhes do segundo dia de protestos.

Os alunos obtiveram uma vitória moral quando, mais tarde naquele dia, o chefe de governo pediu desculpas, o acampamento militar foi retirado e uma investigação oficial sobre o militar envolvido no incidente foi aberta.

Entretanto, a situação não se acalmou. No terceiro dia a violência tinha se espalhado para fora de Daca. Confrontos entre estudantes e polícia e exército país afora, deixaram pelo menos três pessoas mortas e mais de mil feridas. Duas mortes ocorreram em Rajshahi e uma em Chittagong. Um vídeo da CNN mostra [4] a intensidade dos protestos. Dhaka Blog nota [5] que “donos de pequenas lojas e vendedores ambulantes participaram dos tumultos.”

Os detalhes sobre o que desencadeou essa revolta imensa não estão claros no momento. O blogue Drishtipat pergunta [6]: “contra o que os manifestantes estão protestando uma vez que todas as suas reivindicações foram atendidas”? Ele discute algumas possibilidades:

“We have often talked about here the labour unrest, the disconnect of the government with the real people, the inflation– add this to the years of neglect of public interest by previous governments, such massive unrest was predicted but it wasn’t seen to be coming this quickly.”

“Temos falado com freqüência aqui sobre movimentos de trabalhadores, a falta de ligação do governo com o povo, a inflação – junte a isso os anos de negligência com o interesse público de governos anteriores. Uma agitação dessa ordem era esperada, mas não parecia estar tão próxima”.

Alguns comentários sobre o post do Drishtipat sugerem que os distúrbios estavam sendo arquitetados por políticos corruptos que estão na cadeia. Outro comentário diz que “um fim prematuro do governo interino representa um grande perigo para o país”.

O governo reagiu com dureza à agitação impondo um toque de recolher que começou às 8 horas da noite de ontem (22 de agosto) e vai vigorar por período indeterminado. Ele pediu à população que mantivesse a calma e disciplina, e avisou que medidas duras seriam tomadas contra desordeiros. Todas as universidades foram fechadas por período indeterminado e os estudantes tiveram poucas horas para deixar os dormitórios. O primeiro-ministro interino Fakhruddin Ahmed culpou “forças malignas” pela propagação da violência pelo país desde segunda-feira. Addabaj pergunta [7] [bn] “quem são as forças malignas”? Ele lembra aos leitores que essa agitação não teria acontecido se o exército e a polícia não tivessem cometido excessos.

A imposição do toque de recolher causou sérios transtornos à vida de cidadãos comuns. As pessoas tinham pouco tempo para retornar às suas casas depois de sair do trabalho. Com a limitada quantidade de meios de transporte público, centenas de milhares de pessoas enfrentaram dificuldade e muitas tiveram que voltar a pé para casa.

Uma sanção severa começou à noite. Bangladesh foi praticamente isolada do resto do mundo. Bangladesh Watchdog relata [8]:

“the authority……switched off mobile phone network, all internet traffic has been routed through state telecom, imposed blanket media censorship, arrests and raids of suspects of the “evil force” as well as pro-democracy activists.”

“a autoridade…..desativou a rede de telefonia móvel, todo o tráfego da internet foi roteado através da empresa de telecomunicações do estado, foi imposta censura à mídia, foram realizadas incursões e suspeitos das “forças malignas” assim como ativistas pró democracia” foram presos”.

O exército prendeu muitos jornalistas, inclusive o jornalista-blogueiro Biplob Rahman [9] [bn], quando eles voltavam para casa durante o toque de recolher. Doze deles, incluindo Biplob Rahman, foram liberados mais tarde. Third Eye Blog pergunta [10] [bn] “por que as forças de segurança os detiveram se foi anunciado que as pessoas com emprego poderiam voltar para casa”?

E-Bangladesh [11] começou a dar as últimas informações sobre a situação via podcasts em intervalos regulares através de seu correspondente no campus. Trechos de uma transcrição:

“* The army and police are now on with a house to house raid inside the campus with a list of student leaders and teachers to be detained. A large number of university teachers have left their university residences for safe locations outside the campus.

* Businesses & houses owned by cabinet members of the interim government came under attack in Dhaka.”

“* O exército e a polícia estão agora fazendo incursões de casa em casa no campus, com uma relação dos líderes estudantis e professores que devem ser presos. Muitos professores universitários deixaram suas residências e foram para locais seguros fora do campus.

* Estabelecimentos comerciais e casas de membros do ministério do governo interino estão sendo atacadas em Daca”.

Com a auto censura da mídia, os blogueiros assumiram a tarefa de informar ao mundo a situação. As plataformas de blogues como Somewhere In “Bandh Bhanger Awaaj [12]” [bn] e Sachalayatan [13] [bn] estavam repletas de posts e comentários, sem medo.

O acesso à internet ficou bem reduzido por volta da meia-noite e o número de posts diminuiu na blogosfera de Bangladesh. Sem poder usar os celulares, as pessoas retidas não conseguiam se comunicar com suas casas. O fluxo de informações estava severamente limitado.

Os celulares e a internet voltaram a operar esta manhã, mas os canais de televisão e rádio estão em silêncio sobre a situação. Jornais on-line não estão sendo atualizados. The 3rd world view [14] resume algumas das últimas atualizações dos blogueiros. O jornalista Arafatul Islam diz [15] [bn]:

“* The internet connections were out from 1:30AM at night. Limited connections were live at around 9:30 AM. Some say BTTB servers (state controlled internet gate away) were down. Some say the link to submarine cable was snapped. Some say ISPs ceased to serve their client on Government’s instructions.

* Today even Rickshaws are not allowed. Journalists, employees or businessmen are not allowed to commute. So almost everyone is preferring to stay at home.”

“* As conexões de internet ficaram indisponíveis a partir de 1:30 da madrugada. Um número limitado de conexões voltou por volta de 9:30 da manhã. Alguns dizem que os servidores da BTTB (provedor de acesso à internet controlado pelo estado) estavam fora do ar. Alguns dizem que a conexão com o cabo submarino estava interrompida. Alguns dizem que provedores de internet pararam de servir seus clientes seguindo instruções do governo.

* Hoje até riquixás estão proibidos. Jornalistas, empregados ou homens de negócios não podem usar meios de transporte para ir ao trabalho. Então quase todo mundo está preferindo ficar em casa”.

O jornalista Faisal escreve [16] [bn] que o toque de recolher foi suspenso das 16:00 horas às 19:00 horas de hoje (hora de Bangladesh) .

Em The Gang, Naira aponta para outra realidade [17] preocupante:

What’s really bothering me is the impediment to the flood relief work, as it is we’re not being able to reach every one.”

“O que realmente está me incomodando é o impedimento ao trabalho de ajuda às vítimas das enchentes, do jeito que está, não estamos conseguindo alcançar todo mundo”.

Para mais detalhes e notícias atualizadas, os blogues citados acima podem ser um bom começo.

(texto original de Rezwan [18])

 

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online [19]. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português [20], com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista [21]. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui [20]. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui [22].