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Bush no Brasil e o Etanol: O Debate na Blogosfera

Categorias: América do Norte, América Latina, Brasil, Estados Unidos, Venezuela, Arte e Cultura, Meio Ambiente, Política, Relações Internacionais

 

Bush in Sao Paulo [1]

Fonte: CMI Brasil

A rápida visita do presidente norte-americano George W. Bush ao Brasil na semana passada provocou grande e diversa reação na blogosfera local. Os protestos e demonstratções ocorridos na Av. Paulista foram inicialmente os aspectos mais destacados pela cobertura da mídia, mas como veremos abaixo, outras perspectivas estão sendo apresentadas e debatidas. O acordo de cooperação sobre biocombustíveis, que se mostrou a principal pauta da visita, influenciou diretamente o clima do debate online levando os blogs a explorar novas abordagens além do costumeiro ‘fora Bush‘. Portanto muitos observadores descobriram novas e interessantes questões a explorar além do usual ataque a Bush. O presidente venezuelano novamente conseguiu ser protagonista mesmo à distância, fazendo com que suas performances estivessem sempre presentes na cobertura da mídia. Entretanto, um crescente número de blogs têm demonstrado preferência por uma política externa mais pragmática e livre de conceitos ideológicos, com os Estados Unidos em particular e com o mundo em geral. Lula parece estar também ouvindo estas vozes.

No meio de tanto transtorno, como pudemos perceber pelos jornais impressos e televisivos, percebi algumas incoerências… Impressionante ver brasileiros indo às ruas queimar bonecos representando tal presidente, tacar pedras e paus em seus compatriotas (os guardas) e incitar a raiva aqui (No Brasil?) e fazer manifestações com faixa sobre as atrocidades das guerras contra o Iraque, Afeganistão e as divergências claras com nossa vizinha Venezuela… Acho que se tal presidente veio ao nosso país fazer negócios, deveríamos aplaudir e incentivar tal ação… Deveríamos deixar para gastar nosso tempo e forçar para lutar pelo nosso país, e não contra esse Presidente. Ninguém vê nos Estados Unidos ou Europa passeatas contra a Fome e o Desemprego no Brasil…Vamos cuidar do que é nosso para um dia poder pensar em ajudar alguém, ao invés de ficarmos como xiitas sem bandeira, que além que retrógrado expõem a ignorância do povo. Abraço à todos e aproveitando a visita do grindo, Open your mind!
Xiitas sem bandeira [2] – Carlos M. Cunha Blog

É uma pena que esses sejam os “opositores” de Bush. Quando queimam a bandeira americana, essa esquerda não quer queimar a bandeira do capitalismo, ela quer queimar a bandeira da democracia americana, que é uma democracia que funciona. Por isso, não há nenhuma simpatia minha pelos idiotas que estiveram hoje na Av. Paulista. Fiquei com vergonha da cidade hoje, vergonha de ser mostrado no mundo como paulistano, de ver aquele tontos ali, protestando contra o nada, contra o que não possuem a mínima idéia do que é, pois não sabem o que é os Estados Unidos. É uma juventude tola, induzida por “adultos” cujos interesses são sombrios.
Por um amadurecimento político no Brasil [3]Notas de Maurício C. Serafim [4]

Ninguém tem dúvida de que a eleição de Bush e a ascensão dessa quadrilha religiosa ao poder dos Estados Unidos foi prejudicial para todo o planeta, em todos os sentidos. O que devemos começar a ser é pragmáticos e pensar no país: se Bush trouxe alguma boa proposta de acordos comerciais (piada, claro), ótimo. Se não, beba uma cerveja com Lula e volte para casa cuidar do Iraque. Mas não dá para acreditar que em 2007 ainda continuemos culpando “o imperialismo mau” pela nossa incompetência e pela nossa corrupção. A América Latina se tornou uma caricatura que envergonha a todos nós. Enquanto queimamos bandeiras, bonecos e baseados, países da Ásia se desenvolvem sem chorar as pitangas para ninguém. Enquanto a esquerda recreativa faz gincana em frente ao McDonalds e a direita ignorante rouba, a dona Esmeralda segue vivendo num barraco ao lado do Hotel Hilton.
Da nossa eterna hipocrisia [5]A nova corja [6]


A principal diferença que apresenta esta visita de presidente norte-americano ao país é o fato de que, pela primeira vez na história do Brasil, temos a liderança em uma tecnologia que se tornou estratégica em um mundo que busca soluções alternativas para a questão dos combustíveis. E o mais interessante é que todos os outros países (com exceção dos EUA) estão muito atrás neste desenvolvimento. Pensar sobre esta vantagem específica e estudar a melhor forma de fazer bom uso dela parece ser uma linha importante a ser explorada.

Por outro lado, poderíamos dizer que o acordo sobre biocombustíveis com o Brasil pode se tornar uma espécie de resgate político para um presidente americano criticado por sua desatenção com as questões ambientais. Muitos críticos de seu governo consideram que a fixação de Bush em petróleo pode estar na raíz de seus principais erros na Casa Branca, e a súbita mudança em direção aos biocombustíveis pode ser o sinal de uma mudança de curso em seu segundo mandato. De fato, Hugo Chávez deve estar neste momento pensando sobre a enorme conveniência que é para os EUA desenvolver uma parceria com o Brasil onde o principal resultado será o empoderamento de um competidor direto (o ethanol) da principal fonte de recursos da revolução Bolivariana (o petróleo). Entretanto, as questões econômicas e ambientais envolvidas em um experimento global de larga escala na produção e consumo de biocombustíveis ainda precisam ser profundamente avaliadas pelos especialistas, e todos sabemos como as disputas políticas são capazes de dificultar as avaliações técnicas.

Em visita oficial à Argentina, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, faz, desde ontem (8), uma série de críticas à visita do presidente norte-americano, George W. Bush, à América Latina. Para Chávez, o plano dos Estados Unidos de difundir a produção de etanol é “irracional e antiético”. “Pretender substituir a produção de alimentos para animais e seres humanos pela produção de alimentos para veículos para dar sustentação ao american style of life é uma coisa de loucos”, disse ele. Com esse objetivo, segundo o venezuelano, “Bush anda buscando países com grandes extensões agrícolas e com água, como Argentina, Brasil, Índia e China.” Para Chávez, Bush mereceria uma “medalha” por sua “hipocrisia”. “O cavalheiro do norte descobriu a pobreza na América Latina”, ironizou ele, em alusão a uma das justificativas que vêm sendo dadas por Bush para seu plano de difundir o etanol. “Eu creio que é preciso dar ao presidente dos Estados Unidos a medalha da hipocrisia por ter dito que está preocupado com a pobreza na América Latina.”
Chávez enlouquece e diz que produção de Etanol é antiético [7]Acerto de Contas [8]

“se o Bush baixar as taxas para o etanol brasileiro, e se o Japão também se firmar como grande importador do combustível, há grandes chances da tese deste artigo se comprovar. Já há grandes grupos internacionais comprando usinas de álcool aqui no Brasil. Se for mais lucrativo plantar cana, então a área cultivada para os alimentos diminuirá. Menos oferta de alimentos, puxa o preço para cima.” Será então que a cruzada pró-biocombustível seria, na contramão, um anti-Fome Zero? Seria o Fome Máxima? Não sei até que ponto isso é alarmismo, má-fé, paranóia ou mistificação.
Paranóia, mistificação e delirium tremens [9]Futebol, política e cachaça [10]

Há quem avalie que o País só tem algo a ganhar se o acesso do álcool obtido à base de cana-de-açúcar ao mercado norte-americano, onde o produto é feito a partir do milho, for facilitado. Trata-se de uma meia-verdade. De fato, a redução dos impostos exigidos quando o produto entra no mercado americano, o principal pleito brasileiro, permitiria um aumento das exportações. Mas a produção brasileira está longe de ser grande o bastante para saciar a demanda potencial dos EUA por etanol, e o que dirá as necessidades do restante do mundo. Parcerias na área de desenvolvimento de novos processos para fabricar biocombustíveis – com o uso de resíduos vegetais, por exemplo – podem ser até mais bem-vindas do que um corte nas tarifas. Os estudos representam a diferença entre criar mais vagas para cientistas e pesquisadores ou apenas aumentar o recrutamento de cortadores de cana-de-açúcar – a parcela menos qualificada dos trabalhadores da cadeia de produção. Os resultados desses esforços podem permitir aproveitar melhor as vantagens naturais só encontradas abaixo da linha do equador.
Jogo Pesado no Tanque [11]Desabafo Brasil [12]

Então não é que o sacana do Bush, sim, o das petrolíferas, o inimigo declarado do planeta, quer diminuir a dependência do petróleo, reduzindo à pobreza os povos oprimidos que o vendem, como a Venezuela, o Irão, Angola, etc? E de caminho fazer subir o preço da cana do açúcar e do milho, condenando à fome milhões de desapossados e fazendo aumentar o preço da cachaça e das pipocas. O homem é diabólico e a sua cabeça está sempre a congeminar maldades. Felizmente temos símios à solta nas ruas, a fazer cabriolas indignadas para o “denunciar”, superiormente orientados pelo supremo tiranossauro de Caracas. Abaixo o ethanol, viva o petróleo “bolivariano”! Ethanol é reaccionário, petróleo é revolucionário!
Abaixo o etanol e o Bush [13]O Triunfo dos Porcos [14]


No meio disso tudo podemos ver o presidente Lula cada dia mais confortável diante dos desafios de seu segundo mandato, seja em assuntos domésticos ou em questões de política externa. As pesquisas de opinião continuam emitindo sinais positivos de aprovação, apesar de uma mídia local sempre pronta para criticar cada um de seus movimentos. Neste sentido, parece que o acalorado debate recente sobre a ideologia anti-americana praticada pelo Itmaraty [15] tornou-se obsoleto em tempo recorde.

Pesquisa do Instituto Ipsos revela que o presidente Lula é o chefe de Estado mais bem avaliado e George W. Bush, o mais rejeitado, na opinião dos cidadãos da América Latina. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, que teve acesso ao relatório da pesquisa, o instituto concluiu que Bush está “tomando emprestada” a popularidade de Lula para marcar presença no continente. O estudo revela que Lula tem um saldo (imagem positiva menos imagem negativa) de 36 pontos porcentuais no Brasil, 39 na Bolívia e 37 no Peru, enquanto Bush tem saldo negativo de 43 na Bolívia, 55 no Brasil e 3 no Peru. Lula e Bush têm, respectivamente, 55% e 32% de aprovação entre seus eleitores.
BBB de fato [16]Blog do Roberto Leite [17]

Estão aí, escancarados, todos os sinais de que a política externa no segundo governo Luiz Inácio Lula da Silva sofreu um ajuste fino em relação ao primeiro quadriênio. Errou quem acreditou estar em alta no Itamaraty um suposto antiamericanismo [18] (maior do que o habitual na instituição). O que se passa é o contrário. É uma aproximação estratégica com os Estados Unidos. O primeiro sinal foi a adesão imediata do Brasil ao conjunto de países que sancionaram o Irã por afrontar as determinações da ONU sobre o programa nuclear iraniano [19]. Agora, vem o alinhamento entre Brasília e Washington na política para o álcool combustível. O Brasil será um pilar central da tentativa estadunidense de depender (e fazer o mundo depender) menos do petróleo [20]. Ou seja, depender menos do Oriente Médio, da Nigéria e da Venezuela.
Que anti-americanismo? [21]Blog do Alon [22]

Depois de dois anos criticando o anti-americanismo da política externa brasileira, agora o jogo virou: serão mais dois anos criticando o americanismo da política externa do Lula. E ele que não ouse a neutralidade, senão serão dois anos criticando a indefinição da política externa do Lula.
Se ficar, o bicho pega… [23]Luis Nassif Online [24]


Como resumo final chamamos a atenção para as decisões concretas que irão formatar os resultados do acordo Brazil – Estados Unidos de cooperação em biocombustíveis. As apostas e interesses acoplados à política podem ser medidos pelos nomes que estão sendo alistados para participar destas decisões.

George W. Bush vem fazer duas coisas na América Latina, as duas têm igual importância em sua política externa e uma não tem nada a ver com a outra. A primeira é assuntar o assunto etanol. A segunda é ver se consegue neutralizar a presença de Hugo Chávez na região. É papo de alto nível. Bush vem e fica pouco. Quem já veio e continuará vindo para reuniões muito mais discretas é outro Bush. O irmão, Jeb, que foi governador da Flórida. Etanol virou assunto de família. Prioridade.
Yankees go home? [25]no mínimo weblog [26]

Estão no Conselho, que visa a estimular a adoção dos combustíveis agrícolas, Luis Alberto Moreno, anglo-colombiano que foi eleito em 2006 presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento por pressão dos EUA; Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura do primeiro mandato de Lula e figura proeminente na estratégia da Monsanto de introdução de commodities agrícolas transgênicas no Brasil; Donna Hrinak, ex-embaixadora dos EUA em Brasília, Jeb Bush, irmão do presidente estadunidense e ex-governador da Flórida; e Junichiro Koizumi, ex-primeiro Ministro do Japão. Pelo quilate dos apoiadores da disseminação do etanol, é possível imaginar o grau de envolvimento que eles têm com os governos de seus países.
A aliança Brasil-Eua [27]Outra Globalização [28]